“Entre o urbano e o íntimo”

Foto: Divulgação
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Grafiteira leva para a Casa de Cultura exposição com olhar próprio sobre a paisagem urbana

A partir desta quinta-feira (4), a Casa de Cultura de Campo Grande recebe a exposição ‘Entre o urbano e o íntimo” da artista visual, professora e grafiteira Marilene Grolli. A mostra propõe ao público uma imersão no universo criativo da artista, que une uma narrativa visual repleta de cor, sensibilidade e questionamentos sobre a arte e seu papel na sociedade.

Estará presente na mostra, obras que contemplam diversos estilos e técnicas desenvolvidas ao longo da pesquisa da artista, com linguagens urbanas entrelaçadas aos pensamentos mais íntimos de sua produção.

Para o Jornal O Estado, ele explica que a exposição surge de um diálogo entre o que é público e o que é pessoal em sua vida. “O urbano é justamente essa coisa que você compartilhar algo que é íntimo seu com todo mundo. E essa é uma característica muito presente no meu grafite, que é uma arte de doação, onde você doa parte de quem você é, do seu diálogo, da sua conversa, para um público que você nem tem acesso, que você nem sabe quem vai ter contato direto com essa obra”.

A dualidade entre os conceitos de ‘urbano’, e ‘íntimo’, se materializam nas obras por meio de um processo criativo sensível. “A arte urbana tem tudo a ver com a minha vida, te der vindo das ruas. E hoje, trago a rua através do grafite, do movimento hip-hop, da expressão urbana. Sou uma artista que faz arte como transmissão interna, de um processo criativo, inventivo, sensível, mas sempre ligado ao meu meio”.

Além disso, Grolli também traz para sua exposição a arte do cartoon contemporâneo, pautado nas críticas sociais. “Eu brinco com essa questão do humor. Trabalho com um humor acido, que fica mais simples de compreender, independente da idade”, explica.

Combinando gesto livre e o detalhe delicado, um equilíbrio que Grolli acredita vir principalmente do uso das cores, feito sem inteção, apenas no calor da produção. “As pessoas comentam comigo que as cores se equilibram. Mas não é proposital! Falo que a cor chama a cor. Quando eu coloco uma cor, eu olho para a minha paleta e a cor chama por ela. É uma coisa meio que instintiva também. Não tem nada de muito racional no meu processo, não. É bem instintivo e sensitivo”, revela a reportagem.

De tudo um pouco

A trajetória de Marilene Grolli transita entre pintura, grafite e curadoria, sala de aula e atual gestora efetiva de artes do Núcleo de Artes Visuais da FCMS (Fundação de Cultura de Mato Grosso do sul) desde 2006. Desde a infância, demonstra afinidade pelas artes visuais, mas sua vivência artística abrange teatro e outras expressões, consolidando uma base diversa que sustenta sua produção atual. Segundo ela, o trabalho de curadoria é um dos elementos centrais de sua identidade artística. “Ter acesso à arte de vários outros artistas do país e do mundo, não só aqui do Estado, abre minhas possibilidades de olhar, me faz valorizar muito mais o meu processo criativo e não ter nenhum tipo de amarra”, afirma. Para a artista, a liberdade de expressão é essencial: “Se a arte tem a necessidade de sair para fora, a gente precisa justamente colocar.”

Essa experiência, combinada com a atuação em workshops, cursos, oficinas e projetos comunitários, fortalece seu processo criativo. Ela destaca que ensinar técnicas, montar portfólios e organizar exposições não apenas amplia o conhecimento de outros artistas, mas também enriquece seu próprio trabalho. “A arte é parte de quem você é. E tudo que você vive relacionado a esse meio se apresenta, visualmente, através do seu trabalho”, conclui.

Além do arquitetura

Com uma gama de culturas fervilhando em Campo Grande, a artista acredita que essa mistura é um dos destaques artísticos mais importantes. “Somos uma cidade que tem uma diversidade cultural riquíssima, em todas as áreas: visual, de alimentação, de vestimenta. Acho que essa coisa mista que nós temos aqui é o mais importante. Isso nos torna rico culturalmente, porque abraçamos todas as culturas. Esse é o ponto forte da nossa cidade”.

A artista ressalta que o papel da arte vai muito além da visibilidade atual. “A arte é a cultura, ela faz parte de quem você é, da identidade de uma comunidade, de nós todos, seres humanos”, afirma. Segundo ela, a arte é parte da vida e da experiência humana: “Nós não somos os monumentos, nós não somos os prédios, nós não somos a arquitetura. Nós somos a carne, nós somos os seres que transformam o ambiente e o meio onde a gente vive”.

Mesmo acreditando que a Capital vive um momento de valorização da arte, Grolli comenta que há falta de espaços expositivos para artistas.

“Nós temos poucas galerias, isso é uma coisa que falta para o artista visual aqui: espaços expositivos, galerias que realmente valorizem os artistas, que ofereçam uma boa divulgação, um cachê. Porque o artista é um artista liberal, ele é um profissional que precisa receber pelo seu trabalho. Editais que paguem o artista como profissional que ele é, financeiramente”, argumenta.

“O artista é o cartão de visita da cidade. Porque a arte visual é a única expressão que qualquer pessoa, de qualquer local do mundo, consegue ler”, finaliza.
Serviço: A exposição ‘Entre o urbano e o íntimo’ estreia nesta quinta-feira (4), na Casa de Cultura (avenida Afonso Pena, 2270), às 19h. A mostra ficará em cartaz até o dia 10 de outubro, com visitação gratuita de segunda a sexta, das 9h às 18h, e aos sábados, das 9h às 12h.

 

Carolina Rampi

 

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