O ex-governador, presidente estadual do PSDB e tesoureiro nacional do partido, concedeu entrevista ao jornal O Estado onde comentou sobre o futuro político do partido e traçou uma análise da atual situação do país e como deve ficar o ninho tucano. Mas Azambuja deixou claro que Lula4 não será possível existir.
Na visão do ex-governador, o Lula 3, atual governo não se reciclou e tem pecado em muitos projetos e condução para o país.
Sobre o futuro do PSDB numa provável reformulação política, Reinaldo Azambuja deixou claro que a ideia do partido, que ele define como de centro-direita não é ser incorporado e desaparecer. Pois o partido tem sua história construída ao longo dos anos e a tendência que ele vê pode ser uma grande federação ou fusão com outros partidos, Conversas existem com PSD, Republicanos, MDB, Podemos e Solidariedade, mas ao final tudo vai depender do projeto para o país e os estados em 2026. Acompanhe a entrevista:
O Estado: O assunto do momento é a reforma partidária. O presidente nacional do PSDB, Marconi Perigo, esteve aqui e o senhor declarou nas redes sociais que a partir desse encontro começaram as negociações. Mas em que sentido?
Reinado Azambuja: Eu falei para você na última fala que nós tivemos que nós vamos ter uma grande reformulação dos partidos políticos no Brasil. Ficando mais à esquerda o PT, o PCdoB, o PSOL que já estão, mais à direita o PL e mais ao centro um reposicionamento das forças políticas pela reforma eleitoral que impede coligação, que impede a união como fazia no passado. Acredito que o PSDB vai buscar uma alternativa de fortalecimento com alguma dessas forças mais ao centro.
Nem tanto à direita, nem tanto à esquerda. Temos várias opções, com o PSD do Kassab, conversa com o MDB, do Baleia e Temer, conversa com o Republicanos, do Marcos Pereira e uma conversa também de uma fusão com o Podemos, talvez Solidariedade e talvez mais alguns dois partidos juntos que incorporaria uma fusão, um novo partido, uma nova estrutura.
A meu ver o que vai acontecer vai ser qual o projeto que esses partidos têm a nível nacional. Eu não acredito o PSDB validando a continuidade do que está aí. É o governo do Lula, até porque a gente sempre foi antagônico e piorou muito nesse terceiro mandato.
Eu entendo que nós precisamos evoluir o Brasil. É uma potência, mas que precisa atacar os grandes problemas que existem. Eu acredito que o PSDB vai sim passar por um processo, não acredito em incorporação.
Acredito em fusão ou federação para encorpar o tamanho e para ter um projeto nacional para 2026.
O Estado: É exatamente o que eu ia perguntar, porque existem várias correntes dentro do PSDB que não querem que o partido acabe. E a única saída seria ou uma fusão ou a federação, porque incorporou e de repente some o PSDB.
Reinaldo Azambuja: A incorporação, quando você é incorporado por alguém, você desaparece. Então, eu acredito que esse caminho não vai haver. O PSDB não tem por que desaparecer com um partido que tem uma história.
Agora, você muitas vezes pode fazer uma fusão com outras siglas e dessa fusão surgiu um novo partido, com umas novas ideias, mais moderno, mais abrangente nos grandes problemas que o Brasil tem, principalmente porque nós estamos hoje com um grande desequilíbrio fiscal. A volta daquilo que a gente sempre preconizou, as estatais dando prejuízo. As políticas públicas não estão correndo com a velocidade com que o país precisa. Os investimentos públicos não conseguem avançar no tamanho que a iniciativa privada tem avançado. Então, nós precisamos reformular isso. Políticas públicas, diminuição da extrema pobreza.
Você pega os números hoje, principalmente das regiões mais empobrecidas do Brasil, Norte, Nordeste, a educação pública brasileira. Precisamos evoluir. Eu acredito muito que o que vai ocorrer no ano de 2025, vai ser uma ampla discussão dos partidos de centro desenhando um projeto nacional para 2026. E aí, não tenho dúvida, o PSDB vai estar inserido. Para nós, em Mato Grosso do Sul, com todos eles a gente se dá bem. Nós não temos dificuldade de conversar com o PSD, do Kassab e do Nelsinho, com o Republicano, com o Marcos Pereira. E aqui tem Vaz, tem Herculano, tem Neto, que são lideranças. Não temos dificuldade hoje com o MDB.
O MDB local hoje, André, Moka, Junior Mochi, Renato Câmara, Marcio Fernandes. As lideranças, a própria ministra Simone, dialogam muito bem com o Eduardo, com todos nós do governo. Como também não temos dificuldade em conversar com o Podemos, Renata Abreu, a própria Soraya.
Agora, eu acho que é muito cedo ainda para tomada de decisão. Não precisamos ter pressa. Por que pressa? E acho que vai passar a decisão do PSDB qual projeto nacional, qual as políticas públicas que nós vamos desenhar para o pleito de 2026. Acho que esse é o grande exercício que nós vamos fazer. E aí nós temos tempo para qualquer tomada de decisão. Agora, o PSDB que você conhece, tem uma história, e essa história não vai ser apagada fazendo incorporação. Então, eu acredito muito que nós vamos fazer ou uma fusão, ou uma grande federação com a política para 2026.
O Estado: Mas também se fala que não compensa muito se unir a um partido menor. Que no final das contas quem acabaria sendo prejudicado seria o próprio PSDB.
Reinaldo Azambuja: Entendo que nós temos que unir para ficar maior. Então, acho que nós temos que pensar em uma fusão, primeiro de ideias. Não é juntar um com o outro que não tem nada a ver com o que a gente pensa. O PSDB é um partido que trouxe Plano Real, estabilidade da moeda, privatizações, concessões, modernizou o Estado brasileiro, iniciou os programas sociais. Você lembra hoje, se você pegar o Bolsa Escola, Bolsa Família, Vale Gás. Tudo isso oriundo da dona Ruth Cardoso que idealizou um programa de apoio às famílias mais vulneráveis do Brasil que funcionou bem. Um programa extenso, hoje tem estados brasileiros, se você analisar, tem mais pessoas no Bolsa Família do que com carteira assinada de trabalho. Esse é o grande desafio, fazer com que haja oportunidades para essas pessoas que estão excluídas hoje do mercado de trabalho, de ter um crescimento social digno.
E agora, ninguém pode ficar para trás. Então, acho que começou com o Fernando Henrique, com Vale Gás e Bolsa Escola e hoje desenrolou. Agora nós precisamos mudar a política. E só acredito que a gente vai mudar isso mudando realmente o governo central no ano de 2026.
O Estado: Agora recentemente teve uma reunião em São Paulo do MDB eles estavam discutindo essa fusão, essa incorporação junto com o PSDB. Mas no começo do mês saíram notícias de que nacionalmente existiam alguns problemas regionais para ser criada essa incorporação, fusão. Como é que o senhor vê toda essa questão? O senhor tem acompanhado?
Reinaldo Azambuja: Tenho. Com qualquer partido que você tratar, vamos dizer, PSDB, MDB, Republicanos ou Podemos, existem problemas regionais. Você não tem uma unidade de pensamento, tem que ver o que eu entendo e o Marconi veio conversar comigo e com o Eduardo. Qual o desenho do projeto nacional para 2026? Aqui nós temos uma prioridade, que é a reeleição do governador. Para consolidar um trabalho, nós iniciamos um trabalho de oito anos. O Eduardo está no segundo ano de mandato, iniciando agora o terceiro ano.
Implementando aquelas políticas que nós iniciamos lá no ano de 2015 e essa continuidade tem ajudado, tem feito bem para Mato Grosso do Sul. O Estado está equilibrado, tem as finanças controladas, tem investimento público e privado, tem desenvolvimento econômico, tem geração de empregos, tem programas sociais.
Então, nós conseguimos construir, tem uma das menores taxas de pobreza extrema do Brasil, tem uma das melhores ações de segurança pública do Brasil. Nós estamos hoje considerados o terceiro Estado mais seguro do Brasil e segurança pública talvez é a pauta hoje que mais chama a atenção da sociedade. Agora, nós temos que ver qual o melhor ou aquilo que agrega mais valor. Tem uma cisão, acho que nós temos que tentar isso, não na unanimidade, mas aonde você tem maior convergência e maior consenso. Então, acredito que o caminho tanto do Aécio, do Marconi, respeitar os dois governadores, Eduardo Leite e Eduardo Riedel, porque eles são realmente o grande ativo.
E ouvir a bancada também, embora uma bancada pequena, mas uma bancada com muita qualidade. Então, tem que ouvir isso e eu acredito que isso vai se desenrolar ainda no primeiro semestre e nós teremos um panorama para qual encaminhamento o PSDB vai dar.
O Estado: Isso significa que no segundo semestre tudo deve estar definido.
Reinaldo Azambuja: Acredito que no segundo semestre nós temos um horizonte. Ou fez uma federação ampla, ou fez uma fusão e criou uma nova estrutura partidária com um projeto desenhado, ideais para disputa em 2026 a nível federal e também as grandes montagens dos palanques regionais.
O Estado: Agora, isso então significa que toda essa história que veiculou aqui do Estado de que o senhor assumiria o PL, o governador poderia ir para o PSD ou até o senhor mesmo, isso nunca existiu?
