Herdeiros do Samba: Composta por foliões mirins, escola com samba-enredo “De Baiana à Imortal” abrirá os desfiles de carnaval

Foto: Arquivo de Marilia da Luz
Foto: Arquivo de Marilia da Luz

O Carnaval de Campo Grande já está a todo vapor, e o Jornal O Estado inicia uma série de reportagens especiais sobre as escolas de samba que irão agitar as ruas da cidade. Nos dias 3 e 4 de março, a partir das 19h, sete agremiações se apresentarão na Avenida, levando alegria e tradição ao público. A Herdeiros do Samba abrirá os desfiles no dia 3 de março, seguidos por Deixa Falar, Igrejinha, Unidos da Vila Carvalho, Os Catedráticos do Samba, Unidos do Cruzeiro e Cinderela Tradição. A cobertura começa com um destaque especial para a escola mirim.

Associação Recreativa Escola de Samba Mirim Herdeiros do Samba, fundada em 17 de março de 2007, é a primeira e única escola de samba mirim de Mato Grosso do Sul. Com suas cores verde, dourado, branco e prata, e tendo como símbolo a majestosa Garça Branca, a escola se destaca pela importância na formação de novos talentos e pela preservação da tradição do samba.

Embora a Herdeiros do Samba tenha optado por não competir nos desfiles ao longo dos anos, neste carnaval, a escola será avaliada pelos jurados, o que marca uma nova fase para a agremiação. Sua participação, no entanto, sempre foi essencial para a formação de jovens sambistas e para a continuidade da cultura carnavalesca na cidade.

Para o carnaval deste ano, a escola trará o samba-enredo “De Baiana à Imortal”, que contará a história de Nirce Ortega, uma foliã da ala das baianas, professora e escritora. Nirce, que tomou posse da cadeira 23 da Academia de Letras do Brasil no MS, com patrono Machado de Assis, se tornou imortal em 22 de agosto de 2023. Ela também é autora do livro Paixão Vermelho e Branco, que narra a história do carnaval de Campo Grande.

Como tudo começou

Entre um samba e outro, Fátima da Luz, presidente da escola de samba desde 2017, compartilha com o Jornal O Estado que a criação da escola foi o sonho de seu falecido esposo, que, apesar de nunca ter aprendido a sambar, sempre desejou ver esse projeto realizado. A primeira presidente foi Marília da Luz, filha mais velha, que assumiu o cargo por dois mandatos, sucedida por Fátima da Luz, que se tornou presidente vitalícia.

“Fundamos a escola logo após sua partida (do marido), para realizar esse sonho. O Gaúcho é o Patrono da Escola, um símbolo de sua história e legado. O primeiro desfile da escola teve como enredo as Lendas do Centro-Oeste, e, desde então, os enredos seguem uma linha leve, lúdica, informativa e cultural, sempre com o intuito de valorizar e promover a nossa cultura”, afirma a presidente.

O samba-enredo deste ano, intitulado “De Baiana a Imortal”, carrega uma história de grande importância para o Carnaval de Campo Grande, celebrando a união entre a tradição do samba e a memória cultural da cidade. “Nierce é figura importante no meio do samba, integrante da ala das baianas da Escola Igrejinha. Em 2008, iniciou sua carreira literária ao escrever sobre a história do carnaval de Campo Grande, no enredo sobre o Centenário da Imigração Japonesa”, destaca Fátima.

A escola realiza ensaios apenas com a comissão de frente e a bateria, sendo esta última a que conta com o maior número de integrantes, com pelo menos 30 ritmistas. Muitos desses músicos vêm de São Jorge, o santo de fé da homenageada. Este ano será a primeira vez que a escola será avaliada e todos da equipe relatam que esperam a avaliação seja feita com critério e sensibilidade.

O que dia que o Carnaval Parou

No dia 16 de novembro de 2024, a Herdeiros do Samba enfrentou uma tragédia. Um incêndio devastou completamente o barracão da escola, e o Corpo de Bombeiros foi acionado para controlar as chamas. Todo o trabalho realizado durante o ano foi perdido, e a equipe precisou recomeçar do zero. Durante os ensaios, as armaduras de acetato queimaram, o que gerou a necessidade de uma reinterpretação do material.

