Ferramenta virou principal forma de pagamento e está em investigação pelos EUA
Investigação aberta pelo Escritório do Representante de Comércio dos Estados Unidos acusa o Brasil de adotar políticas que favorecem o Pix em detrimento de empresas americanas de tecnologia. Entre as alegações, está a de que o país teria “criado um ambiente hostil” a soluções privadas ao priorizar serviços públicos de pagamento eletrônico. O caso já preocupa lideranças do setor produtivo no Estado, onde o Pix se consolidou como ferramenta indispensável no comércio e entre a população.
A presidente da FCDL-MS (Federação das Câmaras de Dirigentes Lojistas), Inês Santiago, vê com preocupação o avanço da investigação. Para ela, qualquer tentativa de desestabilizar o Pix representa uma ameaça direta à inclusão financeira e à sobrevivência de pequenos negócios no Estado.
“O Pix encurtou distâncias, reduziu burocracias e permitiu que pessoas sem acesso a cartões ou maquininhas digitais pudessem comprar e vender com segurança. É parte da rotina da população sul-mato-grossense”, afirma.
Desde seu lançamento em 2020, o Pix se popularizou em ritmo recorde no Brasil. Hoje, mais de 160 milhões de brasileiros utilizam o sistema, com cerca de 4 bilhões de transações mensais. No comércio de rua, nas feiras livres e até mesmo entre vizinhos, o pagamento instantâneo se tornou a principal forma de circulação do dinheiro.
Risco de instabilidade
A inclusão do Pix na investigação, baseada na Seção 301 da Lei Comercial dos EUA, reacende o debate sobre a soberania digital brasileira. Embora o processo esteja em estágio inicial, o temor é de que pressões políticas e comerciais externas possam comprometer o funcionamento de um serviço público que hoje garante acesso a pagamentos instantâneos, gratuitos e sem intermediação bancária.
Para a FCDL-MS, o Brasil precisa proteger juridicamente o sistema. “Estamos falando de uma ferramenta que já faz parte da estrutura econômica do país. Qualquer interferência que fragilize o Pix afeta diretamente o consumidor, os trabalhadores informais e os pequenos negócios que dependem dele para sobreviver”, pontua Inês Santiago.
A reação do Governo Federal também foi imediata. Em entrevista à CNN Internacional, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva declarou que o Brasil “não será refém dos Estados Unidos” e defendeu a autonomia do país sobre suas políticas internas, inclusive no campo financeiro e tecnológico.
Além do Pix, a investigação americana também inclui temas como proteção à propriedade intelectual, políticas ambientais, tarifas sobre etanol e acordos comerciais firmados com outros países. No entanto, o foco sobre o sistema de pagamentos é o que mais acende o alerta entre especialistas, por seu impacto direto no cotidiano da população.
Por Djeneffer Cordoba