Exposição celebra a arte e a resistência das mulheres sul-mato-grossenses com obras de 14 artistas
A partir do dia 4 de setembro, a Galeria de Vidro em Campo Grande recebe a segunda edição da exposição ‘Corpo Manifesto’, a partir das 19h. A exposição é realizada pelo Coletivo Dorcelina Folador, inspirada nas experiências e vivências de artistas mulheres sul-mato-grossenses.
Com curadoria de Sara Welter, conhecida como SYUNOI, ‘Corpo Manifesto’ apresenta obras de 14 artistas: Erika Pedraza, Veryruim, Kami, Marcia Lobo Crochê, Suelen Rocha, SYUNOI, Thalya Veron, Bejona, Letícia Maidana, Terrorzinho, Da Mata, Ester Rohr, Thalita Nogueira e Vitória Lorrayne.
“As obras que compõe a exposição se reúnem pela temática do corpo. Nesse sentido, as artistas propõem, em diversas linguagens e técnicas, esse tema, em formatos diferentes, com obras em tinta óleo, acrílica, instalações, linhas de crochê, desenho digital, entre outras”, explica Sara.

Foto: Coletivo Dorcelina Folador/Divulgação
No início deste ano o Coletivo realizou a primeira edição da exposição, no município de Dourados. Em Campo Grande, a proposta é ampliar o público da exposição e trazer as obras para um novo aspecto e novos olhares. “Vamos ampliar o catálogo com obras inéditas das artistas e traremos apresentações de mulheres como (A)Seita, coletivo de mulheres do Hip-Hop de Mato Grosso do Sul e livepainting com a grafiteira CRUSH”, destaca a curadora.
O Coletivo quer trazer a luz o conceito de manifestação como forma de conexão, para romper impostos no meio artístico, mostrando o corpo como local de voz, cor e luta.
De fio a fio
Uma das integrantes do Coletivo que irá apresentar suas obras na exposição ‘Corpo Manifesto’ é a crocheteira Márcia Lobo. Em suas obras, centradas no corpo feminino, ela derrama suas vivências e vozes de quem caminha ao seu lado.
“Cada vulva que construo em fios é memória, é dor e é também alegria. São cicatrizes transformadas em beleza, silêncios convertidos em grito, intimidades que se tornam coletivas. No crochê, reencontro a força de tantas mulheres que resistem, cuidam, sonham e insistem em existir plenamente. Meu trabalho é um convite ao olhar sensível, ao reconhecimento do corpo como território sagrado e à celebração da vida que pulsa em cada ponto”, disse ao Jornal O Estado.
“Minhas obras em crochê que têm como centro a representação da vulva. Inspirada por vozes femininas

Foto: Coletivo Dorcelina Folador/Divulgação
como Simone de Beauvoir, que nos lembra que ‘não se nasce mulher, torna-se’, e por artistas como Judy Chicago, que transformaram a vulva em símbolo de arte e poder, busco ressignificar o fazer manual e ampliar o debate sobre feminilidade, sexualidade e liberdade do corpo feminino. Assim como Conceição Evaristo fala das escrevivências, trago minhas ‘fieivivências’, costurando histórias e resistências em cada ponto. Ao transformar fios em símbolos de potência e resistência, reafirmo a arte como manifesto político e poético, onde cada obra é também um gesto de visibilidade e afirmação”, explica.
Longe de apenas ‘artesanal’, Lobo define seu trabalho como “extensão da minha vida, um fio que me sustenta e me atravessa”. Dores, afetos e resistências são pautas para a sua arte. “Diferente de outras linguagens das artes visuais, escolho o crochê como caminho exclusivo, transformando o que é visto como artesanal em manifesto, em obra, em corpo. É nele que encontro potência, é nele que me encontro inteira”, complementa.
Coletivo
O Coletivo Dorcelina Folador traz em seu nome a lembrança de uma mulher sul-mato-grossense silenciada pela violência: Dorcelina Oliveira Folador. Professora, poeta, artista plástica e ativista política, foi eleita para a prefeitura de Mundo Novo em 1999, mas foi assassinada com dez tiros na varanda de casa, a mando de um funcionário da prefeitura e ex-coordenador de campanha, Jusmar Martins da Silva.
“Ele surge para dar voz as mulheres sul-mato-grossenses, visto que o próprio nome do coletivo faz homenagem a uma artista, política e ativista que foi brutalmente assassinada aqui no estado, a Dorcelina Folador. Então nesse sentido o coletivo tem intenção de levar as histórias dessas Mulheres que fazem parte da cultura do nosso estado, através da arte, diz Sara.
Fundadora do coletivo, a artista Érika Pedreza destaca que a primeira exposição em 2020, a última na Galeria de Vidro antes das medidas restritivas da covid-19, então retornar a esse local é muito significativo.
“O coletivo tem o propósito de reunir mulheres cis, trans e pessoas LGBT, todas artistas visuais. Em 2025, expandimos a participação, incluindo artistas de outras áreas, como poesia e música, para tornar o movimento mais contemporâneo e fluido”, explicou.

Foto: Coletivo Dorcelina Folador/Divulgação
Com o fomento da Lei Aldir Blanc, o coletivo pretende realizar mais exposições em 2026, com maior tempo e preparo. “Quem sabe sair do Estado, já que estamos caminhando e tá progredindo cada vez mais”, diz Érika.
A curadora da exposição destaca que, a exposição coloca em pauta assuntos que precisam ser tratados e debatidos, principalmente em relação à mulher e suas violências vividas.
“Toda semana vemos casos de violência, um cenário bem deprimente. Com a exposição e obras das artistas possibilitamos que essa temática seja explorada e relatada por meio das obras, levando questionamentos para o público sobre todas as camadas que falam do corpo”.
Em relação à recepção da exposição pelo público de Campo Grande, a curadora espera que os visitantes não só se sensibilizem, mas também se engajem de forma crítica com as questões trazidas pela mostra. “Espero que o público sul-mato-grossense, mais precisamente, o público campo-grandense, reflita sobre a temática da exposição e entenda essas tantas variáveis e violências que permeiam o corpo da mulher e a mulher dentro da narrativa do estado. E, para além, possam ver a potência e multiplicidade das artistas mulheres que permanecem resistindo e produzindo dentro das nuances que muitas vezes não as deixam falar”.
Serviço: A exposição ‘Corpo Manifesto’ será realizada na próxima quinta-feira (4), a partir das 19h, na Galeria de Vidro, avenida Calógeras, 3015, Centro de Campo Grande.
Por Carolina Rampi
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