Procedimento #6 chega à Capital nesta sexta-feira

Foto: Helton Perez/Vaca Azul
Foto: Helton Perez/Vaca Azul

Espetáculo e oficina gratuitos exploram a relação entre dança, corpo e tecnologia no interior e na Capital

 

Depois de passar pelas cidades de Dourados e São Gabriel do Oeste, o projeto “Lugares para Existir: Procedimento #6” desembarca na capital sul-mato-grossense com uma programação gratuita. A circulação inclui a apresentação do espetáculo “Procedimento #6”, marcada para sexta-feira (12), às 19h, no Teatro Sesc Cultura, e a oficina “Procedimentos de Investigação em Arte/Corpo/Tecnologia”, que será realizada no sábado (13), às 9h, na Ginga Espaço de Dança. Idealizado pelos artistas da dança Jack Mourão e Reginaldo Borges, o projeto contempla quatro cidades do estado e segue ainda para Três Lagoas, em setembro.

O espetáculo “Procedimento #6” propõe um diálogo entre corpo, dança e tecnologia, explorando os limites entre o real e o imaginário. A obra aciona paisagens poéticas em que a imagem é tratada como uma “memória de memórias”, distorcendo o visível e provocando o espectador a refletir sobre o efêmero e o desaparecimento. Mourão e Borges utilizam gestos e vestígios como ferramentas de criação, compondo cenas que tensionam tempo, presença e identidade no espaço cênico contemporâneo.

Foto: Helton Perez/Vaca Azul

Além da performance, a oficina investiga práticas corporais e suas interações com dispositivos tecnológicos, focando na ideia de “evento” como elemento transformador. A proposta é pensar o corpo como agente de mudança e experimentação estética. Em Campo Grande, a apresentação do espetáculo também integra a Mostra Palco Giratório do Sesc MS, maior projeto de circulação de artes cênicas do Brasil, e contará com recursos de acessibilidade, como audiodescrição e intérprete de Libras.

Foto: Helton Perez/Vaca Azul

Tecnologia, dança e corpo

Para a artista Jackeline Mourão, a motivação para criar o projeto “Lugares para Existir” nasceu do desejo de circular com o espetáculo dentro do próprio estado de Mato Grosso do Sul. Após ter passado por 21 cidades brasileiras por meio do Palco Giratório, o maior circuito de artes cênicas do país, os artistas sentiram a necessidade de retornar ao seu território de origem.

“Tínhamos esse anseio de levar o trabalho para o nosso próprio estado, de estar mais próximos das pessoas daqui.Levar a obra para além dos grandes centros, é também uma forma de fortalecer o acesso à arte contemporânea em regiões muitas vezes afastadas da cena cultural dominante, promovendo encontros potentes e ampliando o diálogo com diferentes públicos”, afirma Jackeline.

O espetáculo se desenvolve em uma improvisação constante entre corpo e máquina, em que a tridimensionalidade e a sensação de realidade são colocadas em jogo. O maior desafio, afirma, está em manter o equilíbrio entre os elementos. Para Reginaldo Borges, um dos idealizadores de “Procedimento #6”, a intersecção entre corpo, dança e tecnologia se constrói em cena como um laboratório de pesquisa vivo, onde nenhum elemento domina o outro.

“A tecnologia é compreendida como tudo aquilo que nos ajuda a agir, do figurino ao sensor de movimento, do corpo às imagens projetadas.Nem o corpo controla totalmente o software, nem o software controla o corpo. Ambos estão sujeitos a falhas, e é essa incerteza que torna o espaço cênico dinâmico e pulsante”, explica Reginaldo.

Foto: Helton Perez/Vaca Azul

O corpo fala

Para Reginaldo os temas centrais de “Procedimento #6” (como vestígios, memórias e o efêmero) não seguem uma narrativa linear, mas emergem a partir das inquietações e processos pessoais dos artistas em cena. Enquanto Jackeline investiga o movimento e a improvisação, Reginaldo explora a relação entre corpo, câmera e dispositivos tecnológicos, como sensores e elementos sonoros.

