Não é de hoje que os mistérios e regras que envolvem os altos escalões da Igreja Católica são explorados pelo tanto pela literatura quanto pelo cinema, como exemplo ‘Anjos e Demônios’ (2009) e ‘Dois Papas’ (2019). Na estreia desta quinta-feira (23), a escolha de um papa é o cerne de um intricado jogo de poder, no lançamento de ‘Conclave’.
Com direção do suíço Edward Berger (ganhador do Oscar de Melhor Filme Internacional por ‘Nada de Novo no Front’), Em ‘Conclave’ acompanhamos um dos eventos mais secretos do mundo: a escolha de um novo papa. Cardeal Lomeli, interpretado por Ralph Fiennes (‘A Lista de Schindler’ e ‘Harry Potter’), é o encarregado de executar o conclave, após a morte inesperada do atual pontífice. Sem entender o motivo, Lawrence foi escolhido para conduzir a reunião pelo próprio papa antes de morrer.
Os líderes mais poderosos da Igreja Católica vindos do mundo todo se reúnem nos corredores do Vaticano para participar da seleção e debater suas opções, cada um com sua própria agenda. Lawrence se vê no centro de uma conspiração e descobre um segredo do falecido pontífice que pode abalar os alicerces da igreja. Na mesa estão não só a fé, mas uma série de reviravoltas que tomam conta da assembleia religiosa.
Além de Fiennes, o elenco conta com mais dois indicados ao Oscar, Stanley Tucci e John Lithgow, além de Isabella Rossellini como a Irmã Agnes.
O filme é baseado no livro homônimo de Robert Harris, que entrelaça a fé com os esquemas do Conclave, e mostra rivalidades, ambições e fraquezas dos que são considerados os ‘homens santos’ do mundo. Além disso, o livro ainda aborda o clamor de grupos que querem o primeiro papa negro, o papel das mulheres na igreja, correntes conservadoras contra reformistas, cardeais que rejeitam o luxo e outros que abraçam as riquezas oferecidas pela Igreja Católica.
Já no trailer podemos ver como a Igreja, mesmo com seu constante moralismo, não se distanciou nunca do luxo e das riquezas, muito menos da modernidade. “Entre paredes sagradas, a ambição é humana e o poder é divino”, diz uma das passagens do trailer. “Nenhum homem são quer o papado. Já os homens perigosos, eles, sim, querem muito”, diz outra.
Polêmicas
Assim como todo filme de cunho religioso, ‘Conclave’ não escapou das polêmicas, já que coloca luz a um dos processos da Igreja mais escondidos. O Bispo norte-americano Robert Barron, utilizou das redes sociais para aconselhar que todos ‘corram para longe do filme o mais rápido possível’, afirmando que a história demoniza conservadores e os retrata como xenofóbico e que ‘liberais são conspiradores presunçosos”.
Alexandre Almeida, do portal Omelete, comenta que o diretor preparou um thriller com reviravolta que poucos irão esperar, mas que renderá comentários ao sair da sala de cinema.
“Conclave acha espaço para discussões atuais que a escolha do líder de uma potência com mais de 1,3 bilhão de seguidores sempre deveria exigir. É uma missão tão grande quanto salvar o mundo de um conflito nuclear ou desmantelar o assassinato de um presidente, e Berger entende isso ao fazer um dos grandes filmes do ano – e um thriller, no mínimo, sensacional”.
Christopher Lamb, da CNN, comenta que o filme mostra a batalha pela alma da igreja durante a eleição papal, com tensões entre progresso e tradição, falta de mulheres e uma crise fé. “Para os observadores da Igreja Católica, a grande questão para o próximo conclave da vida real será se os cardeais escolherão um papa que continue no molde mais aberto do Papa Francisco, ou se forças contrárias ao seu papado conseguirão mudar as coisas em uma direção alternativa”.
Ainda segundo Lamb, ‘Conclave’ se esforça para ser realista, bem como seu romance de base, onde o autor foi auxiliado pelo cardeal inglês Cormac Murphy O’Connor, e o roteirista Peter Straughan recebeu um tour privado pela Capela Sistina.
“O filme acerta em muitos detalhes. Vemos cardeais chegando com suas malas de pernoite ao iniciarem o processo e cenas deles fumando um cigarro antes. Ele recria os quartos na casa de hóspedes – a Domus Sanctae Marthae – onde os cardeais se hospedam durante o conclave, com refeições comunitárias e ônibus transportando-os de um lado para outro entre as sessões de votação”, destaca.
“Também nos é mostrado o lacramento do quarto do Papa falecido e a destruição de seu anel, os juramentos feitos pelos cardeais antes da votação, o uso de produtos químicos para garantir a cor correta da fumaça que sai da chaminé para indicar o resultado (preta para nenhuma decisão e branca para mostrar que um papa foi escolhido), e a varredura da Capela Sistina em busca de dispositivos de escuta”, completa.
Mesmo com a crítica dos religiosos, ‘Conclave’ já é um dos nomes mais cotados para o Oscar 2025, tendo sido elogiado pela crítica especializada e aprovação de 93% entre mais de 200 reviews no Rotten Tomatoes, site conhecido de classificação cinematográfica.
Você Sabia?
O conclave existe e realmente acontece após a morte ou a renúncia de um papa na Igreja Católica Apostólica Romana. Ele é realizado pelo Colégio dos Cardeais, que se reúnem no Vaticano para uma votação secreta, e assim escolher o novo líder da igreja.
Esse ritual é realizado há oito séculos, sendo o primeiro em 1274, instituído pelo Papa Gregório X, que queria prevenir a demora para a escolha do próximo Sumo Pontífice, obrigando que a reunião fosse conclusiva. Um dos conclaves mais demorados foi após a morte do Papa Clemente IV, onde os cardeais ficaram em reunião de 29 de novembro de 1268 a 1º de setembro de 1271; dois cardeais até morreram no processo! A demora também enfureceu a população: os cardeais foram trancados dentro do Palácio Papal de Viterbo. Eles eram alimentados, mas tiveram as provisões reduzidas. O impasse continuou, então a cobertura onde eles se reuniam foi parcialmente removida, deixando-os expostos aos rigores atmosféricos.
O resultado do conclave é anunciado por meio de uma fumaça especial da chaminé da Capela Sistina. Se a fumaça for preta, significa que ainda não há um consenso, e se for branca, um novo pontífice foi escolhido. Em 2013 foi realizado o último conclave, que escolheu Jorge Mario Bergoglio, o Papa Francisco, após a renúncia de Bento XVI.
Por Carolina Rampi
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