A nova tarifa de 50% anunciada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sobre todos os produtos brasileiros, com entrada em vigor prevista para 1º de agosto, acende um alerta crítico no setor citrícola do Brasil. A medida pode ter impacto devastador sobre os produtores de laranja, especialmente em meio a uma temporada de queda brusca nos preços, desaceleração na colheita e interrupções nos cronogramas industriais.
Principal exportador mundial de suco de laranja, o Brasil é responsável por 80% das vendas globais da bebida e fornece cerca de 70% do que os Estados Unidos importam. No entanto, com a imposição da nova tarifa, que representa um aumento de 533% sobre a taxa atual de US$ 415 por tonelada, o setor teme uma ruptura sem precedentes no comércio bilateral.
“A situação é dramática. Se os EUA não mudarem a postura ou aceitarem negociar, poderemos ser forçados a abandonar parte da safra”, alerta Ederson Kogler, agricultor que atua no interior paulista, principal região produtora. Ele explica que, no início do ano, a caixa de laranjas chegou a ser vendida por R$ 80, mas o valor despencou para R$ 26 na última semana — menos do que o custo de produção e colheita. “Nesse ritmo, a fruta pode acabar apodrecendo no pé.”
Dependência mútua em risco
A decisão do governo norte-americano ocorre em um momento de fragilidade para a própria produção interna. Segundo dados do Departamento de Agricultura dos EUA (USDA), a safra de suco de laranja no país deve fechar 2024/25 com apenas 108,3 milhões de galões — o menor volume desde a temporada 1970/71. Com os estoques domésticos em queda, a dependência do suco brasileiro permanece elevada: um em cada dois copos consumidos nos EUA tem origem no Brasil.
Ainda assim, a ameaça tarifária compromete as exportações brasileiras. Os Estados Unidos absorveram cerca de 42% das exportações brasileiras de suco de laranja na temporada encerrada em junho, movimentando US$ 1,31 bilhão. Com as novas taxas, o produto pode se tornar inviável no mercado americano, abrindo espaço para escassez, alta de preços nos EUA e colapso nos lucros dos produtores brasileiros.
Diante da incerteza, lideranças do setor defendem a busca por novos mercados, mas admitem que o processo não é simples nem rápido. “Não se conquista um novo mercado da noite para o dia, principalmente com a estrutura logística e os acordos comerciais que o suco de laranja exige”, afirma Kogler.
Enquanto isso, produtores e exportadores aguardam posicionamento do governo brasileiro, que tenta abrir canais diplomáticos para barrar a tarifa antes do prazo final. Caso não haja avanço nas negociações, o impacto pode se espalhar por toda a cadeia produtiva, afetando empregos, cooperativas e até o consumidor final, que pode ver o suco sumir das prateleiras ou encarecer.
A medida de Trump é vista como parte de uma estratégia mais ampla de protecionismo comercial, que já atingiu o México com uma tarifa de 30% sobre exportações. A escalada de tensões preocupa especialistas em comércio exterior e alimenta temores de uma guerra comercial mais agressiva com impactos globais no setor agroindustrial.
Para o Brasil, manter o acesso ao mercado americano é vital. Se confirmada, a nova tarifa sobre o suco de laranja poderá transformar uma das histórias de sucesso da exportação nacional em um grave problema econômico e social para milhares de famílias do campo.
Com informações do SBT News
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