“O trabalho não conta uma história, ele fala dos nossos fazeres, pensamentos e desejos. A cada apresentação, o público também traz suas próprias experiências e transforma esse experimento conosco, tornando-o um acontecimento único e vivo. A combinação desses recursos permite alterar a realidade em tempo real, criando um diálogo entre corpo e imagem, passado e presente.”, destaca Reginaldo.

Segundo Jackeline, o espetáculo “Procedimento #6” cria em cena um ecossistema sensível e não hierárquico, onde corpo, dança, luz, som e dispositivos tecnológicos coexistem com a mesma importância. A proposta é dissolver a ideia de protagonismo entre os elementos, permitindo que todos contribuam igualmente para a experiência do espetáculo.

“Procuro criar um espaço onde corpo e sensor tenham a mesma importância. Essa interseção me leva a refletir sobre tempo, memória e desaparecimento, onde a imagem vira uma memória do corpo em cena. Com o Reginaldo operando os dispositivos em tempo real na ilha de edição, cada apresentação se reinventa, tornando a efemeridade parte essencial da criação”, afirma.

Performáticos: Jackeline Mourão e Reginaldo Borges são os idealizadores do espetáculo “Procedimento #6” – Foto: Helton Perez/Vaca Azul

Interior e Brasil

A circulação do espetáculo Procedimento #6 por cidades de Mato Grosso do Sul tem gerado trocas intensas com o público. Após passar por festivais no Brasil e no exterior, o projeto retorna ao Estado de forma acessível e gratuita. Nascido na sala de um apartamento, já ocupou praças, teatros e espaços públicos, ganhando novos sentidos ao reencontrar públicos do interior e da Capital.

“Cada lugar tem sua história, suas especificidades, e essas experiências nos modificam como artistas e como pessoas. As conversas pós-espectáculo, as impressões compartilhadas e o envolvimento do público são combustíveis fundamentais para a continuidade da pesquisa artística, que se alimenta justamente desse contato direto e vivo. A arte e o livre acesso a ela nos tornam pessoas mais sensíveis, mais humanas”, conta Reginaldo.

O projeto ocupa um lugar de resistência dentro da cena contemporânea da dança brasileira. Após circular por diversos festivais, incluindo o MIDI (Festival Internacional de Dança de São Paulo), Jackeline ressalta que o trabalho reafirma a potência da criação fora dos grandes centros. “Sempre fazemos questão de dizer que essa é uma das danças criadas em Campo Grande, uma capital interiorana, mas com a mesma força e relevância das que nascem em polos mais reconhecidos”.

Oficina

A oficina “Procedimentos de Investigação em Arte/Corpo/Tecnologia”, segundo Jackeline, é um espaço de sensibilização onde o público experimenta na prática os dispositivos usados no espetáculo, como sensores de movimento e sons em tempo real. A dinâmica explora a relação entre corpo e música, criando paisagens sensoriais. A artista destaca a boa receptividade e o aprofundamento dos participantes nas temáticas do trabalho.

“As pessoas dizem que nunca tinham visto o espaço daquela forma e que antes viam a tecnologia apenas como equipamentos eletrônicos ou projeções. Na oficina, aproximamos o público da nossa prática, permitindo que experimentem o deslocamento no cenário e o uso dos equipamentos, sempre destacando a tecnologia como um meio para descobrir novas possibilidades durante o processo”, explicam.

O projeto conta com investimento da PNAB (Política Nacional Aldir Blanc), do MinC (Ministério da Cultura), Governo Federal, por meio do edital para projetos culturais voltados para Artes Cênicas da FCMS (Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul), do Governo do Estado de Mato Grosso do Sul.

Serviço: O projeto ´Lugares para existir: Procedimento #6´ apresenta o espetáculo ´Procedimento #6´ na sexta (12), às 19 horas, no Sesc Teatro Prosa (reservas de ingressos pelo Sympla) e, a oficina ´Procedimentos de investigação em arte/corpo/tecnologia´, no sábado (13), às 9 horas, na Ginga Espaço de Dança (rua Brigadeiro Tobias, 956, Taquarussu), com inscrição no formulário disponivel no Instagram do projeto. A programação é totalmente gratuita. Mais informações pelo instagram @procedimento_6.

 

Por Amanda Ferreira

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