CNPq destina mais de R$ 2,7 milhões para pesquisas desenvolvidas na UFMS

Foto: Divulgação
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O Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) divulgou o resultado final da chamada para Apoio a Projetos em Rede do Programa Conhecimento Brasil. Sete pesquisadores da UFMS foram contemplados e irão receber recursos aproximados de R$ 2,7 milhões em investimentos nos projetos de pesquisa aprovados.

“Primeiramente, gostaria de agradecer e parabenizar a todos os sete pesquisadores que submeteram e que tiveram suas propostas aprovadas no Programa Conhecimento Brasil do CNPq. A aprovação desses projetos é de extrema importância para a nossa Universidade, porque demonstra um desempenho de alto nível dos nossos pesquisadores, refletindo não apenas a qualidade técnica das propostas, mas também no alinhamento dos projetos as prioridades estratégicas do desenvolvimento científico e tecnológico, tanto da nossa Universidade como de todo o Brasil”, comenta o pró-reitor de Pesquisa e Pós-Graduação, Fabrício Frazílio.

De acordo com o pró-reitor, esse resultado também evidencia o potencial competitivo dos pesquisadores da UFMS em um cenário nacional que é altamente exigente, consolidando o papel da Instituição como protagonista na produção do conhecimento. “O impacto é extremamente significativo, primeiramente porque isso tem um aporte financeiro, que é em torno de R$ 2,7 milhões, que poderá oferecer condições para o desenvolvimento dos projetos de excelência, esses projetos que foram contemplados, na verdade. Esses recursos poderão ser destinados para a infraestrutura, aquisição de equipamentos, bolsas e outras necessidades operacionais que os projetos venham a necessitar”, diz.

Ainda segundo Fabrício, os projetos poderão favorecer a formação de recursos humanos qualificados, tanto para estudantes de graduação como os de pós-graduação. “Ficamos muito felizes com esse resultado e que isso também fomenta ainda mais a participação de toda a comunidade acadêmica e de nossos pesquisadores em editais como esse”, complementa.

Executado pelo CNPq, o Programa Conhecimento Brasil é uma das dez ações prioritárias definidas em 2023 pelo conselho do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico e faz parte da Estratégia Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação para o período de 2023 a 2030. As duas chamadas do Programa revelaram o interesse manifesto de mais de 2,5 mil pesquisadores e pesquisadoras brasileiros radicados em 56 países em regressar ao Brasil ou atuar em cooperação científica com instituições e empresas nacionais. Entre os projetos aprovados, cerca de 200 são coordenados por pesquisadores de instituições localizadas nas regiões Norte, Centro-Oeste e Nordeste, recebendo R$ 75 milhões, o que representa 36,01% do valor total recomendado – superando a meta original de 30% para essas regiões.

Na UFMS, foram contemplados os seguintes pesquisadores: Adilson Beatriz, do Instituto de Química (Inqui), cuja proposta vai receber R$ 530.300; Edgar Julian Paredes-Gamero, da Faculdade de Ciências Farmacêuticas. Alimentos e Nutrição (Facfan), com R$ 335.244; Edson Antonio Batista, da Faculdade de Engenharias, Arquitetura e Urbanismo e Geografia (Faeng), com R$ 275.557; Gustavo Christofoletti, do Instituto Integrado de Saúde (Inisa), com R$ 331.460; Moacyr Aureliano Gomes de Brito, da Faeng, com R$ 275.557; Thyara de Deco-Souza e Araujo, da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (Famez), com  R$ 396.000; e Rodrigo Juliano Oliveira, da Faculdade de Medicina (Famed), com R$ 599.746.

