Lesão pulmonar associada ao uso do cigarro eletrônico é identificada
A alta incidência de diagnósticos de câncer de cabeça e pescoço na Capital preocupa especialistas, que apontam como principal causa o tabagismo. Nos últimos anos, o cigarro eletrônico, conhecido popularmente como “vape”, virou tendência de consumo, em especial entre os mais jovens. Além desse fator, para os profissionais da saúde o diagnóstico tardio é outro dado alarmante.
Na Capital, o HCAA (Hospital de Câncer Alfredo Abrão), hospital referência no tratamento contra o câncer no Mato Grosso do Sul, relata que os casos oncológicos de cabeça e pescoço têm aumentado nos últimos dois anos. Segundo o hospital, apenas no ano de 2023 e 2024, somaram-se mais de 900 tratamentos. Um dos fatores que mais preocupam os especialistas é o diagnóstico tardio.
“Esse é o nosso grande problema no caso de câncer de cabeça e pescoço. O diagnóstico é feito tardiamente. Então, por isso que eu digo, e sempre reforço, que é tão importante a gente falar desses sinais”, disse o cirurgião especialista em cabeça e pescoço, Carlos Freitas.
O cirurgião, que atua na área há mais de 30 anos, afirma que é simples identificar os sintomas. “Dor para engolir, mudança na voz, uma ferida na boca, no lábio ou na garganta. Além disso, nódulos no pescoço podem aparecer como dor de garganta. Logo a pessoa começa a ter dor para engolir ou mudança na voz, também pode ficar rouca, ou a voz fica mais fraca… esses também são sintomas”, descreve. Carlos Freitas ainda ressalta sobre a persistência dos sintomas. Segundo ele, se persistirem por mais de duas semanas, o recomendável é procurar um especialista.
Uso do cigarro eletrônico é mais entre homens de 18 a 24 anos
Embora a predisposição possa ser um fator crucial para o surgimento de uma doença, o tabagismo segue como uma das principais causas de alta incidência nos diagnósticos de câncer.
De acordo com o relatório elaborado pela Divisão de Controle do Tabagismo, em relação ao atendimento no SUS (Sistema Único de Saúde) no ano de 2023, 226.269 pessoas buscaram as unidades de saúde do país em busca de tratamento do tabagismo. Entre as regiões do Brasil, o Centro-Oeste é a terceira região do país a buscar tratamento para cessação do tabagismo no SUS.
Mesmo com a proibição pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) desde 2009, o uso de cigarros eletrônicos continua a crescer. Um dos dados mais preocupantes é a adesão do popular vape entre os jovens brasileiros. Ainda, dados do INCA (Instituto Nacional de Câncer) indicam que a popularidade dos cigarros eletrônicos é maior entre homens de 18 a 24 anos e pessoas com maior nível de escolaridade.
Dupla dependência e lesão pulmonar
Embora os cigarros eletrônicos sejam frequentemente vistos como uma alternativa mais segura aos cigarros tradicionais, especialistas alertam que essa percepção está longe de refletir a realidade. Conforme explica o pneumologista da Unimed Campo Grande, Dr. Henrique Ferreira de Brito, o vapor inalado pelos usuários contém substâncias tóxicas que podem causar inflamações nos pulmões, aumentando o risco de doenças como bronquite crônica e DPOC (doença pulmonar obstrutiva crônica).
Segundo ele, há fortes evidências de que o uso de vapes também está associado a problemas no sistema cardiovascular, como elevação da pressão arterial, aumento dos níveis de adrenalina e maior risco de infartos e AVC (acidentes vasculares cerebrais).
O pneumologista também alerta sobre o EVALI, uma doença associada ao uso do cigarro eletrônico “Tem a EVALI, uma sigla em inglês que significa ‘lesão pulmonar associada ao uso de cigarro eletrônico’, que causa inflamação pulmonar de maior ou menor grau, além de outras doenças facilitadoras, como aumento de casos pneumonia bacterianas e virais, predisposição a doenças neoplásicas, então os riscos são muitos”.
A venda ilegal dos vapes é um desafio que, aliado à falta de informação sobre os riscos, tem agravado o cenário. Especialistas alertam que, além dos danos à saúde física, o uso prolongado pode desencadear dependência e outras consequências psicológicas. “Não existem estudos atuais que apresentem benefícios do uso do cigarro eletrônico no intuito de deixar de fazer o uso do cigarro convencional. Pelo contrário, estamos observando que as pessoas que fazem o uso de um, na tentativa de parar de usar o outro, estão ficando com dupla dependência”, conclui Henrique Ferreira.
Por Ana Cavalcante