Superar o analfabetismo, elevar a escolaridade e ampliar a oferta de matrículas na EJA (Educação de Jovens e Adultos) nos sistemas públicos de ensino. Esses são alguns dos objetivos que orientam as mobilizações para o incentivo à matrícula de estudantes na modalidade EJA em Campo Grande. Mas, ao observar os números de matrícula nos últimos anos, surgem questionamentos sobre a eficácia das ações para atrair os alunos de volta às salas de aula.
Em 2022, a EJA em Campo Grande contava com 1.628 alunos matriculados, segundo dados do Censo Escolar. Esse número caiu para 1.590 em 2023, e para 1.532 em 2024. Até fevereiro de 2025, haviam sido matriculados apenas 585 alunos – um número consideravelmente abaixo do total registrado nos anos anteriores, considerando que a matrícula é feita ao longo do ano.
O cenário levanta a seguinte questão: o que está acontecendo para que o número de matrículas na EJA caia de forma constante? A Prefeitura de Campo Grande e a SEMED (Secretaria Municipal de Educação) estão realizando uma busca ativa entre fevereiro e março para tentar reverter essa tendência. Técnicos da SEMED estão visitando escolas, Postos de Saúde e CRAS (Centros de Referência de Assistência Social), distribuindo panfletos e instalando faixas informativas para sensibilizar a comunidade sobre a importância de retomar os estudos.
“Nosso objetivo é alcançar aqueles que desejam concluir a educação básica, e é por isso que estamos intensificando o trabalho de mobilização. A ideia é captar esses alunos e garantir que eles possam dar sequência aos seus estudos”, explica Gildiney Alencar, técnico da SEMED, responsável pela área de EJA.
As escolas de EJA em Campo Grande oferecem atendimento em diferentes fases de ensino: as séries iniciais, do 4º ao 5º ano, as fases intermediárias, do 6º ao 7º ano, e as fases finais, que abrangem a adolescência e, atualmente, representam o maior público.
Marcele Vilalba, diretora da Escola Nerone Maiolino, destaca que a divulgação da EJA já começou nos bairros Tarsila do Amaral, Anashe, Nova Lima, Columbia e Vida Nova. O objetivo é alcançar o maior número possível de alunos que precisam retomar seus estudos.
Em meio a esses esforços de mobilização com vagas disponíveis em todas as unidades, o número de matriculados não tem acompanhado as expectativas. Até o momento, a matrícula de 585 alunos em 2025 ainda está distante do total de 1.532 registrados no final de 2024.
“Essa baixa adesão ao longo dos anos é preocupante, especialmente porque estamos falando de uma modalidade de ensino que pode transformar a vida de milhares de pessoas que não concluíram a educação básica no tempo regular”, afirma Ana Dorsa, superintendente de Políticas Educacionais.
O impacto dos incentivos financeiros e a continuidade da mobilização
Em 2025, a EJA conta com o incentivo do programa federal Pé-de-Meia, que oferece apoio financeiro aos alunos do ensino médio e EJA, com pagamentos de até R$ 225 por semestre. Para aqueles que concluírem os estudos com aprovação, o valor pode chegar a até R$ 9,2 mil. Esses incentivos têm como objetivo garantir a permanência dos alunos nas escolas, principalmente para aqueles que têm dificuldades financeiras.
No entanto, os dados de matrícula ainda não refletem um grande impacto dessas iniciativas. A pergunta que se impõe é: será que os incentivos financeiros são suficientes para atrair mais estudantes para a EJA, ou seria necessário um esforço ainda maior para superar as barreiras que impedem o acesso e a permanência desses alunos no sistema educacional?
A expectativa é que, com os esforços intensificados até março e os programas de incentivo, a situação melhore ao longo de 2025. No entanto, a cidade enfrenta desafios importantes, e o sucesso das mobilizações e das ações de incentivo dependerá de como essas questões estruturais serão tratadas ao longo do ano.
Por Suelen Morales