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Saúde animal

Uma das propostas aprovadas é da professora Thyara de Deco-Souza e Araujo da Famez. “O projeto propõe criar um dispositivo de microfluídica para facilitar a manipulação de sêmen e de óvulos de onça-pintada, para facilitar o desenvolvimento das tecnologias de reprodução assistida na espécie”, explica. “O projeto surgiu a partir da parceria com a pesquisadora Márcia Ferraz da Universidade da Colúmbia Britânica, no Canadá, que já tem ampla experiência nesta área. A doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Ciências Veterinárias da UFMS Maitê Cardoso Coelho da Silva finalizou o doutorado sanduíche dela com a professora Ferraz, onde passou por treinamentos e iniciou o desenvolvimento dos dispositivos”, aponta a professora.

Márcia Ferraz foi a primeira a criar um oviduto em um chip e seu grupo de pesquisa é pioneiro em tecnologias de microfluídica e bioengenharia para criar tecidos reprodutivos. “A microfluídica é uma tecnologia inovadora que tem sido desenvolvida para facilitar o manuseio de gametas (espermatozoide e óvulos) fora do laboratório, há ainda a possibilidade de dentro do próprio dispositivo realizar a fertilização in vitro. Isso é um grande avanço para o desenvolvimento de tecnologias de reprodução assistida em animais selvagens, visto que o principal desafio é que a maioria dos animais estão longe de laboratórios e estas amostras são extremamente sensíveis às condições ambientais como temperatura e níveis de oxigênio/gás carbônico”, conta a professora da Famez.

Segundo ela, boa parte do recurso será destinado para materiais e equipamentos necessários para produzir os dispositivos na UFMS. “Isso alavanca outras possibilidades de pesquisa dentro da microfluídica em diversas espécies. Além disso, possibilitará intercâmbios entre as equipes do Brasil e do exterior para treinamentos e desenvolvimento de pesquisas”, conta.

Saúde humana

Já o pesquisador Gustavo Christofoletti foi aprovado com o projeto Passos e telas, que visa o desenvolvimento de protótipos e design industrial de novos produtos para prevenção de quedas de pessoas idosas. “A maior parte do recurso será destinada para compra de novos equipamentos para análise da marcha humana e das funções cognitivas, a fim de estudar a relação entre a cognição e a marcha e propor novos produtos para fisioterapia”, comenta.

Christofoletti explica, ainda, que a proposta foi desenhada levando em conta as três instituições de nível superior: UFMS, o departamento de Design do Câmpus de Bauru da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e o departamento de Saúde e Cinesiologia da Universidade de Illinois, nos Estados Unidos. “A equipe de pesquisadores vão auxiliar na análise dos parâmetros da marcha, para propor novos produtos para diminuir o risco de quedas dos idosos. Então, são três instituições, a executora e a criadora somos nós, a Universidade de Illinois vai ajudar no sentido de análise dos parâmetros da marcha e dos dados e a Unesp na criação dos equipamentos”, explica.

Além de promover a internacionalização na pesquisa, participar do edital foi importante porque, segundo o pesquisador, vai envolver estudantes dos programas de pós-graduação em Ciências do Movimento e em Saúde e Desenvolvimento Regional.

Inteligência Artificial

Sistemas de comunicação e inteligência artificial também estão contempladas em projeto proposto pelo professor Edson Antonio Batista da Faeng. A pesquisa será desenvolvida em parceria com o pesquisador José Augusto de Lima, do Departamento de Eletrônica da Universidade de Carleton, em Ottawa no Canadá, e aborda o desenvolvimento de sistema de controle e linearização de dispositivos eletrônicos (Amplificadores de Potência) para atender as especificações do sistema de comunicação com tecnologia de sexta geração (6G). “Intitulado de Sistema 6G – Pré-Distorsor Digital sintetizado em FPGA com uso de Inteligência Artificial, esse projeto proporciona a atuação do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Elétrica da UFMS em uma área estratégica para a soberania nacional e o desenvolvimento tecnológico regional”, apresenta.

