A vítima deu entrada na UPA Vila Almeida no último dia 14 e ontem (17) foi transferido para o Humap
Um adolescente de 14 anos, diagnosticado com TEA (Transtorno do Espectro Autista), deu entrada na UPA Vila Almeida, em Campo Grande, na segunda-feira (14), suspeito de ter sofrido abuso sexual no abrigo onde vivia na Capital.
A denúncia, que chegou até a reportagem de forma anônima, revela que o garoto foi socorrido por responsáveis do local onde vivia e chegou à unidade de saúde com sangramento anal. A anunciante ainda relata que o menino era abusado por outros internos na ausência dos supervisores, levantando alerta sobre a vulnerabilidade de crianças e adolescentes institucionalizados.
O adolescente permaneceu na unidade de saúde até esta quinta-feira (17) quando saiu sua transferência para o Humap ( Hospital Universitário Maria Aparecida Pedrossian ) para receber atendimento especializado. Ainda de acordo com o informante, a UPA acionou o Conselho Tutelar para tomar as medidas cabíveis da situação.
Conforme dados do CNJ (Conselho Nacional de Justiça), mais de 33 mil crianças e adolescentes estão em serviços de acolhimento no país. Desse total, somente no Mato Grosso do Sul, são 788 menores desabrigados. Regionalizando os números, em Campo Grande, são 206 abrigados, segundo a Associação dos Conselheiros Tutelares de Mato Grosso do Sul.
Nos seis primeiros meses de 2025, Mato Grosso do Sul registrou 1.107 casos de estupro, segundo dados da Sejusp (Secretaria de Justiça e Segurança Pública). Do total, 483 vítimas são crianças e 407 são adolescentes, com idades entre 12 e 18 anos, conforme o ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente).
O levantamento mostra ainda que 122 vítimas são do sexo masculino. A última atualização foi realizada em 14 de julho. Apesar da gravidade dos números, especialistas alertam que a maioria dos abusos não é denunciada. Uma pesquisa realizada pelo Datafolha em 2022, encomendada pelo Instituto Liberta, revelou que apenas 11% dos casos de abuso sexual infantil chegam ao conhecimento das autoridades.
A coordenadora de comunicação do Instituto Liberta, Renata Greco, destaca que o combate à violência sexual precisa ir além da repressão. Para ela, é essencial investir em prevenção, formação de educadores, escuta qualificada e fortalecimento da rede de proteção.
“Estamos falando de uma violência que nem sempre é reconhecida como tal. Muitas crianças não sabem que aquilo que vivem é crime, porque não sabem nomear o próprio corpo, nem os sentimentos envolvidos. Às vezes acham que é carinho”, explica Renata.
A especialista defende que a prevenção deve começar com autocuidado, desmistificando tabus. “Ensinar uma criança que só ela pode tocar em suas partes íntimas não é sexualização precoce. É autocuidado. É proteção”, reforça.
Por Taynara Menezes