Reinaldo Azambuja: Não, existiu. Nós fomos convidados. Foi quando o apoio do PL ao candidato Beto Pereira. Esse convite está em pé para que a gente assuma o partido. Agora, nós dissemos, tanto eu como o Riedel, temos uma história de filiação num único partido. A gente não sai pelas portas do fundo. Nós temos um processo de transição aí.
O PSDB vai fazer fusão, vai fazer federação, a gente concorda com isso ou não concorda com isso. O que eu entendo é que o PL cresceu muito a nível nacional e nós temos que agora entender qual o projeto que o PL tem para 2026. Nós temos a liderança maior que é o ex-presidente Bolsonaro. Convivi com ele em quatro anos no governo muito bem, tivemos grandes avanços em parcerias e projetos públicos, mas nós sabemos que o presidente já está com o processo de inelegibilidade.
Consegue votar à anistia, consegue derrubar isso, consegue mudar isso, é o Congresso Nacional que vai ter que decidir e o Poder Judiciário. Então, nós temos um tempo para que o PL decida qual o encaminhamento, qual o projeto que eles vão ter com a possibilidade de o presidente ser candidato. Eu não tenho dúvida que ele é o candidato, mas e se não puder ser candidato? Qual a candidatura que o PL entende colocar a nível nacional? De repente pode ser uma candidatura convergente até com os ideais e com aquilo que a gente pensa.
Então, eu acho que a política vai se desenhar no ano de 2025 com todas essas discussões que estão tendo aí, tem anistia, não tem anistia, revoga a inelegibilidade, não revoga, tribunal rejeita, a inelegibilidade já está posta. O TSE já determinou que o presidente está inelegível, então, precisa reverter isso para que ele possa concorrer no pleito de 2026.
O Estado: Isso significa que Lula 4 Não vingará?
Reinaldo Azambuja: Lula 4 não. Para mim, falando por mim, não pelo governo, para mim Lula 4 é muito ruim para o país. Eu acho que já está de bom tamanho parar aí no Lula 3, porque o Brasil precisa modernizar, precisa evoluir, precisa de políticas públicas com consistência. Eu não vejo isso no Lula dando conta de abarcar essa modernidade que o Brasil precisa para ser competitivo no mundo. Então eu acho que Lula 4, para mim, não.
O Estado: Temos direita, tem esquerda, tem centro e o PSDB, onde se encaixa?
Reinaldo Azambuja: O PSDB sempre foi um partido de centro-direita. Nunca foi um partido de esquerda. Embora tenha algumas políticas públicas, mas o Fernando Henrique foi um presidente de centro-direita. Fez o seu trabalho, fez o desenvolvimento, governamos vários estados brasileiros, fizemos aí uma boa política pública. O exemplo está aqui, Mato Grosso do Sul, você pega o Eduardo Leite, Rio Grande do Sul era um estado extremamente quebrado, teve aí problemas climáticos extremos, seca extrema e a maior enchente. Praticamente ninguém desenvolveu o estado e ele está dando conta, desenvolvimento, crescimento, boas políticas.
O Estado: Agora, o senhor candidato ao Senado, já pensou com quem o senhor dobra?
Reinaldo Azambuja: Essa é uma discussão muito prematura ainda. A prioridade nossa é construir um palanque forte para a reeleição do Eduardo Riedel. Essa é a minha prioridade, algumas pessoas dizem, ah vai votar o governo. Ao contrário, acho que oito anos de um trabalho extenso, bem feito, com desafios, com enfrentamento, com incompreensões. Você mesmo acompanhou as incompreensões, a gente entende, porque eu tive que fazer mudanças conceituais, reformas, que muitas vezes incomodam alguns setores, mas que foram necessárias. Se a gente não tivesse feito aquilo no início de 2015, o Estado não estaria no patamar de pleno emprego, menor pobreza, grandes programas, avanços sociais, desenvolvimento econômico. Hoje, Mato Grosso do Sul é o maior PIB do Brasil.
Foi repetido agora recentemente pela revista Veja, por vários órgãos de imprensa, que mostraram que Mato Grosso do Sul é a bola da vez de desenvolvimento, de confiabilidade, políticas de prioridade. Nesse contexto, tem duas vagas de Senado. Nós temos que ver qual a construção desse palanque, com quem nós vamos estar, qual o projeto nacional que vai estar atrelado a isso.
Então, não temos pressa para isso, até porque o governador tem aí um extenso ano de 2025 de muito trabalho. Nós temos muitas coisas positivas acontecendo em Mato Grosso do Sul e no momento oportuno nós vamos decidir. Eu tomei um café da manhã esse dia com uma liderança, no meu apartamento, que me disse, uma vaga é sua e eu gostaria que a outra fosse minha. Vamos fazer você e eu candidato ao Senado. Eu falei, amigo, o futuro a Deus pertence. Ainda olhei para ele e perguntei, será que nós vamos estar vivos em 2026? É porque Deus que sabe o futuro. Então, eu não tenho pressa para tomada de decisão. Agora, nós construímos palanques fortes na eleição de 24. O partido cresceu e os aliados cresceram, porque também nós temos vários aliados que nós ajudamos a eleger prefeito.
Agora, nós precisamos continuar a boa política pública para montar um palanque forte para a reeleição do Eduardo. E aí sim, com certeza, com duas candidaturas ao Senado que também tenham força para encantar a população de Mato Grosso do Sul.
O Estado: E essa liderança quem é?
Reinaldo Azambuja: Aí você está querendo saber demais. E não é só uma, já fui procurado por outras também. Eu sempre digo uma coisa, quem decide, hoje não tem cabresto para votar. O eleitor está livre, está informado, tem conhecimento. E outro, dos 100%, 25%, 26, 27% não votam em ninguém, que já são as abstenções, branco e nulo. Isso já tem sido em todas as eleições. Então, você está falando de 74%, 73% do eleitorado que vai decidir o que quer para o futuro de Mato Grosso do Sul.
Eu, como gestor e com uma trajetória política, tenho muito orgulho do nosso trabalho. Mudamos o Estado, o Estado hoje cresceu, desenvolveu. Então, acho que continuar isso é muito bom.
E duas vagas de Senado que vai ser discutido com os partidos aliados. E dentro dos aliados, vão ver quem queira caminhar no projeto de reeleição do governador Eduardo.
O Estado: Por falar em aliado, o PT hoje está no governo, que foi um dos aliados na eleição do governador Riedel. Essa história pode continuar para 2026 ou tende a se modificar totalmente?
Reinaldo Azambuja: Eles estão no governo, ajudam muito nas políticas públicas, ajudam algumas políticas em Brasília. Só que precisamos modernizar a nível federal. Eu entendo que o Lula 3 é um Lula atrasado. Não modernizou, não se reciclou para melhor. Tem uma política ainda de gastança no setor público, não procura economizar. Tem um desequilíbrio fiscal, a inflação dos alimentos muito forte. Não olha com bons olhos o setor que segurou o Brasil nos piores anos, que é o setor do agronegócio. Eles não têm um olhar. Estimula o conflito das invasões de terra, os conflitos indígenas.
Nós temos soluções possíveis. Nós já temos as áreas definidas em Mato Grosso do Sul. Vamos sentar o governo federal como foi feito agora recentemente. Antônio João resolveu um impasse de séculos, de anos, de uma briga, indenizando os produtores. Porque o produtor é de boa-fé. Se você pegar os títulos remanescentes em Mato Grosso do Sul, lá os iniciais foram a União que titulou. Então, são produtores de boa-fé. Agora essa discussão de marco temporal, essa discussão, acho que o PT não se reciclou nisso, está atrasado em algumas políticas públicas, em obras estruturantes. Então acredito que se mudar muito, não sei o que pode acontecer, mas acho muito difícil em 2026 nós termos uma aliança geral.
Então, acho que nós temos que aproveitar esses bons quadros, as boas ideias e construirmos para 2026 um projeto de centro-direita para o Brasil, que englobe essas políticas que nós falamos para você. Controle fiscal, debelar inflação, crescimento econômico, geração de emprego, obras estruturantes. Nós temos aí avanços que são importantes, ferrovias, hidrovias.
Nós estamos aí discutindo com o IBAMA, com o Meio Ambiente, a hidrovia Corumbá divisa com Paraguai, isso é um absurdo. O que afeta o Meio Ambiente você dragar 3, 4 pontos, que é simplesmente tirar, não é nem retificar o calado do rio não, é tirar o sedimento, a areia que veio da erosão e jogar no barranco do rio para poder dar navegabilidade para as riquezas produzidas no Estado. E a gente fica discutindo isso com o Meio Ambiente, com uma questão ideológica muito nefasta ao desenvolvimento do Brasil.
Então, acho que isso tem que ser combatido e nós temos que combater isso. Não é o liberou geral, nós somos o único Estado que tem um projeto de sustentabilidade que é MS Carbono Neutro em 2030. Nenhum Estado brasileiro, nem os governados pelo PT que tem essa bandeira ambiental, conseguiram fazer isso, nós conseguimos em Mato Grosso do Sul.
Então eu acredito que nós precisamos avançar em políticas que deem resultado para as demandas da população. Segurança Pública tem que ter um olhar, Rio, São Paulo, Bahia, alguns Estados estão explodindo, facções criminosas, insegurança da população, saúde pública, montar uns programas aí que são importantes. Então eu acredito que o PSDB ou numa fusão, ou ampla federação, vai estar num projeto de centro-direita discutindo política para o Brasil e acho que esse é o melhor caminho para o nosso país a partir de 2026.
Por Alberto Gonçalves