O feminicídio de Salvadora Pereira, de 22 anos, na noite do último sábado (2), em Corumbá, destaca mais uma vez o ciclo de violência doméstica que, muitas vezes, termina em tragédia. A jovem foi morta com tiros no rosto e no tórax, dentro da fazenda onde vivia e trabalhava como caseira ao lado do companheiro e autor do crime, José Cliverson Soares da Silva, de 32 anos, que já acumulava 13 passagens pela polícia, incluindo ameaça, lesão corporal e violência doméstica.
O crime, que aconteceu por volta das 20h na fazenda “Vai Quem Quer”, a cerca de 444 quilômetros de Campo Grande, chocou a cidade e o Estado pela brutalidade e pela presença de cinco crianças no local, que testemunharam o assassinato. Três das crianças são filhas do autor, de 8, 7 e 2 anos, e duas são filhas de Salvadora de 7 e 5 anos. Todas estavam no mesmo cômodo onde o corpo da jovem foi encontrado, deitado em uma cama de casal com marcas de tiros no queixo e no tórax.
Segundo o boletim de ocorrência, o casal passou a tarde ingerindo bebida alcoólica e, já à noite, iniciaram uma discussão. Foi nesse momento que José sacou um revólver calibre .22 e atirou contra Salvadora, sem dar chance de defesa. Quando a Polícia Militar chegou ao local, por volta das 23h, o homem ainda estava presente e confessou o crime de maneira direta e fria: “Eu fiz, senhor. Fiz uma cagada”, teria dito aos policiais. Ele foi preso em flagrante e encaminhado ao 1º Distrito Policial de Corumbá.
Além das ocorrências anteriores, um mandado de prisão por lesão corporal emitido em 2020 foi encontrado em seu nome durante consulta ao Banco Nacional de Medidas Penais e Prisões (BNMPP).
Histórico de violência
O caso de Salvadora não foi o primeiro episódio de violência cometido por José Cliverson. No dia 28 de outubro de 2023, ele foi denunciado por agredir uma então companheira na cidade vizinha de Ladário. Na ocasião, a mulher relatou que ambos estavam bebendo na casa da sogra quando uma discussão por ciúmes terminou com agressões físicas. O cunhado do agressor chegou a interferir e o agrediu para proteger a vítima, que ficou com hematomas no rosto. José chegou a ser preso, e a mulher solicitou medidas protetivas à Justiça.
Mesmo com esse histórico, ele estava em liberdade ao lado de Salvadora, que agora se torna a 21ª vítima de feminicídio em Mato Grosso do Sul em 2025.
O assassinato de Salvadora Pereira engrossa uma lista alarmante de feminicídios no Estado. Mato Grosso do Sul registra uma média de três casos por mês, e a maioria ocorre dentro de casa, em contextos marcados por violência recorrente, ciúmes e controle.
A seguir, a os nomes das mulheres vítimas de feminicídio em MS este ano:
Karina Corim (Caarapó) – 4 de fevereiro
Vanessa Ricarte (Campo Grande) – 12 de fevereiro
Juliana Domingues (Dourados) – 18 de fevereiro
Mirielle dos Santos (Água Clara) – 22 de fevereiro
Emiliana Mendes (Juti) – 24 de fevereiro
Gisele Cristina Oliskowiski (Campo Grande) – 1º de março
Alessandra da Silva Arruda (Nioaque) – 29 de março
Ivone Barbosa (Sidrolândia) – 17 abril
Thácia Paula (Cassilândia) – 11 de maio
Simone da Silva (Itaquiraí) – 14 de maio
Olizandra Vera Cano (Coronel Sapucaia) – 23 de maio
Graciane de Sousa Silva (Angélica) – 25 de maio
Vanessa Eugênio Medeiros (Campo Grande) – 28 de maio
Sophie Eugenia Borges (filha de Vanessa, Campo Grande) – 28 de maio
Eliana Guanes (Corumbá) – 6 de junho
Doralice da Silva (Maracaju) – 20 de junho
Rose (Costa Rica) – 27 de junho
Michely Rios Midon Orue (Glória de Dourados) – 3 de julho
Juliete Vieira (Naviraí) – 25 de julho
Cinira de Brito (Ribas do Rio Pardo) – 31 de julho
Salvadora Pereira (Corumbá) – 2 de agosto
Após o crime, a irmã do autor se apresentou às autoridades e assumiu temporariamente a guarda das cinco crianças, que agora devem ser acompanhadas por equipes de assistência social e psicológica.
O caso é investigado pela Delegacia de Atendimento à Mulher (DAM) de Corumbá. José Cliverson deverá responder por feminicídio qualificado, e a Polícia Civil também apura a possibilidade de outras vítimas relacionadas a seus antecedentes.
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