Bolívia celebra 200 anos de independência com festa cultural na Capital

Foto: Orlando Turpo
Foto: Orlando Turpo

Evento promove integração com danças, música e culinária típica

A cultura boliviana é uma das mais presentes no território brasileiro, especialmente em Mato Grosso do Sul, onde a fronteira com a Bolívia, proporciona um intenso intercâmbio cultural. Ao longo dos anos, a presença boliviana no Estado deixou marcas visíveis no cotidiano da população: na culinária, na música, no artesanato e até no idioma. Essa convivência entre os dois povos formam uma relação de proximidade e respeito, que hoje se reflete em uma das maiores comunidades bolivianas fora do país.

Para celebrar os 200 anos da Independência da Bolívia e reforçar os laços culturais que unem brasileiros e bolivianos, o Centro Cultural da Bolívia em Campo Grande promove, no próximo dia 6 de setembro, um evento especial na Praça Rádio Clube. A programação, que acontece das 16h às 22h, é gratuita e aberta ao público, reunindo uma verdadeira mostra da riqueza cultural boliviana, com apresentações de dança, música ao vivo, coral, gastronomia típica e artesanato.

Com uma programação completa, o público poderá prestigiar apresentações de danças tradicionais como morenada, saya afro-boliviana, tinku, caporales, tarqueada, takirari, pujllay e tobas. Na gastronomia, sabores autênticos como pique macho, salteña boliviana, fricasé, majadito, assadito camba, chicharrón de cerdo e picante de pollo prometem uma verdadeira viagem culinária pela Bolívia.

Espaço cultural

Em entrevista ao Jornal O Estado, o presidente do Centro Cultural Boliviano Tinkuna, Dr. Orlando Turpo, destacou o crescimento da celebração em Campo Grande, que chega à sua quarta edição como parte das comemorações do Bicentenário da Independência da Bolívia.

Segundo ele, o evento, que começou há quatro anos com o esforço de apenas três famílias e poucas apresentações, hoje reúne uma programação completa, com oito danças típicas, sendo duas diretamente da Bolívia. Além das apresentações culturais, a festa contará entre 10 a 15 expositores de artesanato boliviano e cerca de 30 expositores brasileiros.

Na gastronomia, pratos tradicionais como pique macho, salteña, fricassê, majadito e sándwich de chola estarão presentes, reafirmando o evento como um espaço de valorização e partilha das tradições bolivianas em solo sul-mato-grossense.O evento também contará com apresentações dos cantores Carlos Henrique, Ana Cláudia Cassu e Rebert Barboza, além da participação especial do Coral de Idosos do Instituto ACIESP (Associação de Capacitação e Instrução de Economia Solidária do Povo).

“Será uma festa de reintegração e intercâmbio cultural entre nossas irmandades de irmãos fronteiriços. Também estão participando conosco expositores de artesanato e gastronomia brasileira, enriquecendo ainda mais a nossa festa com a junção das duas culturas”, afirma o presidente.

História de Independência

A Bolívia celebra sua independência em 6 de agosto de 1825, marco de um processo histórico que combinou revoltas populares, resistência indígena e articulação das elites locais contra o domínio espanhol. A luta começou com a Revolução de Chuquisaca, em 1809, mas já era precedida por levantes como os liderados por Túpac Amaru II e os irmãos Katari. Durante mais de 15 anos, grupos guerrilheiros conhecidos como republiquetas mantiveram viva a causa libertadora, até a chegada decisiva de Simón Bolívar e Antônio José de Sucre.

Após a independência, o país enfrentou crises políticas, conflitos armados e sucessivos regimes militares, superando apenas nos anos 1980 o ciclo de ditaduras com o retorno da democracia. Hoje, os 200 anos de independência simbolizam não apenas a libertação, mas também a resistência e o orgulho de um povo que segue reafirmando sua identidade, dentro e fora do território nacional.

