Crise diplomática e tarifa de 50% agravam tensão entre Brasil e EUA

Foto: Daniel Torok/Official White House Photo
Foto: Daniel Torok/Official White House Photo

Governo, Congresso e setor produtivo reagem

 

A crise diplomática entre Brasil e Estados Unidos atingiu um novo patamar e ameaça gerar consequências econômicas significativas. A partir da próxima sexta-feira (1º de agosto), entra em vigor a tarifa de 50% sobre produtos brasileiros, anunciada pelo presidente norte-americano Donald Trump. A medida, com motivações políticas, foi formalmente comunicada ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) por meio de uma carta carregada de críticas ao julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro no STF, considerado por Trump uma “vergonha internacional”.

A decisão surpreendeu o governo brasileiro e desencadeou uma mobilização institucional envolvendo diplomatas, parlamentares, ministros e representantes do setor produtivo. O temor é de que o tarifaço prejudique fortemente as exportações, afete cadeias produtivas e resulte em perda de competitividade, empregos e investimentos.

Foto: reprodução/redes sociais

Mobilização diplomática e legislativa

Em uma tentativa de evitar ou ao menos adiar a entrada em vigor das novas tarifas, uma comitiva de oito senadores brasileiros desembarcou neste domingo (27) em Washington, nos Estados Unidos. O grupo, liderado por Nelsinho Trad (PSD-MS), busca sensibilizar autoridades norte-americanas e reforçar a posição do Brasil como parceiro estratégico. A agenda da delegação inclui encontros com parlamentares dos EUA, empresários e representantes do Departamento de Estado.

Segundo o senador Renan Calheiros (MDB-AL), integrante da missão, é “inaceitável que uma disputa política no Brasil seja usada como pretexto para prejudicar a nossa economia”. Nesta segunda-feira (28), os senadores se reunirão com a embaixadora Maria Luiza Viotti e o embaixador Roberto Azevêdo, e à tarde terão encontros com o Conselho Comercial Brasil-EUA.

Itamaraty e Fazenda articulam respostas

O Ministério das Relações Exteriores intensificou contatos com a embaixada norte-americana e levou o caso ao Conselho Geral da Organização Mundial do Comércio (OMC). Durante reunião em Genebra, o embaixador Philip Gough classificou a medida dos EUA como “arbitrária” e alertou para o risco de se estabelecer um precedente perigoso de interferência em assuntos internos.

Paralelamente, o Ministério da Fazenda, liderado por Fernando Haddad, elabora um pacote emergencial de apoio a setores exportadores. A proposta inclui incentivos fiscais, linhas de crédito e estímulo à diversificação de mercados. “Nosso papel é garantir que a economia brasileira continue sólida e competitiva, independentemente do cenário externo”, afirmou o ministro.

Geraldo Alckmin, vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, também intensificou articulações com a indústria e o agronegócio. Ele lidera a formulação de um dossiê técnico para ser entregue a interlocutores norte-americanos, destacando a estabilidade institucional e o compromisso brasileiro com relações comerciais transparentes. “O Brasil é maior que qualquer episódio. Seguimos sendo um parceiro confiável, respeitado e aberto ao diálogo”, declarou.

Setor produtivo reage: risco de perder até 1,9 milhão de empregos

A Confederação Nacional da Indústria (CNI) organiza uma missão empresarial aos EUA para tentar frear a entrada em vigor das tarifas. Segundo o presidente da CNI, Ricardo Alban, o objetivo é sensibilizar empresas e autoridades sobre os impactos da medida. “Estamos a uma semana da entrada em vigor. Esperamos que ela não aconteça ou seja suspensa”, disse.

O agronegócio, que exportou US$ 12 bilhões para os EUA em 2024, também está em alerta. A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) estima que o preço final dos produtos exportados pode subir até 50%, tornando-os inviáveis no mercado norte-americano.

Estudo da Comissão de Relações Exteriores do Senado aponta que cerca de 1,9 milhão de empregos brasileiros estão em risco caso o tarifaço entre em vigor.

Lula: “Trump foi enganado”

Durante evento em Osasco (SP), o presidente Lula criticou duramente a postura de Trump e afirmou que o ex-presidente norte-americano foi “enganado” por aliados de Jair Bolsonaro. “Bolsonaro não está sendo perseguido, ele está sendo julgado com pleno direito de defesa”, disse. Lula acusou Bolsonaro de ter planejado um golpe para impedir sua posse e afirmou que as denúncias contra o ex-presidente estão sendo comprovadas por delações.

Sobre Eduardo Bolsonaro, que teria influenciado Trump, Lula foi direto: “Esse cara está traindo a nação. Está trocando o Brasil pelo pai. Isso é pior que Silvério dos Reis”. A declaração elevou ainda mais a temperatura do conflito diplomático.

Bolsonaro e Flávio respondem

O ex-presidente Jair Bolsonaro se manifestou no dia 10 de julho, agradecendo o apoio de Trump e pedindo que as instituições brasileiras “ajam com urgência”. Em nota, falou em perseguição e defendeu a “normalidade institucional”.

Já o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), em entrevista ao SBT, afirmou que o irmão Eduardo não manipula Trump. “É infantil imaginar que um deputado possa mandar no presidente dos EUA. O papel dele é levar informações”, disse.

Oposição critica Lula e Gleisi reage

Durante evento da XP Investimentos, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), estimou que o tarifaço pode provocar a perda de até 120 mil empregos e R$ 7 bilhões em massa salarial no estado. Ele criticou o governo Lula por não conter a escalada da crise. “A pior agressão à soberania é a divisão interna”, declarou.

A ministra Gleisi Hoffmann (PT) rebateu as críticas e acusou Bolsonaro de bloquear qualquer avanço nas negociações ao exigir anistia e impeachment de ministros do STF como condição para recuar no apoio às tarifas. “Isso é chantagem contra o Brasil”, afirmou.

Judiciário acompanha crise e AGU investiga uso de informação privilegiada

A Advocacia-Geral da União (AGU) pediu ao STF investigação sobre possível uso de informações privilegiadas envolvendo o anúncio das tarifas e operações no mercado cambial. A suspeita surgiu após transações incomuns antes e depois do comunicado oficial, o que levanta a possibilidade de especulação com base em vazamentos.

O presidente do STF, ministro Luís Roberto Barroso, divulgou nota afirmando que a decisão de Trump se baseou em “compreensão imprecisa dos fatos” e que não há perseguição política no Brasil.

Expectativa para os próximos dias

Com reuniões marcadas até a próxima quarta-feira (30), a comitiva do Senado brasileiro buscará convencer interlocutores norte-americanos de que a medida prejudica ambos os países. Enquanto isso, o governo Lula tenta construir uma saída política e comercial para evitar perdas ainda maiores.

A expectativa é que a pressão diplomática e econômica consiga ao menos adiar o tarifaço. Caso contrário, o Brasil poderá ser forçado a adotar medidas de retaliação, agravando a tensão entre as duas maiores economias do continente.

 

Com informações do SBT News

Confira as redes sociais do Estado Online no Facebook Instagram

 

Leia mais

Governo tenta manter aumento de arrecadação com nova MP e enfrenta impasse no Congresso e no STF

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *