No dia em que a pequena faria 5 anos, pais falam sobre ressignificar dor pela perda da filha

Foto: Reprodução/ Arquivo Pessoal
Foto: Reprodução/ Arquivo Pessoal

Menina morta aos 2 anos e 7 meses era a alegria da casa e faria aniversário nesta segunda-feira

Um silêncio ensurdecedor. É assim que a casa de Jean Ocampo e Igor Andrade, pai biológico e afetivo de Sophia Ocampo, respectivamente, ficou após a morte precoce da menina, brutalmente assassinada pela mãe, Stephanie de Jesus da Silva e pelo padrasto, Christian Leitheim, aos 2 anos de 7 meses.

Este é o terceiro 2 de junho, data de aniversário de nascimento de Sophia, que o casal passa sem a presença da menina, que faria 5 anos em 2025, se não tivesse sido morta de forma tão brutal em 26 de janeiro de 2023. Apesar de já terem passado outras datas comemorativas, inclusive outros aniversários, sem a menina, eles fazem questão de enfatizar que a dor do luto nunca irá passar, mas estão aprendendo a ressignificar os momentos vividos ao lado da pequena.

“Ainda é muito difícil, eu não consigo me acostumar. Passamos pelo primeiro e pelo segundo, então, vamos passar também pelo terceiro aniversário, mas nunca será do mesmo jeito. Dói, porque a gente tem que continuar vivendo, a vida não para. A gente fala que no dia 26 de janeiro quem descansou foi a Sophia, porque a gente ficou e tem que lidar com isso”, afirma Jean Carlos, em entrevista ao jornal O Estado.

Recordando como era a rotina com a Sophia, Jean e Igor contam que, entre tantos momentos marcantes, sempre lembram como ela era uma menina de riso fácil e que sua alegria contagiava todos da família, inclusive os avós e tios paternos, que faziam parte da rede de apoio do casal e auxiliavam nos cuidados com a menina. Eles lembram que a maior parte do tempo era permeado de risadas e brincadeiras, especialmente quando ambos chegavam do trabalho e, para ela, já era motivo de festa.

Era nos dias passados na casa deles que a menina encontrava a alegria que não tinha na casa da mãe, onde era maltratada e sofria violências físicas, psicológicas e chegou a ser abusada sexualmente pelo padrasto, que foi condenado por assassinato e estupro de vulnerável. Ao todo, junto com a mãe da menina, os dois foram condenados a 52 anos de prisão em regime fechado.

Apesar de Sophia e os momentos com elas serem sempre lembrados, inclusive rendendo piadas internas entre o casal como forma de manter a memória da menina viva, eles não escondem que estão, constantemente, aprendendo a lidar com a ausência e ressignificar o que a Sophia é para eles.

“No dia 26 o tempo parou pra gente, mas a vida seguiu. Os problemas continuaram, as contas foram chegando, foi tudo acontecendo e o mundo seguiu o fluxo dele. O ciclo natural é os filhos enterrarem os pais, e não o contrário, tanto que não existe uma palavra para definir o significado dessa dor, não temos um nome para isso. Então, a gente tem aprendido a viver com essa ausência, com esse buraco que deixaram quando tiraram a Sophia de nós”, detalha Igor.

Ao que Jean completa: “Temos que colocar em prática a palavra ressignificar. Temos que ressignificar a falta que ela faz e as datas comemorativas, porque é Natal, Ano Novo, o aniversário dela, o dia 26 de janeiro, que sempre se repetem. Então, temos que dar um novo significado.

Para Jean, dar esse novo significado para as datas e para vida de Sophia, que foi tão breve e oscilou entre uma casa onde era livre para ser quem era e uma em que a violência era rotina, é uma questão de encontrar forças para seguir em frente, mesmo quando a saudade aperta e chorar fica inevitável.

“Quero levar aquilo que eu vivi com ela e o que ela foi para mim e para o Igor. Quero viver pela importância que ela foi pra gente e não pelo que fizeram com ela, porque, se eu focar no que fizeram com a Sophia, eu vou ficar doente e perder o sentido da vida, porque não tem como justificar a brutalidade do que fizeram com uma criança, ainda mais ela sendo um bebê na época. Hoje, eu me vendo sem a Sophia é muito dolorido e difícil”, explica Jean, em lágrimas.

Ressignificando o Natal e o 26 de junho

Uma das primeiras datas que voltaram a ser comemoradas pelo casal após a morte de Sophia foi o Natal. A decisão de realizar uma ceia entre família nesta data que a menina tanto gostava foi justamente para honrar a memória da Sophia, que sempre trouxe alegrias para a vida de ambos.

Para celebrar a data, além da ceia, Jean e Igor ainda montaram uma árvore de Natal com enfeites coloridos e fotos de Sophia em que ela aparece como sempre será lembrada: uma menina feliz, saudável e que contagiava a todos com sua alegria e inocência de criança.

“Eu comecei a enxergar minha vida de outra maneira, porque antes eu só conseguia ver a minha dor e o mal que fizeram com ela. Não conseguia ver quão maravilhoso foi ter sido pai dela. Eu creio que cada um tem o seu tempo e uma missão, mas o tempo dela foi tirado e o pouco que ela viveu, foi o melhor tempo da minha vida. Eu tive um aprendizado com ela nesses 2 anos e sete meses, que eu não tive a minha vida toda. Aquele Natal fizemos por ela, foi o Natal da Sophia”, destacou Jean.

A fim de marcar ainda mais esse primeiro Natal comemorado sem a filha, Jean presenteou Igor com um chaveiro, que eles fizeram questão de mostrar: uma foto de Igor com Sophia, em que eles aparecem abraçados e um pingente escrito “Papai Urso”, apelido pelo qual era chamado por ela.

“Ele chegou e me deu essa caixinha e disse ‘esse é da Sophia pra você’. Desde então, carrego comigo”, disse, destacando o carinho que a menina sentia por ele.

Já para o aniversário da menina, a intenção é visitar seu túmulo e recordar com saudade sua passagem tão breve pela vida.

Nova audiência

Após ser adiada em abril deste ano, a Justiça determinou que a audiência que irá apurar a acusação de maus-tratos e totura contra Sophia Ocampo, em que a mãe e o padrasto também figuram como réus, acontecerá no próximo dia 27.

Em relação a isso, Jean disse que será difícil reviver os momentos de dor e ouvir os novos depoimentos relatando o que a menina vivia dentro da casa da própria mãe. “Queremos apenas que a pena deles seja aumentada. Nada vai trazer a Sophia de volta, mas hoje já podemos afirmar que foram eles que mataram a nossa filha”, disse.

A expectativa também é grande, porque esta é a primeira vez que Igor será ouvido como testemunha do caso, desde que o processo começou, ainda em 2021.

Por Ana Clara Santos

 

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