Especialistas analisam problemas e apontam soluções para a mobilidade

A oitiva desses especialistas buscou aprofundar o entendimento técnico - Foto: Izaias Medeiros/ Câmara Municipal
A oitiva desses especialistas buscou aprofundar o entendimento técnico - Foto: Izaias Medeiros/ Câmara Municipal

Foram ouvidos Jurandir Fernando, da Unicamp, e Maria Lúcia, da UFMS

 

Após ouvir os usuários do transporte coletivo a respeito da qualidade dos serviços oferecidos pelo Consórcio Guaicurus, a CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) do Transporte ouviu, nesta quarta-feira (2), especialistas em mobilidade urbana, que contribuíram apontando quais os problemas e algumas soluções possíveis que podem ser adotadas pela gestão pública, bem como pela empresa concessionário, seja a atual ou por futuras concessões.

O primeiro a ser ouvido foi Jurando Fernando Ribeiro Fernandes, professor sênior de Engenharia Elétrica da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e que já ocupou o cargo de secretário municipal de Transportes da mesma cidade. Além disso, Fernandes ainda acumula em seu currículo uma passagem como secretário dos Transportes Metropolitanos do Estado de São Paulo e como presidente do Denatran, atual Senatran (Secretaria Nacional de Trânsito).

Ouvido por vídeo chamada, o especialista ressaltou que os problemas apontados durante toda a CPI, como a queda no número de passageiros, a pressão tarifária e o sucateamento da frota é uma questão que está acontecendo em diversas cidades do Brasil, justamente pela falta de planejamento estratégico para fomentar o setor

“A queda na quantidade de passageiros não foi apenas em decorrência da pandemia, mas era algo que já vinha sendo observado, principalmente com a popularização dos carros de aplicativos, que se alastraram país afora, avançando sobre o sistema de transporte”, afirmou.

Ainda de acordo com ele, apesar do transporte ser uma concessão pública, é necessário que o Consórcio dispute o mercado, uma vez que o cenário passou por mudanças drásticas, inclusive com a automatização do trabalho e a possibilidade de se fazer home office, o que também contribui para a diminuição no número de passageiros que usam ônibus.

“Não é culpa de A, B ou C, estamos vivendo uma nova conjuntura e é preciso ter soluções para isso. Assim como em outros lugares, pelo que percebi, Campo Grande também caiu no ciclo vicioso onde cai o número de passageiros, o que faz cair a receita, mas aumentar o preço da tarifa e começa a negligência com o transporte”, analisou, destacando que esse ciclo também é agravado pela competição com outros meios de veículos, como as motocicletas, que ficaram cada vez mais em conta no decorrer dos anos.

Questionado pelo vereador Jr. Coringa sobre a possibilidade da Capital ter veículos equipados com ar-condicionado para maior conforto térmico do passageiro, Jurandir pontuou de forma assertiva que é possível e, ainda mais, que o empresário poderia sair ganhando com a aquisição de ônibus que deem mais qualidade para o usuário.

“Ar-condicionado não é mais artigo de luxo, mas é um conforto necessário. Quando foi introduzido nos países quentes aumentou a produtividade, a criatividade e a disposição para o trabalho, mas tudo tem que ser direcionado, porque não podemos ver apenas os custos, mas o que ele propicia de retorno e o que ele abate do custos, mesmo que de forma indireta”, afirmou.

Para finalizar sua oitiva, o professor pontuou a importância do trabalho da CPI, contudo, enfatizou que o problema não será solucionado apenas colocando mais ônibus na rua, mas fazendo uma integração de todo o trânsito, investindo em infraestrutura e valorizando todos os meios de transportes, incluindo o coletivo.

“O transporte público é insubstituível, é a espinha dorsal da mobilidade urbana nas cidades, então, temos que enfrentar a situação com corredores de ônibus, com uma cidade cada vez mais conectada, integrar o transporte coletivo. Não é apenas software e veículos, é infraestrutura também”, concluiu.

A segunda a ser ouvida foi a professora da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul). A especialista fez coro ao professor Jurandir, afirmando que a melhora do transporte coletivo passa também pela melhora de diversas camadas e serviços ofertados para os cidadãos.

“Para se ter um transporte adequado é preciso ter um sistema viário adequado e uma hierarquia das ruas, que vão dar condições dos transportes circularem. Por exemplo, a cidade carece urgentemente da drenagem, porque essas correções no asfalto decorrem dos problemas da falta de drenagem e não adianta corrigir se eu não construir esse sistema de drenagem. No transporte coletivo, uma das maiores reclamações é o desgaste dos pneus, o que já pode encarecer a tarifa e derrubar a qualidade do serviço”, destacou.

A oitiva da professora foi exclusivamente técnica, momento em que ela apresentou possíveis soluções a serem aplicadas a médio e longo prazo, justamente porque acredita que as questões do Consórcio Guaicurus nunca irão se esgotar e é preciso pensar nas próximas gestões.

 

Por Ana Clara Santos

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