‘Olha! Lá vem o trem chegando!’: Malha ferroviária de MS torna-se inspiração para obra audiovisua

Foto:  Assessoria/Divulgação
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Obra audiovisual percorre os trilhos da memória ferroviária de MS com poesia, som e imagem

Nos trilhos que cortam o Mato Grosso do Sul, entre o pó da estrada e o brilho do rio, nasce uma obra que cruza poesia, dança, som e imagem com a força dos corpos em movimento e da memória em travessia. Nesta quinta-feira (17), a artista Pâmella Rani lança de forma presencial e online o vídeo-arte ‘Olha! Lá vem o trem chegando’, produção que aborda os trilhos da memória ferroviária de Mato Grosso do Sul.

Para quem não conhece, o vídeo-arte é uma linguagem da arte visual que utiliza elementos do vídeo, explorando diferentes técnicas para criar narrativas visuais, unindo elementos do cinema, da arte digital, performance, animação, trilha sonora e outros.

Com oito minutos de duração, a obra é uma criação poético-visual que convida o público a refletir sobre os deslocamentos, as paisagens e as histórias que tecem a identidade sul-mato-grossense a partir da antiga malha ferroviária que atravessou o Estado. Interessados pelo desenvolvimento do projeto podem acessar o Instagram (@raniepam).

A poesia de Pâmella Rani, que também assina e interpreta a obra com seu corpo, sua voz e sua dança, conduz o espectador em uma viagem sensorial. A trilha sonora e os elementos visuais foram criados por Julián Vargas, músico e artista plástico parceiro na concepção da obra. “A partir de estudos de dança corporal, dança com bambolê, declamação poética, ilustrações e sons de percussão, pássaros, águas e trens, o vídeo se constrói como um mergulho experimental e sensível na memória dos caminhos”, pontua Rani.

Vídeo-arte A artista Pâmella Rani assina e interpreta a obra com seu corpo, sua voz e sua dança – Foto: Assessoria/Divulgação

Onde tudo começou

O ponto de partida do projeto foi o poema ‘Olha! Lá vem o trem chegando’, escrito por Pâmella em 2023, durante uma viagem a Corumbá. “O texto surgiu num passeio de barco pelo Rio Paraguai, e carrega imagens de deslocamento, de travessia, dos fluxos que atravessam corpos e territórios. Fala do movimento das pessoas, da busca por condições melhores, de memórias familiares e afetivas”, explica a artista, que também é pesquisadora em Ciências Sociais e Antropologia, com foco nas fronteiras entre Brasil e Paraguai.

“Acredito que estar no Rio Paraguai e visualizar que, ao mesmo tempo que ele delimita territórios, acaba também aberto aos trânsitos e aos fluxos das águas que borram esses limites. O sentimento de estar entre lugares acabou reverberando no desejo da escrita e da criação das imagens. Meu olhar também acaba sendo atravessado pelas experiências acadêmicas sobre fluxos migratórios, movimentos pendulares entre as cidades fronteiriças, suas diferentes histórias e memórias” complementa.

Foto: Assessoria/Divulgação

Mão na massa

A equipe percorreu parte da antiga malha ferroviária entre Campo Grande e Corumbá, registrando estações desativadas, rios e paisagens atravessadas por histórias de deslocamento. Para Pâmella, esses elementos simbolizam “o tempo, o fluxo, a memória e o corpo em movimento”. A dança traduz isso em gestos inspirados em versos como “navego, navego, navego” e “tempo incendiário”.

Segundo Julián Vargas, o projeto nasceu da vontade de unir os interesses artísticos dos dois criadores. “A poesia foi o ponto de partida. Eu sugeri transformar em vídeo-dança, e aos poucos fomos costurando os elementos — a trilha, a imagem, o movimento. O som foi pensado como guia da dança e da memória, com percussões orgânicas e paisagens sonoras que evocam o trem, os pássaros e a água. A linha sonora se conecta à linha do trem e à fluidez do rio”.

“Cada lugar teve sua particularidade nas gravações, as estações que aparecem trouxeram um lugar mais silencioso e acabaram demonstrando o pouco uso ou mesmo o abandono de determinados espaços” pontua Pâmela.

As referências musicais incluem Naná Vasconcelos e o grupo Metá Metá, com sonoridades criadas a partir de instrumentos acústicos e midi. Visualmente, a obra dialoga com o trabalho performático de Joan Jonas e a linguagem audiovisual de William Kentridge. A paisagem não é pano de fundo, mas personagem: “Foi nas antigas estações que o vídeo ganhou corpo. A paisagem molda o tempo da obra”, completa Julián.

Além disso, a paisagem é tratada como personagem vivo no vídeo, demonstrando um papel político e poético a obra.

“O território influência na construção do nosso corpo e pensar o território também como um elemento vivo, que possui seu próprio movimento, nos ajuda a refletir um pouco mais sobre a maneira como nos relacionamos com o nosso entorno e dependendo das nossas ações individuais e coletivas podemos gerar impactos desastrosos ou buscar maneiras de nos organizar para a produção de territórios de fato vivíveis”.

Foto: Assessoria/Divulgação

Passagem livre

Comprometida com o amplo acesso à arte, a obra será disponibilizada com audiodescrição, legendas e tradução em Libras. Além disso, poderá ser utilizada por escolas, universidades e coletivos artísticos como material de estudo, referência criativa ou base para debates sobre vídeo-arte, performance, memória e território.

Com apoio da Lei Paulo Gustavo, o projeto fortalece a produção audiovisual experimental e poética no Mato Grosso do Sul, reforçando o protagonismo dos artistas locais. Para Pâmella, “é uma obra que fala de memória, mas também de futuro — de como os caminhos que percorremos nos moldam e nos movem. Esse trabalho me ajuda a manter o interesse em seguir pensando e pesquisando o corpo e suas possíveis relações com a escrita e com a produção audiovisual”.

A obra contou com direção geral e texto Pâmella Rani; câmera, montagem, edição, trilha sonora e ilustração, Julián Vargas; preparação corporal André Tristão; produção-executiva Nilcieni Maciel; figurino Marcia Paulino, acessibilidade – Libras Tatiana Tássia Cavana e audiodescrição Beatriz Lunardi.

“Olha! Lá vem o trem chegando é um projeto realizado com recursos da Lei Paulo Gustavo, do Ministério da Cultura, Governo Federal, com apoio da FCMS – Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul, Setesc – Secretaria de Estado de Turismo, Esporte e Cultura – e Governo de Mato Grosso do Sul.

Serviço: O lançamento do vídeo-arte ‘Olha! Lá vem o trem chegando’, será realizado nesta quinta-feira (17), às 20h, no Pizza Pub, Rua 14 de julho, 2553, Centro e exibição online no canal do YouTube @pamellarani. Mais informações por meio do instagram do projeto @raniepam.

 

Por Carolina Rampi

 

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