Segundo o professor, também será desenvolvido o projeto de um circuito integrado, utilizando as equipes do Brasil e do Canadá, com objetivo de promover a qualificação de pesquisadores da UFMS em tecnologia de Circuito Integrado Monolítico de Microondas (MMIC – Monolithic Microwave Integrated Circuit) e atuar na formação de futuros pesquisadores brasileiros nesta área. O foco central do projeto está em realizar uma entrega com nível de maturidade promissor para a indústria, aliada com o impulsionamento de uma linha de pesquisa estratégica que envolve o uso de Inteligência Artificial, tecnologia FPGA e circuitos integrados de microondas com aplicabilidade em telecomunicações.

“A parceria entre as duas instituições fortalece a rede de pesquisa global em tecnologias de comunicação avançadas. O laboratório canadense terá como principal objetivo projetar e coordenar a fabricação de circuitos integrados de RF (MMIC). A UFMS participará em todas as etapas do projeto dos circuitos de RF envolvendo, além de mão de obra especializada, pesquisadores para capacitação no tema e geração de massa crítica”, comenta Batista. Entre outras possibilidades, os recursos servirão para adquirir ferramentas específicas ao desenvolvimento do pré-distorção digital e amplificador de potência de alta frequência, realizar missões na universidade canadense e adquirir módulos para testes. A equipe ainda está empenhada em buscar outras fontes de financiamento para adquirir os equipamentos e assim poder testar os hardwares desenvolvidos no laboratório da UFMS.

Inovação terapêutica

O pesquisador Adilson Beatriz do Inqui também foi contemplado pelo edital com o projeto Utilizando a estratégia Protac para degradar COPZ1 e eliminar seletivamente células de PDAC. “O adenocarcinoma ductal pancreático (PDAC) permanece como um dos tipos de câncer mais letais e desafiadores. O desenvolvimento de um novo agente terapêutico direcionado à proteína COPZ1 representa uma inovação crucial, enfrentando diretamente as limitações das terapias atuais, que muitas vezes carecem de seletividade e eficácia, resultando em altas taxas de recidiva e mortalidade”, explica o professor.

Segundo o professor, o principal objetivo do projeto é superar o desafio técnico de desenvolver a estratégia Protac, uma tecnologia denominada Proteolysis Targeting Chimeras. “As Protacs são pequenas moléculas projetadas para eliminar proteínas específicas dentro das células. Elas conectam a proteína-alvo a uma enzima chamada E3 ubiquitina-ligase, que a marca para degradação pelo sistema de reciclagem celular, o proteassoma. Essa abordagem inovadora permite tratar doenças como o câncer ao remover proteínas prejudiciais que eram difíceis de atingir com terapias tradicionais”, acrescenta.

“O design dessas moléculas baseia-se em trabalhos anteriores conduzidos pelo grupo do professor da Universidade do Estado de Dakota do Norte Roberto da Silva Gomes. Ele é um pesquisador brilhante, realizou estágio pós-doutoral em meu laboratório há dez anos, estabelecendo uma colaboração de longa data entre nossas equipes. No projeto, a síntese das moléculas Protacs será conduzida pelo Laboratório Sintmol-CIBSint, sob minha coordenação, enquanto os bioensaios serão realizados nos EUA sob a supervisão do professor Roberto”, fala Adilson Beatriz.

O professor do Inqui também destaca a colaboração do grupo do pesquisador da Universidade Estadual do Oeste do Paraná, de Cascavel, Eduardo Borges de Melo. “Sua equipe é responsável por estudos in silico, com foco em planejamento de novos fármacos, incluindo análises de relações quantitativas entre estrutura e atividade (QSAR) e modelagem molecular. Essa rede de pesquisa multidisciplinar reforça o potencial do projeto para resultados inovadores e de alto impacto”, fala Beatriz.

Engenharia elétrica

Outro projeto contemplado foi o Sistema inteligente para otimização da operação de eletropostos com conversores de potência especializados, filtros ativos e inteligência artificial do professor Moacyr Aureliano Gomes de Brito da Faeng. “Nosso propósito é contribuir para a inovação tecnológica e a sustentabilidade no setor de recarga de veículos elétricos buscando desenvolver um sistema inteligente para a operação dos eletropostos. Um ponto-chave é que a rede de energia elétrica não está preparada para receber a inserção massiva de carregadores. Neste sentido, o uso otimizado focando na demanda suportável, na sustentabilidade e que possa se adaptar dinamicamente às condições da rede e ao comportamento dos usuários poderá garantir a viabilidade e a escalabilidade de sistemas de recarga”, fala.

