Premiação foi realizada no último domingo (5) e Torres repete sucesso da mãe, após 25 anos
Após 25 anos, uma estatueta do Globo de Ouro finalmente veio para o Brasil e não poderia ser mais especial: a primeira vez que o Brasil ganhou o prêmio foi em 1999, na categoria de Melhor Filme em Lingua Estrangeira, com o longa ‘Central do Brasil’, protagonizado por Fernanda Montenegro. Agora, Torres, filha de Montenegro, leva para casa o Globo de Ouro na categoria de Melhor Atriz em Filme de Drama, pela atuação em ‘Ainda Estou Aqui’.
Neste ano, a disputa estava acirrada. A atriz concorria ao lado de grandes nomes da indústria cinematográfica, sendo Nicole Kidman (‘Babygirl’), Agelina Jolie (‘Maria Callas’), Kate Winslet (‘Lee’), Tilda Swinton (‘O Quarto ao Lado’) e Pamela Anderson (‘The Last Showgirl’). Outra coincidência, é que tanto ‘Ainda Estou Aqui’ quanto ‘Central do Brasil’ levam a assinatura de Walter Salles na direção.
Ao receber o prêmio direto das mãos de Viola Davis, Fernanda Torres agradeceu a mãe em seu discurso da vitória. “Quero dedicar esse prêmio à minha mãe. Vocês não têm ideia… Ela estava aqui há 25 anos. Isso é uma prova de que a arte pode permanecer na vida das pessoas, mesmo em momentos difíceis, como os que Eunice Paiva viveu”, disse. “Enquanto vemos tanto medo no mundo, esse filme nos ajudou a pensar em como sobreviver em tempos difíceis como esses. Que história, Walter!”, continuou a atriz.
O longa, baseado no livro autobiográfico de Marcelo Rubens Paiva, de mesmo nome, conta a trajetória da advogada Eunice Paiva, mãe do escritor, que precisou lidar com o sequestro e o assassinato de seu marido, o ex-deputado Rubens Paiva – no período da ditadura militar (1964-1985). Ela passa 40 anos procurando a verdade sobre Rubens (interpretado por Selton Mello) e também sofre as consequências da ditadura.
Emoção
O ator Luiz Bertazzo, natural de Corumbá, participou da produção de ‘Ainda Estou Aqui’. No filme, Luiz interpreta Schneider, um agente da ditadura que invade a casa da família Paiva e leva o ex-deputado Rubens Paiva. Em seguida, ele se instala no local por 24 horas, à espera de algum “revolucionário” que possa aparecer.
Luiz ingressou no filme após participar de um teste, conduzido por Amanda Gabriel, preparadora de elenco, que proporcionou todo o suporte necessário, oferecendo os recursos para que Luiz se apresentasse da melhor forma possível e demonstrasse seu potencial para o papel.
Para o jornal O Estado, Luiz contou como ficou sabendo da vitória de Fernanda Torres. “Eu estava acompanhando a premiação. Estou fora da minha casa rodando uma série, mas fiquei até de madrugada colado no celular assistindo. Quando ela ganhou nem eu imaginava que ia chorar tanto. Vibrei de emoção e orgulho por ela e pelo filme”, contou.
Com uma vitória esperadíssima para o núcleo cinematográfico, Luiz acredita que a visibilidade mundial valoriza as conquistas internas. “Mostrar ao mundo nossas narrativas e a força que elas têm. Acho que o prêmio da Fernanda, e por ela ser tão amada aqui, leva um pouco de cada brasileiro e de cada artista do cinema com ela naquele palco. É um reconhecimento merecido dela enquanto atriz espetacular que ela é, mas também é um incentivo que nossas políticas públicas de financiamento tenham fome de um cinema Nacional vitorioso”.
Ganhos e perdas
‘Ainda Estou Aqui’, também concorria na categoria Melhor Filme de Língua Não Inglesa, mas perdeu para ‘Emilia Pérez’, filme do francês Jacques Audiard. Entretanto, mesmo que o filme seja de direção francesa, e que conte uma história ‘latina’ (explorando os estereótipos dos cartéis de drogas), grande parte do seu elenco conta com atores norte-americanos e falando em língua inglesa. Surge aí a dúvida se ele concorria na categoria certa, ou se foi mais uma “saída” da acadêmia para premiar um possível favorito.
“Eu ainda não vi o filme, então seria leviano da minha parte fazer uma crítica a ele. Essa questão do elenco norte-americano realmente deixa tudo meio confuso nessa história. Mas o ‘Ainda Estou Aqui’, tem levado prêmios importantes fora. Ganhou como roteiro no Festival de Veneza, a Fernanda agora, fora vários outros prêmios, então acho que esse sentimento de injustiça fica diluído no sucesso do filme como um todo”, comenta Luiz.
Rumo ao Oscar
O Globo de Ouro é conhecido por ser um ‘termômetro’ para o Oscar, portanto a vitória de Fernanda pode aumentar as chances da atriz para uma futura indicação. Para a Variety, o Globo de Ouro ‘consolidou o lugar dela na disputa por outros prêmios”. A premiação do Oscar será no dia 2 de março, e as indicações serão anunciadas no dia 17 de janeiro.
“Acho que a indicação vem. Tô seguindo o mantra da Fernanda. ‘ A Vida Presta’. Eu tô acreditando não só nas indicações como na gente trazendo essas estátuas para o Brasil”, finalizou Luis.
Repercussão
Pelas redes sociais, diversos artistas celebraram a vitória de Fernanda Torres. Em vídeo, Selton Melo aparece emocionado e celebra a colega e companheira de equipe. “Não sei o que falar. Que coisa histórica. Eu vi isso ao vivo. Eu estava com ela em cada dificuldade, foi tão lindo. Representa tanto nosso filme. É muito emocionante”, disse Selton em um dos vídeos.
“Emocionante! Fernanda Torres é orgulho do Brasil. Melhor Atriz em Filme de Drama no Globo de Ouro pela sua grande atuação no filme Ainda Estou Aqui. Como ela mesma diz: a vida presta. Parabéns!”, publicou o presidente Lula.
“Ela ganhou! Ela ganhou! E quando uma mulher brasileira conquista o respeito e a admiração por seu trabalho, todas nós nos sentimos um pouco ela. Obrigada Nanda por através do seu trabalho incrível nos afetar em tantos lugares. Te agradeço como mulher, como mãe, como brasileira e como atriz. Viva você! Viva seu talento”, escreveu Taís Araujo no Instagram.
“Esse prêmio mostra mais uma vez a potência do cinema Brasileiro. Parabenizo Fernanda Torres, pelo merecido Globo de Ouro de Melhor Atriz e todos aqueles que construíram o filme Ainda Estou Aqui”, escreveu a Ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco.
Carolina Rampi