As disciplinas das Humanas e Humanidades nunca foram tão “bem” reconhecidas nas “sociedades modernas” como são hoje pós-2016 no Brasil. Para infelicidade nossa, artista/humanista/filósofo, esses bons reconhecimentos nem são feitos pelas sociedades que necessitavam reconhecê-las, nas comunidades/escolas/universidades, menos ainda, para Políticos e Estados-Nações, as Artes/Humanidades/Filosofias são reconhecidas como de fato o deveriam ser.
Desde tempos antigos, pensadores/conhecimentos são argumentos para definir aqueles que definem e aqueles que devem ser definidos. Quer seja na Grécia antiga, quer seja na Era Renascentista, quer seja ainda na atualidade, em pleno vigor do século XXI, os conhecimentos foram e são armas letais em sociedades que se definem baseadas quase estritamente por meio da detenção de mais recursos financeiros, naturais e/ou políticos, para fins de dominação daqueles que menos os têm: os conhecimentos. Igualmente, conhecer e pensar definiram historicamente quem era e quem é capaz, uma minoria, de deter o direito de e ao conhecimento para controlar a maioria das pessoas que não era e não é capaz de pensar, mas que deve ser “capacitado” para seguir exclusivamente o que aqueles definiram/definem como conhecimento para a produção comercial.
Atualmente, esta realidade tem se concretizado nas escolas e universidades nos diferentes níveis, por meio de decretos, leis, políticas, documentos, ordens, mandos e desmandos de políticos partidaristas que têm reconhecido absurdamente a importância de não se ter, ou de ter o mínimo possível (e cada vez menos) de Artes/Humanidades/Filosofias nos currículos (a exemplo da BNCC (2017) e da “Reforma do Ensino Médio” de 2017). E, pior, as comunidades das escolas e universidades, bem como as comunidades não-político-partidárias e as não-escolares e não-universitárias, em alguns casos, não têm percebido essas armações/ações de controles por dominância do saber/conhecer pela pretensão e intenção — deflagrada como necessária — de ter que trabalhar/ter.
É evidente que uma sociedade sem Geografia, História, Sociologia, Antropologia, Filosofia, Arte, Educação e Cultura não é capaz de reconhecer, respectivamente, os espaços territoriais em disputas nas cidades; é uma sociedade que não tem história para além daquela que lhes é contada por discursos dominantes opressores; não reconhece organizações sociais e sociedades diferentes dessa que nós temos constituída/organizada/submetida (político, ético e esteticamente) em bases ideológicas controladoras que impedem o pensamento livre: religiosa-única, masculina-heteronormativa e baseada numa ideia de conhecimento que é de dominância branca, de classe alta e de compreensão apenas daqueles que falam determinadas línguas hegemônicas. A velha doxa de padrões coloniais definidos com bases em raça, gênero, classe, fé (cristã), línguas e ciência modernos.
Da mesma forma, sociedades sem autocontrole de suas habilidades e sanidades, crítica e intelectual, sem autonomia de pensamento são incapazes de produzir Arte, Conhecimento (Educação) e Cultura sem intervenções e/ou submissões à/daqueles que querem o domínio dos corpos e das mentes exclusivamente para o trabalho-operário, a fim de, cada vez mais, obrigá-los ao sistema exploratório e ao controle. Uma sociedade crítica e — humanística e intelectualmente — consciente impede o controle estratégico (político) de seus corpos e de suas subjetividades, controle construído ideologicamente excludente das diferenças que existem nas formas de ser, sentir, saber, pensar e fazer artes, culturas e conhecimentos diferentes.
É preciso saber mais que ler determinadas palavras de manuais operatórios, e, mais ainda, é estratégico ao autocontrole saber mais que operar equações numéricas restritas a acúmulos financeiros. O conhecimento das geografias, histórias, sociologias, antropologias, filosofias, artes, culturas e conhecimentos diferentes — acessado por meio de uma Educação emancipatória que deve ser e ter autonomia de cátedra de professores/as, bem como das instituições de ensino e pesquisas (Escolas e Universidades) — é garantidor de conquistas caras às sociedades modernas em qualquer lugar do planeta: o direito de ir e vir, ao voto, o direito à democracia, a uma justiça cega, o direito ao livre pensamento e a uma política ética e a uma estética da sensibilidades.
Moral desta nossa situação histórica atual: políticos/estados-nações, por ódio em saber do poder das humanas/humanidades, estão distorcendo a importância e os valores das Artes/Humanidades/Filosofias, bem como das geografias, histórias, sociologias e antropologias para emburrecer e continuarem colonizando/controlando as comunidades/escolas/universidades como operárias que desconhecem a importância dos conhecimentos, se tendo cada vez mais artes, humanidades e filosofias diferentes em seus espaços de convivência diários.
Prof. Dr. Marcos Antônio Bessa-Oliveira é Professor na UEMS (graduação, mestrado e doutorado) e coordenador do NAV(r)E (UEMS/CNPq). E-mail: [email protected]
Este artigo é resultado da parceria entre o Jornal O Estado de Mato Grosso do Sul e o FEFICH – Fórum Estadual de Filosofia e Ciências Humanas de MS.
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