De acordo com Brito, adicionalmente, o carregador desenvolvido deve servir de suporte à rede elétrica, melhorando o fator de potência da instalação, garantindo assim melhor aproveitamento energético. “O projeto vem de uma chamada estratégica do CNPq para a formação de um grupo de apoio com brasileiros que residem e trabalham em centros de pesquisa no exterior. Neste contexto, nossa proposta tem como parceiro estratégico a Universidade de Purdue, nos Estados Unidos. Essa é uma maneira que vemos de fortalecer o Programa de Pós-Graduação em Engenharia Elétrica da UFMS, um passo interessante para a busca de internacionalização de nosso programa de pós-graduação, além da transferência de conhecimento entre as partes”, destaca.

“Os recursos solicitados não foram garantidos na íntegra, mas os obtidos serão importantes para o estreitamento entre UFMS e Purdue em uma missão internacional e permitem o início da construção local de uma estação de carregamento especializada a nível de protótipo. Com relação aos recursos faltantes, os membros da proposta seguirão em busca de novos editais e do apoio da Fundect-MS”, diz Brito.

Genética e Câncer

O professor da Famed e coordenador do Centro de Estudos em Células-Tronco, Terapia Celular e Genética Toxicológica (CeTroGen), Rodrigo Juliano Oliveira, também teve um projeto contemplado no Programa Conhecimento Brasil em parceria com o professor Roberto da Silva Gomes do departamento de Ciências Farmacêuticas da Universidade de Dakota do Norte, nos Estados Unidos.

“Sermos contemplados nesse edital foi extremamente importante para a nossa pesquisa, por isso gostaria de agradecer ao CNPq pela oportunidade de contar com esse financiamento. Isso permite darmos sequência aos nossos estudos, especialmente por começarmos com uma nova linha de pesquisa que é a genética toxicológica, parte da biologia do câncer, tema desse projeto novo. Ainda, esse edital prevê essa parceria com a universidade americana, promovendo também a internacionalização”, enfatiza Oliveira.

No projeto, serão trabalhados produtos anti-câncer, pensados e produzidos pelo grupo de pesquisa do professor Roberto da Silva Gomes. “Estamos prevendo uma temporada do professor Roberto aqui na UFMS, uma ida minha até os Estados Unidos, além de uma bolsa de pós-doutorado para um estudante ficar na Universidade de Dakota do Norte entre seis meses e um ano”, afirma o coordenador do CeTroGen.

Segundo Oliveira, já foi desenhada uma molécula para que tivesse maior efetividade contra o câncer e menos efeitos colaterais. “Fizemos quatro trabalhos já nessa linha e publicamos um deles na Chemical Research Toxicology, sendo, inclusive, capa desse periódico importante. Nesse novo projeto estamos trazendo inovações na parte de cultivo celular, com moléculas inéditas. Até então, vimos fazendo o cultivo celular em monocamada ou duas dimensões. A partir de agora, faremos a implantação de técnicas de cultura 3D. Assim teremos condições de avaliar o produto sobre um esferóide que se assemelha a um pequeno tumor”, explica.

“Nossa busca maior é por um medicamento que possa tratar o melanoma e também os cânceres de intestino, porém vamos fazer testes em uma bateria de outras células, pois se houver efeito em outro tipo de câncer, podemos justificar e fazer uma modificação”, salienta o professor da Famed. “Com os recursos, faremos os testes pré-clínicos, que seriam os testes in vitro, e a partir daí, se houver efetividade, daremos continuidade, porém necessitaremos de um financiamento maior”, finaliza.

Com informações da UFMS.

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