Os Enforcados chegam à telona com pegada de Macbeth

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Suspense, intrigas e máfia carioca do jogo do bicho são explorados em novo filme de Fernando Coimbra

Nos últimos anos, o Brasil coloca a prova que aqui se faz cinema de todos os gêneros, não só comédias. Do thriller ‘Uma Família Feliz’, até o misterioso ‘Bacurau’, o cinema nacional está colocando as cartas na mesa, e nesta quinta-feira (13), o diretor Fernando Coimbra coloca nas telas o suspense ‘Os Enforcados’, que traz a tona um pouco da vida da prática do jogo do bicho no Rio de Janeiro.

O longa acompanha a vida do feliz casal Regina e Valério, que levam uma vida descontraída na Barra da Tijuca- RJ. Entretanto, após a morte do pai de Valério, o maior mafioso da cidade, eles procuram uma saída do ninho de vespas criminosas que são os negócios da família. Ao mesmo tempo, o casal também possui despesas e dívidas para quitar com o tio de Valério, que insiste que o sobrinho precisa assumir os negócios da família. Numa noite, de forma ‘acidental’, os dois encontram a saída para os problemas: matar o tio e vender o negócio. Mas, ao fazer isso, mergulham ainda mais na violência da qual queriam escapar.

Leandra Leal e Irandhir Santos, dão vida ao casal. O elenco também conta com Irene Ravache, Stepan Nercessian, Thiago Thomé, Pêpê Rapazote, Ernani Moraes, Augusto Madeira e Ricardo Bittencourt. Cabe, de forma louvável, destacar, que o roteiro tem participação da grandiosa Fernanda Torres.

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Dobradinha

Fernando Coimbra não é estreante no cinema, e possui em sua filmografia uma estreia aclamada: ‘O Lobo atrás da Porta’, de 2013, que também possui Leandra Leal no protagonismo. O longa, escrito desde a época universitária de Coimbra, ganhou prêmios de melhor filme no Horizontes Latinos, Festival de Cinema de San Sebástian, de melhor longa por voto popular e de melhor atriz para Leal no Festival do Rio de 2013. Ele também foi indicado ao ‘Directors Guild of America Award’. O filme é inspirado no caso real ‘A Fera da Penha’, de uma mulher que matou uma criança de 6 anos, por vingança contra o amante.

Após o lançamento de ‘O Lobo atrás da porta’, Coimbra conquistou espaço internacional, e chamou a atenção da gigante dos streamings Netflix, que o convidou para dirigir a primeira temporada de ‘Narcos’, com Wagner Moura no papel de traficante Pablo Escobar. A crítica classificou os episódios dirigidos por Coimbra como “os melhores da série”.

Ele também assinou a direção de ‘Castelo de Areia’, em 2017, com Nicholas Hoult e Henry Cavil, que contava a história de soldados norte-americanos que lutam na Guerra do Iraque.
Shakespeare x Brasil

Em entrevista exclusiva para o portal Adoro Cinema, Coimbra comentou como ‘Os Enforcados’, foi criado com nuances de ‘Macbeth’, de William Shakespeare, ao combinar a cobiça e ambição. Para isso, ele resgata a parceria com Leandra Leal e estreia com Irandhir Santos, que colocaram em cena a figura “folclórica” do bicheiro carioca.

“Esse personagem que ascendeu no Brasil, do ‘cidadão de bem’, que paga seus impostos. O que é correto, que é moralmente correto, mas, na verdade, é uma galera muito corrupta […] Então para mim é muito sobre essa elite econômica que a gente tem, que é super corrupta, mas se vende como os exemplos da moral e dos bons costumes”, disse o diretor.

A obra ‘Macbeth’ é uma tragédia que segue o general Macbeth, que, após encontrar bruxas que profetizam que ele se tornará rei (fio conduzido por Irene Ravache na obra brasileria), é consumido pela ambição e influenciado pela esposa, Lady Macbeth, trama o assassinato do rei Duncan, para usurpar o trono.

Shakespeare: Leandra Leal e Irandhir Santos dão vida ao casal. Longa mistura tragédia, humor e violência em uma versão suburbana do clássico “Macbeth” – Foto: Reprodução

Críticas

Para Roberto Honorato, do portal Plano Crítico, o filme consegue mostrar gêneros sem ser cansativo, e utilizar a trama da ‘máfia do jogo do bicho’ de forma inteligente, sem pesar demais.

“Com uma mistura de comédia, drama, ação e thriller policial que poderia ser facilmente estragada na mão de alguém que talvez tratasse o material de forma pretensiosa, ‘Os Enforcados’ não está interessado em debater a condição política e social do Rio de Janeiro com tanta profundidade, apenas utilizá-lo de pano de fundo para enriquecer o lado dramático, o que acaba fazendo dele bem mais interessante e não deixa de levantar uma reflexão sobre a forma como os jogos de poder são uma grande performance na qual fica difícil distinguir entre o que é real ou ficção”.

Leonardo Sanchez, da Folha de S.Paulo, também ressalta as semelhanças com a obra de Shakespeare, mas trazido aos moldes do Brasil, mudado ao longo do tempo devido às reviravoltas políticas vividas nos últimos anos.

“Quando falamos do crime nas bases, muitas vezes falamos de uma galera que não têm opção. São pessoas que são vítimas da pobreza, da miséria, que acontece muito por causa de uma elite que concentra renda e amplia o abismo social. Era nessas pessoas que eu estava interessado, nas dinâmicas de corrupção do país”, disse o diretor.

Miguel Morales, do Arroba Nerd, destaca que a trama beira a loucura, mas uma loucura que hoje em dia se tornou realista.

“Na trama, sempre uma nova informação surge, a cada momento da trama, para mudar tudo que vimos até então, mas, já aviso, nada vai preparar o espectador para que acontece nos momentos finais do filme. Afinal, em Os Enforcados, Coimbra constrói essa narrativa aos poucos, mas sempre de uma forma que faz as tramas, as doideiras e o caos cresçam de forma exponencial ao longo do filme”.

Para quem for no cinema, a dobradinha de Leal com Coimbra pode prender na cadeira devido as ‘brasilidade’ pouco vista nos filmes de máfia.

 

Por Carolina Rampi

 

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