Foram 148 vítimas, incluindo os óbitos do avião que caiu em Gramado no dia 22 de dezembro
Este ano ocorreram 166 acidentes de aviões, porém o que impressiona é o número de vítimas fatais. De acordo com os dados do Cenipa (Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos), 2024 teve a maior quantidade de mortes envolvendo esse meio de transporte dos últimos dez anos, com 138 mortes. Vale lembrar que os dados do último acidente, que aconteceu em Gramado, ainda não foram computados, ou seja, já são pelo menos 148 vítimas de acidente aéreo em 2024.
Ao que tudo indica, o último acidente aéreo foi o 41º com vítimas fatais, deixando dez pessoas mortas. Essa foi a segunda maior tragédia deste ano, a primeira foi a queda do avião da VoePassa, em agosto, quando 62 pessoas morreram. Em relação a 2023, houve um aumento de 79% no número de óbitos, sem contabilizar o último ocorrido. Os estados com mais registros são São Paulo, com 11 casos, Mato Grosso com 6, Pará com 5 e Minas também com 5.
Apesar da alta fatalidade, o resultado de 2024 não foi o maior em quantidade de acidentes com mortes. Foram 41, incluindo o acidente em Gramado, um aumento de 36% em relação a 2023, mas em 2015 foram 47 acidentes com vítimas, sendo o maior, que resultou em 79 óbitos. O único ano que superou a marca das 100 mortes, antes de agora, foi 2016, com 104 vítimas. O resultado de 2024 já é 42% maior do que o segundo colocado do ranking.
Outro ponto considerável é que mais da metade dos acidentes neste ano aconteceu em voos de aviação privada, o último caso foi o 22º nessa categoria. Outros sete acidentes envolveram voos agrícolas, e algumas operações, em menor número, eram de instrução, policial ou experimental. Apenas a tragédia de Vinhedo (SP) foi com um voo regular.
Acidentes no Estado
Ao analisar o estado de Mato Grosso do Sul, os números se mantêm baixos. Os maiores fatores para um acidente aéreo são a perda de controle em voo, a falha ou mau funcionamento do sistema, componente, motor e colisão com aves. O ano com maior número de acidentes foi 2018, três fatais com três vítimas. O ano com mais óbitos foi 2019, no qual cinco pessoas não sobreviveram. No ano passado, foram dez acidentes, um fatal, com uma vítima.
Este ano, houve seis acidentes no estado, sendo dois na Capital, e desses apenas um teve vítimas fatais, sendo duas pessoas. O caso ocorreu em agosto, quando um avião agrícola de pequeno porte caiu ao lado do aeroporto de Costa Rica (MS), a 327 km de Campo Grande.
A aeronave realizava um voo experimental e, após voar por 40 minutos, caiu enquanto tentava o pouso. De acordo com a Polícia Civil, Carlos Antonio Gomez Ortiz, de 31 anos, e Elison de Jesus Martines, de 40 anos, morreram na queda, o piloto e o copiloto. O homem mais novo tinha nacionalidade paraguaia e a outra vítima era de Caracol (MS) e morador de Rio Pardo (MS).
O que o Cenipa faz?
O Cenipa segue protocolo internacional que vem da organização de aviação civil internacional. O Chefe do Centro, Brigadeiro do Ar Marcelo Moreno, explica como é a atuação do órgão da FAB (Força Aérea Brasileira), responsável por investigar acidentes aéreos em todo o Brasil, pontuando a fase de prevenção.
“Quando a gente fala de prevenção de acidentes, não podemos deixar de falar sobre a regularização e fiscalização de acidentes. No estado brasileiro, quem é responsável é a nossa Agência Nacional de Aviação Civil, o Departamento de Controle do Espaço Aéreo e o Cenipa, que atua quando acontece um evento catastrófico. No Brasil, os dados estatísticos mostram que tivemos uma média de 160 acidentes aeronáuticos nos últimos dez anos. Nosso grande objetivo é colocar em prática todas as lições apreendidas, fazendo tudo que pode ser feito para evitar a ocorrência desses eventos catastróficos, que são acidentes aéreos, buscando entregar segurança no transporte aéreo para a nossa sociedade”.
O Cenipa se divide em órgãos regionais, o SERIPA. Ao todo, são sete agências, no caso do MS, o SERIPA está localizado em São Paulo. Quando acontece um acidente no estado, eles são destinados ao local. No momento da investigação existem três fases, de acordo com Brigadeiro do Ar, que são: coleta de dados, análise de dados e relatório. O Seripa conduz as duas primeiras fases, o terceiro é realizado pelo Cenipa.
O número de coleta de dados pode variar, o chefe do Cenipa comenta que “pode ter pouquíssimos dados, como também vários. Como um exemplo de que tenho informação, de uma aeronave de grande porte, obtivemos 3 mil dados para investigação”. Essa primeira fase é nomeada de “Ação Inicial” pelos oficiais.
“No momento que ocorre um acidente, nossa equipe coleta todas as informações possíveis no local, mas tudo depende de vários fatores, como o modelo do avião, se é de grande porte ou pequeno porte. No geral, se tiver, coletamos o gravador de voz, identificamos como está a hélice do motor desse transporte, coletamos os resíduos de combustível, os óleos lubrificantes, hidráulicos e também fotografamos tudo. Nesse momento, tudo é de extrema importância”.
As outras fases são mais de apuração, análise do que e por que aconteceu o acidente. “Posteriormente, na segunda fase do processo, que envolve a comissão de investigação, que é composta por multidisciplinar, como piloto, médico, todos os engenheiros, psicólogos, mestres em meteorologia, especialistas de todos os tipos. Por isso, nossa investigação tem que ter liberdade de acesso aos destroços, aos dados, para que possamos prevenir outros acontecimentos deste tipo. Por exemplo, se acontece um acidente no modelo X por conta de um defeito, vamos aparar o defeitos em todo o modelo desta linha. Por fim, na terceira fase é revisado o relatório preliminar e realizado o relatório final, que é a palavra oficial da autoridade de investigação do estado brasileiro”.
O protocolo internacional prescreve que a publicação do recorte preliminar deve sair em até 30 dias. No documento, revela-se o que aconteceu, o porquê só é explicado no relatório final, no fim da investigação, que não há um prazo final para ser entregue, porém os detalhes são minuciosos, destaca o Brigadeiro do Ar. E todos os relatórios finais publicados são disponibilizados à ANAC (Agência Nacional de Aviação Civil) e ao DECEA (Departamento de Controle do Espaço Aéreo) para que as análises técnico-científicas das investigações sejam utilizadas como fonte de dados e informações, objetivando a identificação de perigos e a avaliação de riscos.
“Diferente da investigação criminal, a investigação do acidente realizado pelo Cenipa não busca apontar a responsabilidade civil ou criminal, mas sim a responsabilidade de entregar segurança para a nossa sociedade, constando os possíveis problemas que contribuíram para o acidente, seja na mecânica ou na logística, assim por diante”.
Por Inez Nazira
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