Estudo revela papel das capivaras no equilíbrio de ecossistemas aquáticos do Pantanal de MS

Pesquisa analisa níveis de Silício e impacto dos animais na biodiversidade do bioma - Foto: Arquivo Pessoal
Pesquisa analisa níveis de Silício e impacto dos animais na biodiversidade do bioma - Foto: Arquivo Pessoal

O Pantanal sul-mato-grossense está no centro de uma pesquisa inédita que une cientistas brasileiros e europeus. O objetivo do estudo é entender o papel das capivaras no ciclo do silício, um elemento essencial para a saúde dos ecossistemas aquáticos.

As gramíneas das planícies alagáveis do Pantanal são naturalmente ricas em silício, um mineral fundamental para o crescimento de plantas e, principalmente, de algas microscópicas chamadas diatomáceas. Esses micro-organismos são responsáveis por manter a qualidade da água e formam a base da cadeia alimentar aquática, servindo de alimento para invertebrados, peixes e outros animais.

A diferença, segundo os pesquisadores, está no comportamento das capivaras. Ao contrário de muitos herbívoros terrestres, esses animais passam grande parte do tempo dentro ou às margens dos rios e lagos, o que faz com que seus excrementos sejam frequentemente depositados diretamente na água. Com isso, o silício presente nas fezes das capivaras se dissolve com mais facilidade, tornando-se imediatamente disponível para as diatomáceas.

“Nosso objetivo é quantificar essa contribuição das capivaras para o ciclo do silício no Pantanal, algo que nunca havia sido estudado antes”, explica o professor Jonas Schoelynck, da Universidade de Antuérpia, na Bélgica, que lidera o projeto em parceria com a Unesp (Universidade Estadual Paulista) e outras instituições internacionais.

Além de inédito, o estudo pode trazer respostas importantes sobre como os animais influenciam a dinâmica dos ecossistemas e contribuem para a manutenção da biodiversidade. “O Pantanal é um ecossistema único e entender como espécies como a capivara impactam os ciclos biogeoquímicos é fundamental, especialmente em um momento em que os ambientes naturais enfrentam tantas pressões”, destaca Schoelynck.

A base das operações é a Fazenda Barranco Alto, no Pantanal sul-mato-grossense, que abriga a equipe de pesquisadores. Todo o material é processado inicialmente na Unesp e depois segue para análise detalhada nos laboratórios, especializados em silício, da Universidade de Antuérpia, na Bélgica.

A coleta é feita de duas formas: navegando de barco pelo Rio Negro, com paradas a cada 2,5 quilômetros para observar capivaras e coletar material, e também nos lagos da região, onde as amostras são retiradas tanto da água doce quanto da salobra. “Nesses lagos, fazemos transecções, começamos no meio da água e seguimos até a margem, coletando material a cada cinco metros”, detalha Jonas.

“Nosso trabalho de campo envolve a coleta de vários tipos de amostras: amostras de água (para avaliar a qualidade da água), amostras de sedimento (para avaliar o armazenamento de silício), amostras de plantas (para medir o teor de silício na vegetação) e fezes de capivara (para determinar os níveis de silício no excremento). Também estamos realizando um experimento de dissolução para testar a rapidez com que o silício das fezes se dissolve na água”, completa.

A expectativa dos pesquisadores é que os resultados possam não apenas ampliar o conhecimento científico, mas também ajudar na conservação do bioma pantaneiro e no manejo sustentável de seus recursos. Inicialmente, a pesquisa foi planejada como uma única campanha de campo, porém agora deve ganhar continuidade.

“Agora que temos uma compreensão melhor do sistema, estamos seriamente considerando realizar uma segunda campanha, dessa vez na estação seca”, afirma Judith Fremout, pesquisadora da Universidade de Antuérpia. A brasileira Isabela Trentini também irá desenvolver sua tese de doutorado sobre o tema, garantindo a continuidade dos estudos.

O projeto reúne uma equipe formada por pesquisadores de instituições renomadas, como a Universidade de Antuérpia (Bélgica), a Universidade Estadual Paulista (Brasil) e o Instituto de Ecologia dos Países Baixos. Participam da pesquisa os professores Jonas Schoelynck, Eric Struyf, Mauro Galetti e Nacho Villar, além dos pesquisadores Dimitri Van Pelt, Isabela Trentini e Judith Fremout.

Foto: arquivo Pessoal

 

Por Inez Nazira

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