Ministério encaminhou documentação de 15 estabelecimentos brasileiros à Rússia
O setor de pescados, um dos mais atingidos do agronegócio pela sobretaxa de 50% imposta pelos Estados Unidos, está em vias de abrir um novo destino de exportações. O governo brasileiro pediu, na segunda quinzena de julho, pouco antes de o tarifaço americano entrar em vigor, a habilitações para que diversas empresas brasileiras de pescados possam exportar para a Rússia.
O movimento, conforme informações obtidas pela Folha, foi liderado pelo Mapa (Ministério da Agricultura e Pecuária), que centralizou e encaminhou ao serviço sanitário russo, a documentação de 15 estabelecimentos brasileiros interessados em entrar no mercado russo.
Entre as 15 empresas listadas, seis são da região Nordeste, sendo quatro em Pernambuco (três em Recife e uma em Jaboatão dos Guararapes), uma na Bahia (Alcobaça) e uma no Ceará (Fortaleza). As demais são do Mato Grosso do Sul (Itaporã), Paraná (Palotina, Mandaguaçu e São Miguel do Iguaçu), Santa Catarina (Antônio Carlos e Itajaí) e Pará (Bragança).
Agora, cabe às autoridades sanitárias russas analisar os documentos recebidos e decidir sobre a habilitação ou não das empresas. Em paralelo, a Rússia também encaminhou pedidos de habilitação de seus próprios estabelecimentos de pescado para exportação ao Brasil, dentro de um processo de reciprocidade.
O movimento é mais um sinal do esforço bilateral para reforçar o comércio de pescados entre os dois países, no momento em que o setor atravessa uma fase crítica devido à chantagem comercial americana e as ameaças do presidente Donald Trump contra os membros dos Brics, bloco formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul.
Abipesca
Em entrevista ao C-Level Entrevista, videocast semanal da Folha, o presidente da Abipesca (Associação Brasileira das Indústrias de Pescados), Eduardo Lobo, alertou que o setor passa por uma paralisia e que 3 mil trabalhadores estão sem atividade, à espera de ações para atenuar o impacto da sobretaxa de 50% imposta pelos EUA.
Lobo afirmou que o vice-presidente Geraldo Alckmin demonstra boa vontade para destravar medidas de socorro ao setor, mas a Fazenda tem resistido. “A gente está vendo que o Ministério da Economia [Fazenda], até o momento de hoje, não nos entregou o que a gente precisa, que são as linhas de crédito acessíveis, com custo baixo, que sejam factíveis para o empresário se endividar”, disse.
Há previsão de que o governo anuncie medidas para diversos setores. Por determinação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), a Fazenda elabora uma lista de medidas para eventual retaliação às sanções impostas pelo governo Trump contra o Brasil. Segundo integrantes do governo, Lula solicitou esse inventário para avaliar a conveniência da aplicação da Lei da Reciprocidade.
Além da abertura de mercados, o setor de pescados também pediu que o governo federal compre diretamente os estoques encalhados, originalmente destinados ao mercado americano, por meio da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), com a inclusão do pescado em programas de alimentação pública.
A ideia é transformar o estoque em insumo para merenda escolar, cestas emergenciais, segurança alimentar e outros usos sociais, dando vazão às indústrias exportadoras e protegendo a cadeia produtiva de paralisação e judicialização em massa.
O setor pesqueiro brasileiro movimenta cerca de R$ 20 bilhões por ano, dos quais aproximadamente US$ 600 milhões (R$ 3,3 bilhões) estão ligados às exportações. Deste total exportado, entre 70% e 80% têm como destino os Estados Unidos, o que torna o país o principal mercado externo do Brasil, já que a União Europeia mantém grande parte de seu mercado fechado desde 2017, por questões sanitárias ligadas à rastreabilidade do pescado nacional.
De acordo com a Abipesca, a exportação representa cerca de 15% do mercado nacional de pescado. Entre os produtos mais exportados estão a tilápia, com vendas mensais de US$ 6 milhões (aproximadamente 500 toneladas por mês). O consumidor brasileiro consome cerca de 75% da tilápia que produz, sendo 25% exportada. Os Estados Unidos compram praticamente 95% dessa remessa.
No caso da lagosta, 90% da produção brasileira é exportada e quase totalmente vendida para o mercado americano. O atum de profundidade (longline) também tem 90% de sua produção destinada à exportação, com apenas 10% consumido internamente.
Por André Borges Folhapress