Animação, dirigida por Luis Henrique de Paula, narra a história de Coxim de maneira criativa e educativa
Desde muito cedo, as crianças são imersas em um universo audiovisual, e quando começam a aprender a ler e escrever, já carregam consigo um vasto repertório de imagens e sons. Esse contato precoce com o audiovisual tem raízes no cinema, que por muitos anos foi a principal forma de imersão visual.
Nesse contexto, a “magia” dos filmes de animação, como os produzidos por estúdios como a Disney, desempenha um papel importante na formação do imaginário infantil, transportando as crianças para mundos fantasiosos. No entanto, esse encantamento exige uma mediação cuidadosa. A educação tem um papel fundamental nesse processo, auxiliando as crianças a refletirem criticamente sobre as narrativas que consomem.
Foi pensando nessa necessidade de conectar o imaginário infantil com a história local que estreou, no dia 25 de novembro, o curta-metragem “Os Livros da Lu: O Surgimento de Coxim” no YouTube. Antes de ser lançado na plataforma digital, o filme foi exibido para cerca de 200 crianças de escolas de Coxim, município de MS (Mato Grosso do Sul), como parte de uma ação educativa.
Com duração de 6 minutos, a animação, idealizada por Sílvia Cerqueira e dirigida por Luis Henrique Pereira de Paula, conta com a edição de Vinícius Graça de Paula e consultoria histórica de José Francisco de Paula Filho e Ariel Albrecht. A proposta do filme é aproximar o público jovem da história local, apresentando a fundação de Coxim de uma maneira lúdica e envolvente.
Enredo
A história do curta segue a jornada de Lu, uma menina de 7 anos, e seus irmãos mais novos, que, em uma viagem mágica, exploram as origens de Coxim. A narrativa revela que a cidade, antes da chegada dos padres, foi habitada pelos povos indígenas, especialmente os Guaicurus, que ocuparam a região do Chaco, no centro-sul da América do Sul, além de partes dos estados de Minas Gerais e Mato Grosso. Em uma viagem com a família até a casa do avô, Lu compartilha com seus irmãos episódios históricos e figuras importantes que marcaram a fundação do município.
O curta-metragem nasceu de um desejo antigo do diretor da animação, Luis Henrique de Paula, em transformar parte da história de Coxim em uma animação, conectando-a com sua própria trajetória familiar. Os personagens foram inspirados diretamente por essa vivência, e a figura do avô da protagonista, que dá base à narrativa. A ideia, surgiu dessa fusão entre o desejo de contar uma história da cidade e as memórias familiares que a permeiam.
“Era um desejo antigo transformar em curta de animação uma parte da história da Coxim e mostrar como ela se mistura com a história da minha própria família. Na prática, a ideia da narrativa foi uma mistura desse desejo: compartilhar uma narrativa local que se mescla profundamente com algumas histórias e vivências familiares”, relata Luis Henrique para a reportagem.
A inspiração para a animação veio também do editor da obra, Vinícius Graça de Paula, que trouxe a ideia, sendo acolhida pela idealizadora e Conselheira Estadual de Cultura, Sílvia Cerqueira. Ela acreditou no projeto como uma forma interessante de contribuir para o município, especialmente por sua ligação com Coxim, onde se apaixonou pela cidade, desde que se mudou.
“A trama toda visa resgatar a magia da leitura, da descoberta e da própria escrita infantil. Esse mundo foi totalmente inspirado em minha filha, uma menina de oito anos que além de devorar livros é fascinada em ouvir, escrever e contar histórias. Usei isso como ponte de contato com esse público infantil, dos 4 aos 12 anos, que acredito que pode ser despertado para a magia da leitura e da escrita por meio de obras como essa”, afirma Luis Henrique.
Levar a história de Coxim para o público infantil é, segundo Luis Henrique, absolutamente vital. Ele destaca que, frequentemente, cinema e televisão apresentam histórias de lugares distantes, sem conexão com a realidade local, especialmente para as crianças. “Ao criar um imaginário baseado no patrimônio cultural de Coxim, a animação oferece uma nova percepção sobre o mundo ao redor, incentivando a valorização e preservação da história e cultura locais, além de abrir novas possibilidades de conexão com a identidade da região”, conta.
Animação como educação
Nos últimos anos, o diretor do curta tem se envolvido cada vez mais com o audiovisual, com um foco especial na animação. Após atuar como diretor de arte e ilustrador no curta A Menina e a Árvore, de Ara Martins, ele decidiu criar outro projeto que valorizasse temas locais e contribuísse para a preservação da história de sua região.
“As crianças são o futuro da nação e quem conhece seu passado consegue entender seu presente para direcionar seu futuro. Além de promover a leitura, o curta-metragem destaca a importância do resgate histórico-cultural, fomentando o senso de pertencimento entre os jovens espectadores. Para Coxim, o projeto representa uma ponte entre o passado e o futuro, inspirando futuras gerações de leitores e criadores”, Relata Silvia para a reportagem.
O curta-metragem não apenas explora a história da cidade, mas também resgata a memória do povo Guaicuru, uma população indígena que habitava a região. Segundo Luis, embora não fosse possível aprofundar todas as relações históricas, a inclusão dessa referência é essencial.
“Além de ser uma população que habitava nossa região, o povo Guaicuru foi resgatado no processo de criação do nosso senso de identidade local, especialmente no período de fundação do estado de Mato Grosso do Sul. Muitas vezes, ficamos deslumbrados com povos distantes, mas tínhamos aqui, no Brasil, indígenas cavaleiros que eram o terror dos novos exploradores”, afirma ele.
A pequena menção aos Guaicuru no curta, serve como uma importante janela para um capítulo pouco explorado da história local, especialmente entre o público infanto-juvenil. “Essa é uma história muitas vezes desconhecida, e queremos, com esse filme, abrir o olhar das crianças para esse aspecto fascinante da nossa origem”.
Silvia Cerqueira, afirmou que todas as escolas terão acesso ao curta, e expressou o desejo de continuar o trabalho. “Todas as escolas podem ter acesso, mas pretendemos dar continuidade ao trabalho, sim. A ideia é expandir essa iniciativa e levar a história local para ainda mais crianças”, disse ela.
Luis Henrique explicou também os desafios de produzir audiovisual fora do eixo das grandes capitais, mas se mostrou otimista. “Produzir audiovisual no Brasil é algo bem desafiador; em nosso estado, fora do eixo das grandes capitais, é ainda mais. Mas, apesar disso, considerando outras modalidades de financiamento, creio que seria muito interessante desdobrar várias informações presentes em nosso curta em outras obras audiovisuais. É um mundo riquíssimo e com enorme potencial, que pode alcançar todas as idades e outros públicos”, finalizou o diretor.
Amanda Ferreira