Principal estádio da Capital segue fechado, sem laudos e sem convênio
Há exatos trinta dias, autoridades estaduais e dirigentes esportivos se reuniram na Assembleia Legislativa para discutir a reabertura do Estádio Pedro Pedrossian, o Morenão. A audiência pública, foi marcada por discursos otimistas e promessas de articulação entre as partes. Um mês depois, o estádio permanece fechado e nenhuma medida concreta foi anunciada.
Interditado desde março de 2022, o Morenão passou por reformas pontuais nos banheiros e vestiários, mas segue sem o certificado de segurança necessário para receber partidas com público. Desde então, o futebol profissional de Campo Grande migrou para o Estádio Jacques da Luz, nas Moreninhas, com capacidade inferior, cerca de 2,5 mil pessoas, e estrutura limitada.
A reabertura depende da formalização de um convênio entre a UFMS, atual dona do estádio, que pretende passar a concessão ao Governo do Estado. Apesar de sinalizar abertura para o acordo, a universidade condicionou qualquer medida ao trâmite legal completo, e o governo se comprometeu a realizar estudos técnicos, por meio da Agesul (Agência Estadual de Gestão de Empreendimentos) para avaliar a viabilidade de intervenções emergenciais.
O custo de uma reabertura parcial, com intervenções em gramado, parte elétrica, hidráulica, acessibilidade e segurança, está estimado entre R$ 13 e R$ 15 milhões. A expectativa é de que parte dos recursos possa vir dos cerca de R$ 8 milhões devolvidos pela Fapec ao governo, dinheiro inicialmente destinado a uma tentativa anterior de reforma, além de emendas parlamentares e eventual apoio da CBF.
Pendências técnicas e falta de laudos
Além das indefinições institucionais, o estádio enfrenta entraves técnicos. Segundo o Corpo de Bombeiros, o Morenão carece de diversas adequações para obter o Certificado de Vistoria. Falta rede de hidrantes atualizada, o sistema de alarme é inoperante, há ausência de corrimãos e guarda-corpos, e as rotas de fuga foram comprometidas por modificações internas não regularizadas. “A edificação apresenta dificuldade considerável em se adequar às normas atuais, principalmente no que tange às saídas de emergência”, informou o Corpo de Bombeiros Militar, por nota.
Ainda não existe, atualmente, um laudo técnico atualizado, pois os responsáveis consideram o estádio inapto para ativação, segundo o CBM. Para solicitar a avaliação, como explica a nota, seria necessário usar o Sistema Prevenir 2.0, apresentando laudos técnicos, nota fiscal da manutenção de extintores, Anotação de Responsabilidade Técnica (ART) e atestado de brigada de incêndio.
Impacto no futebol local
Manter o Morenão fechado traz consequências diretas para o futebol sul-mato-grossense. Além das dificuldades operacionais e da perda de público, os clubes enfrentam limitações técnicas ao atuar em estádios com estrutura inferior.
A FFMS se propôs a colaborar com a retomada do estádio. Entre as medidas sugeridas estão a troca do gramado, readequação dos vestiários e manutenção da estrutura inferior. “Talvez seja mais viável pensar numa reabertura parcial. Esse momento é de buscar soluções conjuntas”, afirmou o presidente da Federação, Estevão Petrallás.
A proposta da entidade é liberar gradualmente o estádio, com capacidade inicial entre 8.500 e 10 mil torcedores, concentrados na arquibancada coberta. “Esse público atenderia aos requisitos técnicos e regulamentares das competições”, explicou Petrallás.
Caso o impasse se prolongue até 2026, clubes campo-grandenses podem ser forçados a disputar jogos da Série D, Copa do Brasil e outras competições nacionais, fora da capital ou até fora do Estado. “Não quero pensar nessa hipótese. Seria assinar um atestado de descaso com o futebol local”, alertou o dirigente.
Obstáculos orçamentários e burocráticos
Para o deputado Pedro Pedrossian Neto, o principal entrave é alinhar o projeto de reforma ao orçamento estadual. “Há vontade política. É de interesse dos clubes, da população, das autoridades. Mas transformar esse desejo em ação depende de orçamento e do convênio com a UFMS”, explicou. Ele reconhece que uma reabertura parcial ainda neste ano seria positiva, mas evita criar expectativas. “O setor público tem outro ritmo. Tudo depende da conclusão do estudo técnico da Agesul”, afirmou.
O Morenão, que já foi palco de grandes partidas e símbolo do futebol sul-mato-grossense, permanece fechado, à espera de definições que não chegam. Apesar das manifestações públicas e do engajamento em torno do tema, o que se vê um mês após a audiência é a estagnação. O estádio segue fechado, sem laudos, sem obras e sem data para reabrir. A vontade existe, mas continua no discurso.
Uma reunião de trabalho marcada para 1º de julho com os mesmos atores da audiência foi cancelada por “falta de novidades”. Procuradas pela reportagem, Setesc e UFMS, diretamente envolvidas na gestão e possível reabertura do estádio, não responderam aos pedidos de entrevista até o fechamento desta edição.
Por Mellissa Ramos