Entre o resgate da memória musical e preservação cultural de Terenos, documentário será lançado no dia 25
Conhecida tradicionalmente pelas festividades que celebram a produção de ovos e pelas cachoeiras, O município de Terenos vai muito além dessa fama, se destacando também como um importante polo cultural e audiovisual. Em 25 de janeiro, o diretor e roteirista terenense Jander Gomez lançará sua mais recente produção, o documentário A Canção no Tempo: Um Breve Relato da Música em Terenos, que revisita a rica história musical da cidade.
Neste novo projeto, Jander Gomez explora as memórias culturais de Terenos por meio da formação de sua banda municipal, traçando a história das agremiações locais, as premiações obtidas e a dedicação dos músicos da região ao longo dos anos. O documentário reúne depoimentos de compositores, maestros, professores e músicos.
Jander já produziu e dirigiu outras obras cinematográficas, como Retirada da Laguna: 150 anos depois, que revisita um dos episódios mais marcantes da Guerra da Tríplice Aliança; Sidrolândia: Memórias; Camarinhas; e Matemática. Jander Gomez é formado em Letras pela Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul e em Roteiro de Cinema pela Academia Internacional de Cinema de São Paulo. Sua carreira é marcada pela produção de obras que resgatam memórias e narrativas regionais, combinando pesquisa histórica e uma estética cinematográfica única.
Além da Música
O cineasta Jander Gomez, natural de Terenos, é conhecido por sua habilidade em traduzir as histórias e tradições de sua terra natal para a tela. “ A Canção do Tempo”, que mergulha na história da Banda Municipal de Terenos, um símbolo da música e da cultura da cidade. Mas, como revela o próprio Jander, este projeto é mais do que um simples retrato de uma banda — é uma reflexão sobre a memória coletiva e os desafios enfrentados pela cultura local.
A música sempre mexeu com o imaginário de Jander. Quando criança, ele sempre quis aprender a tocar violão, mas, devido à falta de recursos e à difícil situação financeira, esse desejo ficou distante. Anos depois, teve a oportunidade de ter um violão, mas logo percebeu que a música não era para ele: “Nem a nota ‘DÓ’ me quis” (risos). No entanto, a Banda Municipal de Terenos sempre foi um elemento central na cultura da cidade e, para Jander, representava muito mais do que apenas uma manifestação musical.
“Fazer parte da banda era importante, era ser considerado um músico de verdade. Mas, notei que há uma lacuna, um vazio muito grande na geração de registros dessa época. Tanto da banda quanto de outros trabalhadores da música. Então, surgiu a oportunidade, via Edital Lei Paulo Gustavo, de executar essa ideia. Fazer um registro, agora eterno, dessa música produzida na cidade”, afirmou o cineasta para a reportagem.
O documentário é repleto de depoimentos emocionantes de músicos, compositores, maestros e professores locais. Jander, com seu olhar atento, soube reunir uma diversidade de perspectivas, dividindo o filme em três eixos temporais: o passado, o presente e o futuro da música em Terenos.
“A musicalidade; da banda que passou por momentos intensos, desde sua desarticulação e desestruturação, a sua reconstrução nesses últimos anos. A música é fundamental na composição e na criação humana. Os impactos sociais que a banda teve na vida de alguns jovens da cidade foi imenso. Adolescentes que moravam na Casa Abrigo da cidade, veem na música uma possibilidade de uma vida melhor”, destaca Jander.
No caso deste filme, o processo criativo evoluiu durante as gravações. Inicialmente, o foco era contar a história da Banda Municipal de Terenos, mas, conforme as filmagens avançavam, Jander se deu conta de que a narrativa poderia ser mais ampla.
“Tinha uma ideia de como contar a história. A princípio era somente sobre a banda, mas quando começamos a gravar, em casa, sentei com o roteiro e fiquei pensando, “por que não fazer o filme sobre a história da música na cidade?”. Pronto. Estava pronta uma nova perspectiva do filme”, conta.
O cineasta também não esconde sua frustração com a falta de registros históricos na cidade. “Terenos tem uma memória apagada”, lamenta Jander. “Os patrimônios arquitetônicos foram destruídos e nossa história não foi preservada como deveria.” Para ele, o cinema é uma das poucas ferramentas capazes de resgatar e preservar essa memória.
Depoimentos
Entre os entrevistados, há relatos do cantor que se apresentou no histórico Trem do Pantanal, a professora que foi uma das fundadoras da banda, e o maestro que acompanhou a trajetória da banda desde sua criação. Cada um desses depoimentos traz à tona não apenas as dificuldades e alegrias de quem viveu o processo, mas também a paixão pela música que sempre fez parte da identidade de Terenos.
Aline Camargo foi coordenadora do CMIM (Centro Municipal de Iniciação Musical) de Terenos por 10 anos e participou como entrevistada no documentário de Jander. Ela compartilha uma conexão profunda com a música na cidade, que remonta aos seus tempos de aluna.
“Fui aluna do Sr. Erci Meireles na fanfarra da Escola Antônio Sandim de Rezende, uma escola rural. O Jander me procurou para esclarecer algumas dúvidas sobre esse período, e eu me coloquei à disposição. Sempre é emocionante relembrar minha vivência nesse projeto que foi tão importante para mim e para a cidade de Terenos”, conta Aline, destacando a importância afetiva e cultural que a música sempre teve em sua trajetória e na comunidade.
A professora aposentada Cenira Lopes soube da produção do projeto por meio de Jander, que a procurou para saber se ela possuía fotografias do Grupo de Fanfarra da cidade. Ela explicou que sua participação foi motivada pela relevância histórica do grupo, que teve início durante o mandato do prefeito Alonso Hinostorio de Rezende, entre 1993 e 1995, período em que Cenira era diretora do Departamento de Educação, Cultura e Esportes de Terenos.
“As gravações foram realizadas resumidamente sobre a execução e criação da Fanfarra Rítmica. Participações em Concurso de Bandas e Fanfarras em Dourados e outros municípios do MS, fomos campeões na nossa categoria por 2 anos consecutivos. A banda era formada por jovens compromissados das escolas estaduais e outros componentes do município.
Jander e Celina deixam uma mensagem ao público, destacando que, por meio do documentário, a memória musical de Terenos será preservada. “Tenho certeza de que os pais e participantes da época, caso tenham a oportunidade de assistir, irão reviver esses momentos com saudade e perceberão que, após cerca de 20 anos, estão sendo homenageados”, concluem.
Serviço
A Canção no Tempo – Um Breve Relato da Música em Terenos será lançado no próximo dia 25 de janeiro, às 19h, no Centro Cultural Ramez Tebet, localizado na Rua Valdevino Pereira de Novaes, 30, Centro, Terenos – MS. A entrada é gratuita.
Amanda Ferreira