Em sua 7ª edição, festival reúne cinco bandas autorais e reforça a força da música independente na Capital
Surgido na década de 1960, nos Estados Unidos, como parte da contracultura, o movimento underground carrega raízes ainda mais profundas, associadas à rebeldia e à resistência simbólica frente às normas culturais dominantes. Essa cultura representa uma forma de expressão artística e ideológica que se opõe diretamente aos padrões comerciais estabelecidos pela indústria cultural.
Diferente do mainstream, que aposta em fórmulas testadas e sucesso previsível, o underground valoriza a autenticidade, a experimentação e o afastamento das lógicas mercadológicas, com produtos direcionados a públicos segmentados e difundidos por meios alternativos.
Seguindo essa lógica, em meio a um cenário cada vez mais dominado por algoritmos, palcos corporativos e consumo rápido, Campo Grande busca manter viva sua veia independente com iniciativas como o Festival Cerrado Alternativo. Em sua 7ª edição, o evento reúne cinco bandas autorais sul-mato-grossenses em uma noite dedicada à música independente e à valorização da produção local.
Marcado para o dia 15 de agosto, a partir das 20h30, no Buteco do Miau, o evento traz ao palco as bandas Fogachos, Impossíveis, A Pedrada, Maestro Lang & A Cozinha Sinfônica e Os Alquimistas. A entrada custa R$15, valor totalmente revertido para os artistas. Criado em 2024, o festival é uma iniciativa independente do músico e produtor Sem Fabios e surge como resposta à escassez de espaços para a cena autoral alternativa em Campo Grande.

Banda Os Impossíveis – Foto: Arquivo pessoal da banda
Bandas participantes
Com mais de 30 anos de estrada, a banda campo-grandense Impossíveis segue firme em sua missão de manter vivo o espírito rebelde e autêntico do punk rock. Para o Jornal O Estado,o vocalista Cebola reforça que a essência do grupo continua intacta:
“Nunca estivemos aqui para seguir regras ou buscar aprovação. O punk sempre foi sobre liberdade, resistência e fazer as coisas do nosso jeito”. Para ele, mesmo diante das dificuldades enfrentadas pela música autoral e independente, o som cru e honesto ainda tem lugar no mundo, sustentado por cada bar que abre espaço para a arte local e por cada pessoa que canta junto nos shows.
Cebola observa com lucidez as mudanças no consumo de música ao longo das décadas. Se antes havia uma sede maior por novidade e pelo som autoral, hoje, apesar do fácil acesso ao conteúdo digital, o envolvimento do público é mais disperso.
“O público fiel ao alternativo ainda existe, mas é menor e mais fragmentado. Por outro lado, quem vai a um show autoral hoje vai porque realmente acredita naquilo e isso cria uma conexão muito mais forte”, pontua. E é justamente essa conexão que torna festivais como o Cerrado Alternativo indispensáveis: além de manterem viva a chama do underground, fortalecem a troca entre gerações e reafirmam a relevância de uma cena que resiste, mesmo fora do radar da grande mídia.
O show dos Impossíveis nesta 7ª edição do festival promete ser um mergulho no passado com os dois pés cravados no presente. O grupo vai apresentar faixas do novo álbum De Volta à 93, um resgate da sonoridade que marcou os primeiros passos da banda. “Queríamos trazer de volta a energia e a atitude de quando tudo era possível com três acordes e muita vontade”, afirma Cebola. No palco, a promessa é de um show visceral, com suor, guitarra alta e punk rock na essência, sem filtros e sem firulas. “Nada de frescura, só som na veia”, resume.Completam a formação Sego (guitarra), Amaury (baixo) e Fabiano (bateria).
A banda Fogachos, formada em 2017 pelos irmãos Vinicius e André Bueno, mistura rockabilly, ska e punk rock, com letras que retratam o cotidiano urbano e frenético. Já lançou diversos singles nas plataformas, como “Nicotina Delirante”, “Surfista do Cerrado” e “Delação Premiada”. “Nos sentimos mais vivos com nossas músicas próprias porque assim colocamos pra fora nossas angústias e o estresse da rotina tediosa do dia a dia moderno. O Cerrado Alternativo é um catalisador para divulgar nossas ideias e músicas”, conta André, guitarrista do grupo. @fogachos
Com seu humor ácido e crônicas noturnas campo-grandenses, o músico Maestro Lang comanda o projeto Maestro Lang & A Cozinha Sinfônica, que mescla punk, blues e rock em uma performance carregada de teatralidade e energia. Após o lançamento do EP A Geladeira Quebrou (2021), com faixas como “Alto” e “Não Sei”, Lang prepara o novo álbum Baby, me espera na esquina, previsto para este ano. “Acredito que esse festival é importante pro cenário musical autoral underground como ferramenta para poder entregar nossa arte e nosso trabalho para um público novo e para os fiéis fãs dos primórdios”, afirma.
@maestrolang.
Os Alquimistas surgiram em 2013 e acumulam passagens por importantes premiações nacionais, como o Prêmio Gabriel Thomaz, em que concorreram com a faixa “Cara Bacana” na categoria “Hit do Ano”, e o Prêmio Dynamite de Música Independente, como “Revelação”. O grupo, formado por Leotta (piano, órgão e voz), Perim (baixo e voz) e Boloro (bateria e voz), aposta em uma sonoridade de garagem com letras ácidas e instrumentação vintage. “O festival é importante porque garante a oportunidade de as bandas mais novas mostrarem seu som. Não são todos os bares que abrem as portas, principalmente pra bandas autorais”, diz Boloro. @osalquimistasoficial.
Fechando o time, A Pedrada traz sua pegada visceral, misturando peso e lirismo com influências do rock nacional e internacional. Nome presente em diversos palcos da cena alternativa de Campo Grande, a banda reforça o caráter coletivo e contestador do Cerrado 7.0. É formada pelos músicos Louis Stanley no baixo e vocal, Evanildo Chamorro na guitarra e Samuel na bateria.
Valorização
Ainda conforme Cebola, estar no underground é mais do que um posicionamento musical, é um compromisso com a liberdade criativa e com a cena local. “Valorize as bandas locais. Valorize os bares que ainda apostam na música ao vivo”.
A cena independente precisa de público, apoio e resistência”, afirma. Ao reforçar que “ninguém sabe por quanto tempo ainda será possível manter esse tipo de arte viva”, o músico deixa claro que ocupar espaços fora do mainstream é também um ato de resistência cultural. E enquanto houver público e palco, o cenário underground da Capital seguirá fazendo aquilo que os move: punk rock de verdade.
Serviço: A 7ª edição do Festival Cerrado Alternativo será realizada em 15 de agosto (sexta-feira), a partir das 20h30, no Buteco do Miau, localizado na Av. José Nogueira Viêira, 1303 – Tiradentes. O evento conta com entrada a R$15.
Amanda Ferreira
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