Projeto leva atividades para crianças nos bairros Noroeste e Anache, e celebra o Dia do Graffiti no Jardim Nhanhá no domingo
Entre os muros, paredes e telas de Campo Grande, é impossível não notar a explosão de cores, formas e linhas que dão vida à cidade. Grande parte dessa arte é fruto do trabalho de grafiteiros, que, por meio de suas expressões, transformam o espaço urbano, criando harmonia e transmitindo mensagens. Com esse objetivo, começa hoje a 3ª edição do Campão Graffiti, que vai até domingo (9). A iniciativa levará cor e arte para três bairros da periferia de Campo Grande: Nhanhá, Noroeste e Anache.
O projeto começa hoje, dia 6, com oficinas na escola municipal do Jardim Noroeste, seguida por outra no Anache, amanhã, dia 7. No domingo, dia 9, o evento se reúne na ONG Núcleo Humanitário da Vila Nhanhá. O Campão Graffiti promete transformar a paisagem do bairro, trazendo cores, formas e muita expressão artística, reunindo artistas locais e nacionais em um grande encontro de criatividade e intercâmbio cultural.
A iniciativa conta com a participação especial do grafiteiro amazonense André Hulk, que conduz oficinas na quinta (6) e na sexta (7). As aulas serão promovidas para alunos das escolas municipais Ione Catarina Gianoti Igydio (Noroeste) e Prof João Cândido de Souza, que ficam próximas às aldeias urbanas Darcy Ribeiro e Água Bonita, respectivamente. Aqui, o foco é a conexão entre o graffiti urbano e o grafismo ancestral.
O Campão Graffiti também contará com uma programação diversificada, repleta de atrações culturais para todos os públicos. No dia 9, O evento terá apresentações musicais dos MCs Pretisa, de Dourados, e Sb Gui, de Campo Grande, além de performances de B-boys, B-girls e DJs, trazendo o melhor da cultura Hip Hop para as ruas. Para as crianças, haverá atividades recreativas como pula-pula, distribuição de doces e pipoca.
Os artistas selecionados para o Campão Graffiti receberão um cachê de R$ 400, um kit de pintura, alimentação durante o evento e brindes especiais. Além disso, o evento contará com a participação de artistas internacionais, como Ares Pillas, de Luque (Paraguai), e ArteurbanaPY, de Pedro Juan Caballero, além de criadores de outros estados brasileiros, incluindo o Rio de Janeiro.
Para André, um dos destaques do evento, participar do projeto é uma oportunidade única de troca e crescimento. “Esse evento conecta artistas locais e nacionais, fortalecendo a cena e ampliando horizontes. O graffiti é ancestralidade, história e expressão. Compartilhar essa experiência com outras pessoas é muito gratificante”, finaliza o artista.
Arte que nasce das Ruas
Idealizado pelo artista San Martinez, A ideia de criar o Campão Graffiti surgiu da necessidade de organizar eventos pelos próprios artistas e de legalizar os muros nas periferias, transformando esses espaços em fontes de cor e expressão. A proposta é levar arte para os centros comunitários, que são as bases fundamentais da reconstrução social e política dessas comunidades.
Além disso, o projeto busca resgatar atividades culturais, como aulas de violão, que se tornaram escassas devido ao avanço da tecnologia e à falta de apoio a iniciativas culturais na periferia. O grafite, portanto, se apresenta como uma forma política de ocupar espaços públicos, garantindo o direito à cultura para todos, e promovendo o desenvolvimento das comunidades em seu próprio ambiente.
“O grafite, além de ser uma ferramenta poderosa de expressão, nos permite conhecer a cidade e seus bairros de forma lúdica, através das cores que refletem a formação e o contexto dos próprios artistas. Com 17 anos de vivência nesse cenário, posso afirmar que o grafite não apenas transforma vidas, mas também uma nova perspectiva de realidade”, explicou.
Sendo uma das principais formas de expressão do movimento hip-hop, o grafite nasceu nas ruas de Nova York entre 1976 e 1977, e rapidamente se espalhou pelas grandes cidades ao redor do mundo. Originalmente uma resposta dos marginalizados às dificuldades enfrentadas nas periferias, o grafite se tornou uma poderosa ferramenta de protesto e afirmação, transformando muros e paredes em espaços de visibilidade e resistência.
“A arte do Grafite se tornou uma forma de protesto, um meio de contar histórias e expressar pensamentos nos muros urbanos. Além disso, ele exige constante pesquisa, estudo de desenhos, trabalho com tintas e formas, ampliando os horizontes artísticos e se tornando uma verdadeira ferramenta de criatividade e expansão”, afirma San.
Colorindo Tudo
Neste ano, o Campão Graffiti será realizado no dia 9 de março, um domingo, tradicionalmente dedicado à reunião dos grafiteiros, que aproveitam o dia para pintar e trocar ideias. O evento visa fortalecer a cultura do graffiti no estado, proporcionando um espaço onde cada região pode celebrar sua própria versão do “Dia do Grafite”. Em São Paulo, a data foi oficializada após a morte do artista Alex Varal, pioneiro da arte urbana, e passou a integrar o calendário cultural da cidade.
“No nosso estado, ainda há desafios, como a falta de apoio e financiamento à cultura, o que exige que os artistas busquem constantemente recursos por meio de projetos. Este ano, o evento coincide com o Dia Internacional da Mulher, e, em homenagem, as grafiteiras receberão kits da Colorgin e participarão de sorteios. A confraternização busca também valorizar o trabalho das poucas mulheres grafiteiras na cidade, que, apesar de não serem muitas, têm se destacado muito na cena”, relata San.
Além de San e André, o projeto conta com a participação ativa de mais seis artistas, sul-mato-grossenses, selecionados em chamamento público, são eles: Thalya Ariadna Veron (Thapz), Gislene Brandão (La Bruxa/Dourados), Karoline de Souza (Krol), Carlos Henrique Higa (Pune), Felipe Martins (Mago do Pântano) e Denis Vitor de Souza (Lessarteiro/Três Lagoas).
“É a minha segunda vez em Campo Grande. Já tive a oportunidade de estar em outro momento e foi uma experiência incrível. Agora, retorno com grandes expectativas de viver mais uma troca enriquecedora, fortalecer meu trabalho e mergulhar ainda mais na cultura do Mato Grosso do Sul”, finaliza André.
Serviço
O Campão Grafiti começa com as oficinas na Escola Municipal Ione Catarina Gianotti Igydio (Jardim Noroeste), na quinta (6), na Escola Municipal Professor João Cândido de Souza (Jardim Anache), na sexta-feira (7), sempre às 13h.No dia 9 de março (domingo), na ONG Núcleo Humanitário da Vila Nhanhá, das 8h às 19h, Rua do Comércio, n.º 149.
Amanda Ferreira