“Quando ouvimos a data de 6 de agosto, imediatamente lembramos da Independência da Bolívia, uma data muito importante para todos nós, bolivianos. Inicialmente, íamos comemorar em agosto, mas como a Rádio Clube estava fechada para reformas, decidimos adiar a celebração para o dia 16 de setembro. Essa festa é um momento de saudade da nossa terra e, ao mesmo tempo, de alegria, pois marca o dia em que conquistamos a liberdade”, destaca Orlando.

Cultura predominante

Dados da Polícia Federal de março de 2024 revelam que Mato Grosso do Sul abriga atualmente 31.916 imigrantes com residência ativa. Os bolivianos ocupam o terceiro lugar entre as maiores comunidades estrangeiras no estado, com 3.392 imigrantes oficialmente registrados. À frente estão os venezuelanos, com 10.827 residentes, e os paraguaios, com 9.789, liderando o ranking.

“Mais do que uma celebração, o evento é um importante momento de integração, resgate das raízes e fortalecimento dos laços comunitários, além de funcionar como uma vitrine para divulgar a cultura boliviana à sociedade campo-grandense”, detalha.

O Centro Cultural Boliviano em Campo Grande começou de forma modesta, com a participação de apenas três a cinco famílias, mas hoje já reúne cerca de 15 a 20 núcleos familiares, refletindo o crescimento e fortalecimento da comunidade. A festa anual promovida pelo grupo vem ganhando destaque, reunindo de 50 a 100 bolivianos e oferecendo ao público uma rica mostra da cultura do país, com gastronomia típica, danças e outras expressões artísticas.

Apesar da existência de uma praça da Bolívia em Campo Grande, membros da comunidade relatam que o espaço não representa, de fato, a cultura boliviana. Segundo o presidente, a praça foi criada em uma gestão anterior, com apoio da senhora Ingra, uma das fundadoras da irmandade local, mas com seu falecimento, a presença boliviana no local enfraqueceu.

“Hoje, não vemos ali nossa gastronomia, nosso artesanato, nossa identidade”, relata.

Raízes

Integrante do Centro Cultural Boliviano, a migrante Susan Gomez Chambi destaca a mobilização da comunidade para fortalecer sua presença em Campo Grande. Segundo ela, há um esforço coletivo para criar um espaço próprio que permita a realização de eventos mensais ou trimestrais, voltados à celebração da cultura boliviana e à geração de renda por meio da venda de produtos típicos.

“A celebração já faz parte do calendário oficial de festas de Campo Grande, por meio da Lei Ordinária nº 7.055/2023. Para nós, é essencial manter viva a tradição, divulgar nossa gastronomia e promover o folclore boliviano no Brasil. Queremos que Campo Grande continue sendo palco para a cultura boliviana, onde nossas danças, sabores e tradições possam ser celebrados e compartilhados ano após ano”, afirma. “Assim, mantemos viva nossa identidade e contribuímos para o enriquecimento cultural da cidade.”

Questionado sobre a importância de celebrar o Bicentenário da Independência da Bolívia em Campo Grande, um dos representantes da comunidade destacou o valor simbólico e afetivo da data. “Para nós, celebrar o Bicentenário aqui em Campo Grande é motivo de muita emoção e gratidão. É uma forma de honrar nossas raízes, mostrar nossa história e compartilhar com o povo brasileiro a riqueza da nossa cultura”.

Susan finaliza destancando que, a comemoração funciona como uma ponte que aproxima os dois povos, reforçando os laços de amizade, respeito e integração. “Mostramos que juntos construímos uma cidade mais diversa e acolhedora. Nossas raízes são bolivianas, mas também somos campo-grandenses, que gritam ‘DO SUL’ com a mesma emoção de quem nasceu aqui”.

Serviço: A Festa do Bicentenário da Independência da Comunidade Boliviana será realizada na próxima sexta-feira, dia 6 de setembro, na Praça Rádio Clube. A entrada é gratuita e o evento acontece das 16h às 22h.

 

Amanda Ferreira

 

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