“Este tem sido o maior pesadelo que estamos vivendo: perder tudo em questão de horas e ainda ver pessoas duvidando e desdenhando de nossa perda no incêndio. Tivemos pouco apoio externo, além das doações dos Catedráticos, Cruzeiro e uma companhia de teatro. Não recebemos apoio significativo e nem adesões à nossa rifa ou feijoada, que tinham o objetivo de arrecadar recursos para a compra de novos materiais”, explica Fátima.

Esta não é a primeira vez que a escola sofre com incêndios. Em abril de 2022, a Herdeiros do Samba já havia perdido todos os seus carros alegóricos, materiais essenciais como ferragens e armações. Quando tentou recuperar as carcaças no mesmo ano, não encontrou mais nada. Esse grande prejuízo ainda afeta a escola, que não conseguiu recuperar os materiais perdidos.

“Após este incêndio, acredito que o acolhimento seria mais adequado. A escola já teve um bom patrimônio, com quatro carros alegóricos e três tripés, mas hoje conta com a ajuda de alguns apoiadores. Os Catedráticos do Samba, a Cruzeiro e Enir Amarilha fizeram doações de grande valor. Nosso maior desafio agora é construir um novo carro alegórico”.

A diretoria se reuniu e, juntos, repensaram ala por ala, Das sete alas existem, apenas quatro exigidas estavam prontas, mas o material necessário para as demais — colas, espumas, papel e.v.a, madeira, entre outros, foi totalmente perdido. A equipe se uniu e assumiu o compromisso de fazer o melhor possível.

O Show tem que Continuar

Em entrevista ao Jornal O Estado, Marília da Luz, diretora de logística do desfile, explicou que está à frente da organização do transporte das fantasias, carros alegóricos e da comunicação com os envolvidos. A preparação da escola Herdeiros busca surpreender o público, com muita alegria, união e garra. Junto à presidência, ela conta com o apoio de outros diretores para garantir o sucesso e a energia do desfile.

“Estamos buscando apoio de pessoas que já trabalham com a escola, negociando prazos e buscando alternativas mais acessíveis para que tudo saia conforme o planejamento da presidente. Este será o desfile mais desafiador. Justo diante de tudo que perdemos, ainda seremos avaliados pelos jurados. Vamos de cabeça erguida para avenida e enfrentar mais este desafio”.

Marília compartilhou como está lidando com a pressão do tempo após o incêndio no galpão da escola. Desde novembro, logo após o incêndio, a equipe e toda a escola têm se dedicado a reconstruir o que foi perdido, incluindo materiais que já estavam finalizados.

“Quase não dormimos tentando reajustar as fantasias e manter a calmos. Estamos trabalhando entre lágrimas, muito suor e com a criatividade de quem ama o carnaval, como nossa presidente, que com a saúde debilitada, vira noites entre as fantasias e seus pensamentos”.

Nessa luta contra o tempo, é o amor em construir história para o povo campo-grandense que sustenta a equipe. Como o show não pode parar, Marília e Fátima se complementam e finalizam: “Estamos trabalhando incansavelmente. Sempre com novidades, este ano iremos com força e beleza. A união e a criatividade, diante de tantos obstáculos, virão com o coração. Para o futuro, o objetivo é reestruturar todo o patrimônio da escola e investir ainda mais na Escolinha de Carnaval Itinerante”, finalizam.

Para apoiar a escola, você pode colaborar comprando a rifa no valor de R$ 10 concorrendo ao prêmio no valor de R$ 500 e também participando da feijoada promovidas pela escola que será retirada exclusivamente na Rua dos Ferroviários, 397, ou fazendo um Pix para o CNPJ da escola: 44.592.730/0001. Para doações e mais informações, entre em contato com a presidente Fátima da Luz pelo número (67) 9202-9060 e com a diretora Marília da Luz (67) 9223-5517.

 

Amanda Ferreira

 

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