Caso Sophia: irmãos da menina seguem “invisíveis” e sem amparo da rede de proteção

Cartazes com foto da pequena Sophia no dia do julgamento - Foto: Marcos Maluf/O Estado Online/arquivo
Cartazes com foto da pequena Sophia no dia do julgamento - Foto: Marcos Maluf/O Estado Online/arquivo

A morte brutal da pequena Sophia Ocampo, em janeiro de 2023, continua deixando marcas profundas em sua família e, principalmente, em seus irmãos. Passados quase dois anos, I.F.L., de 7 anos — filho de Andressa Victória Fernandes Canhete com Christian Campoçano Leitheim — e E.L., de apenas 3 anos, filha de Christian com Stephanie de Jesus da Silva, seguem vivendo sob a sombra do abandono. Invisíveis para a rede de proteção que deveria resguardá-los, enfrentam um cotidiano permeado por instabilidade, traumas e ausência de políticas eficazes.

Andressa Victória Fernandes Canhete carrega sozinha o peso de sustentar e cuidar de um menino diagnosticado com TOD (Transtorno Opositivo-Desafiador) e TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade). Ela relata que os serviços públicos de saúde e assistência social oferecem respostas insuficientes para a complexidade do caso.

“O SUS oferece tratamento pelo Caps, mas não tem suporte para o caso dele [I.F.L]. O Caps não faz os relatórios que a Justiça exige, nem fornece terapia e exames neuropsicológicos. Acabo pagando tudo sozinha. O Conselho Tutelar vem em casa, faz umas perguntas e vai embora. Não oferecem um apoio real. Eu preciso de suporte financeiro, de atendimento especializado, porque meu filho exige atenção 24 horas. E isso me impede de manter estabilidade no trabalho”, desabafa Andressa.

Ela conta que recebeu apoio pontual do Navit (Núcleo de Apoio às Vítimas de Crimes e Atos Infracionais Violentos), mas reforça que o acompanhamento cotidiano, que garantiria qualidade de vida para a criança, nunca veio.

“Meu filho precisa de reforço escolar, de professora especializada. A escola me liga a qualquer hora, e se eu não atendo já ameaçam chamar a polícia, como se eu fosse negligente. Mas eu trabalho, preciso sustentar a casa. É uma rotina cruel e sem recursos para mães de crianças atípicas. A aposentadoria para casos assim é burocrática demais. É desgastante”, acrescenta.

Defesa critica falhas do Estado

A advogada de Andressa, Janice Andrade, que atuou no processo de guarda materna, vê com indignação a ausência de acompanhamento adequado, mesmo anos depois da decisão que devolveu I.F.L. ao convívio da mãe.

“Ele ficou um tempo no abrigo e foi devolvido para a mãe, mas não há estrutura da rede de proteção para garantir um desenvolvimento digno. Toda criança tem direito a uma infância saudável, sem violência física ou psicológica. E isso não está acontecendo. Esse menino foi vítima desde o nascimento, e o Estado falha quando deixa uma criança à própria sorte”, afirma.

Segundo Janice, o tempo de acolhimento em abrigo trouxe estabilidade ao menino, mas a falta de políticas permanentes deixou a família novamente desamparada. “É revoltante. A Andressa também é extremamente vulnerável psicologicamente, resultado das agressões que sofreu do Christian. O laudo do menino aponta ansiedade moderada devido a todos os traumas que viveu. Ele precisa de atendimento contínuo, mas quem paga essa conta é a mãe, sem emprego fixo e sem plano de saúde.”

Violência e negligência

O caso de I.F.L. ganhou repercussão em 2023, quando, após denúncias de agressão por parte do avô paterno, o menino chegou à escola com hematomas no rosto e no corpo. Encaminhado para escuta especializada na Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente, confirmou ter sido agredido. Desde então, passou por períodos em abrigos e longas disputas judiciais pela guarda.

Já sua irmã, E.L., filha de Christian com Stephanie — mãe de Sophia —, continua sob guarda provisória dos avós paternos, apesar de o Conselho Tutelar ter recomendado o acolhimento institucional da criança, temendo por sua integridade física.

Memória de Sophia

Sophia de Jesus Ocampo tinha apenas dois anos quando morreu, em 26 de janeiro de 2023, vítima de agressões do padrasto, Christian, e da mãe, Stephanie. O laudo de necropsia apontou traumatismo na coluna e indícios de violência sexual. A menina havia passado por mais de 30 atendimentos médicos em vida, sinais que poderiam ter alertado para o risco.

Questionado pela reportagem sobre a situação dos irmãos de Sophia e as medidas de proteção em andamento, o MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul) não respondeu até o fechamento desta edição.

Por Suelen Morales

 

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