Prisão domiciliar de Bolsonaro marca retomada dos trabalhos na Assembleia e acirra debate político entre deputados

Foto: Divulgação
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Deputados se dividem em defesa e contestação da prisão decretada pelo ministro Alexandre de Moraes

O retorno do recesso parlamentar na Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul foi marcada pela decisão do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), que impôs prisão domiciliar ao ex-presidente Jair Bolsonaro. Embora o tema não tenha sido abordado oficialmente na tribuna, nos bastidores os deputados não esconderam suas opiniões.

Entre os mais enfáticos na defesa da decisão judicial esteve o deputado Zeca do PT. Para ele, o comportamento de Bolsonaro justifica a medida imposta pelo STF. “Eu acho normal o Bolsonaro estar toda hora afrontando a Suprema Corte, incentivando a baderna, comportamentos que radicalizam e fragilizam o processo democrático. Isso não é papel de um ex-presidente comprometido com a democracia. O ministro não teve outra alternativa”, declarou. Zeca também minimizou o impacto de eventuais protestos pró-Bolsonaro, desde que ocorram de forma pacífica. “Democracia é feita disso. Ninguém é obrigado a pensar igual. Mas precisamos respeitar as instituições”, concluiu.

Na contramão, deputados bolsonaristas reagiram com indignação. Coronel David (PL) criticou duramente a atuação do Supremo e cobrou ação do Senado Federal. “É momento agora do Senado mostrar independência e coragem para impor limites a decisões do STF que há muito tempo estão na contramão da Constituição”, afirmou. Apesar de adotar tom comedido em plenário, o parlamentar deixou claro que está pronto para defender Bolsonaro.

O deputado Neno Razuk (PL) também viu abuso na atuação do Judiciário. “Eu vejo um certo excesso de poder do Judiciário. Aqui, infelizmente, as pessoas são condenadas antes de serem julgadas. Isso está errado. O que estão fazendo com o Bolsonaro é uma tentativa de calar a população que o apoia”, disse. Segundo ele, a medida é um reflexo de um sistema que precisa ser revisto: “O abuso acontece todo dia, e o caso dele apenas escancara isso”.

Pedrossian Neto (PSD), por sua vez, ofereceu uma análise mais institucional e histórica da situação. “Desde 1988 tivemos oito presidentes da República, dos quais quatro já foram presos. Isso mostra a fragilidade da nossa democracia. A decisão de impedir Bolsonaro de usar as redes sociais, sem condenação transitada em julgado, foi abusiva. E agora, com tornozeleira eletrônica, a situação só piora. O Brasil precisa amadurecer”, pontuou.

Também crítico à atuação do ministro Alexandre de Moraes, o deputado Caravina (PSDB) chamou a decisão de “exagerada” e “confusa”. “As restrições são contraditórias. Pode dar entrevista, mas não pode usar redes sociais? Há um certo exagero na condução do processo contra o ex-presidente”, comentou.

Já a deputada Gleice Jane (PT) foi contundente ao criticar Bolsonaro e defender a atuação do STF. “O Bolsonaro está desafiando o Poder Judiciário e colocando em cheque a soberania do país. O que ele está fazendo é um escândalo. Ele descumpriu regras estabelecidas e está usando isso como estratégia de sobrevivência política. Durante o governo dele não tivemos nenhuma política pública relevante, e agora ele só vive de gerar confusão”, afirmou. Gleice também apontou preocupação com o crescimento de movimentos de apoio ao ex-presidente, especialmente aqueles que exaltam símbolos estrangeiros. “É muito estranho ver manifestações com bandeiras americanas. Estamos diante de um movimento que flerta com a entrega da soberania do Brasil”.

Outro a levantar críticas foi o deputado João Henrique Catan (PL), que classificou o STF como politizado e acusou Moraes de agir fora dos limites constitucionais. “O Alexandre de Moraes virou um ator político. Ele já havia colocado o Bolsonaro em uma espécie de prisão domiciliar ao proibi-lo de circular perto de embaixadas, sendo que o ex-presidente mora justamente no setor de embaixadas. Agora, reforça isso com tornozeleira e outras medidas. Isso é uma violação clara das liberdades individuais”, afirmou. Catan ainda rebateu a ausência de manifestações mais incisivas no plenário: “Eu me manifestei desde o início nas redes sociais e na imprensa. Tem muita gente tentando se vestir de direita, mas não esteve nas ruas. O movimento pró-Bolsonaro é real e mobiliza milhares. Ignorar isso é fechar os olhos para uma realidade política relevante”.

A decisão judicial que motivou a reação dos parlamentares foi tomada no início da semana pelo ministro Alexandre de Moraes, relator de investigações no STF contra Bolsonaro. O ex-presidente, segundo a Corte, teria violado medidas cautelares ao participar de uma transmissão ao vivo nas redes sociais. A nova ordem determinou prisão domiciliar com monitoramento eletrônico, proibição de conceder entrevistas e de manter contato com outros investigados.

Aliado do Governo
O governador de Mato Grosso do Sul, Eduardo Riedel (PSDB), avaliou que a decretação da prisão domiciliar do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) é um “excesso judicial”. O chefe do Executivo que apoiou Bolsonaro em 2022 e está na articulação que envolve os tucanos próximo ao Partido Liberal e ao PP, apontou que decisão influencia escalada de tensão política.

“Falo neste momento do Continente Asiático, onde justamente estamos buscando novos mercados e saídas para as exportações de produtos de Mato Grosso do Sul, atingidos pelas medidas americanas e pela crise político-institucional entre os dois países. A responsabilidade pública e o esforço de todos agora devem ser na direção de flexibilizar e reduzir as tensões, retomando progressivamente o diálogo e não o contrário”, comentou o governador nas redes sociais.

Por Brunna Paula e Carol Chaves

 

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