Mato Grosso do Sul chega ao final de 2024 com números que revelam um cenário econômico desafiador, marcado por retrações em setores tradicionais, como o agronegócio e os serviços, e avanços pontuais, como no mercado de crédito e na geração de empregos.
De acordo com dados do Banco Central, compilados pelo Termômetro do Varejo, o saldo de crédito no Estado atingiu R$ 125,2 bilhões em outubro, sendo R$ 91,4 bilhões destinados às Pessoas Físicas e R$ 33,8 bilhões às Pessoas Jurídicas. Na comparação anual, o crédito às empresas cresceu 11,4%, enquanto o crédito às pessoas físicas avançou 6,6%.
Para a presidente da FCDLMS (Federação das Câmaras de Dirigentes Lojistas de Mato Grosso do Sul), Inês Santiago, o desempenho reflete o comportamento resiliente de consumidores e empresas em um ano de turbulências.
“Mesmo com os desafios econômicos, o aumento no saldo de crédito demonstra que a população e os empresários buscaram alternativas para sustentar suas atividades. Porém, é preciso estar atento à inadimplência, que segue sob controle, mas sempre demanda vigilância”.
A inadimplência, de fato, permanece em níveis gerenciáveis: 3,9% no segmento de pessoas físicas e 3,1% para empresas, índices considerados estáveis para o cenário atual.
Agronegócio sente efeitos climáticos
O agronegócio, setor que há anos sustenta boa parte do crescimento econômico do Estado, teve um 2024 especialmente difícil. Segundo o IBGE, a safra de grãos deve fechar o ano com uma queda de 29,3% em relação a 2023, reflexo de adversidades climáticas que impactaram diretamente a produção.
“Essa retração no agronegócio afeta não só os produtores, mas toda a cadeia econômica do Estado, incluindo o comércio e os serviços. A economia de Mato Grosso do Sul sempre foi muito dependente do desempenho agrícola, e este ano foi especialmente desafiador nesse sentido”, analisa Santiago.
O impacto da queda no agro também pode ser observado no desempenho da balança comercial. De janeiro a novembro, o saldo acumulado foi de US$ 6,7 bilhões, inferior aos US$ 7,1 bilhões do mesmo período de 2023. As exportações caíram 5,6% no período, enquanto as importações recuaram 3,7%.
Comércio varejista cresce
O comércio varejista registrou crescimento nas vendas em outubro, com alta de 0,4% em relação ao mês anterior, de acordo com o IBGE. O varejo ampliado, que inclui segmentos como veículos e materiais de construção, apresentou um avanço mais expressivo, de 2,0%. No entanto, no acumulado do ano, o desempenho foi desigual.
“O varejo foi resiliente em 2024, mas não está imune aos impactos da desaceleração econômica. O consumidor tem optado por compras mais essenciais, e isso se reflete nos números. Enquanto o varejo restrito mostrou um desempenho positivo, o varejo ampliado sentiu os efeitos da retração em setores como o agro e os serviços”, explica Santiago.
Serviços em queda e indústria em alta
O setor de serviços, responsável pela maior fatia do PIB estadual, acumulou uma queda de 6,3% de janeiro a outubro de 2024, contrastando com o crescimento de 3,2% observado na média nacional. Já a indústria apresentou um avanço de 5,5% no mesmo período, compensando parcialmente a retração em outras áreas.
“O desempenho da indústria é um alento para a economia do Estado. Apesar de sua participação menor no PIB, o crescimento industrial contribui para amenizar os impactos de setores que enfrentaram dificuldades neste ano”, avalia Santiago.
Mercado de trabalho resiste, mas renda cai
O mercado de trabalho manteve-se estável mesmo diante das adversidades. A taxa de desemprego caiu para 3,4% no terceiro trimestre, com a criação de 26.972 novos postos formais de janeiro a outubro. O setor de serviços liderou a geração de empregos, com 12.958 vagas, seguido pela indústria, que criou 7.876 postos.
Em Campo Grande, foram criados 8.712 postos no mesmo período, sendo 4.107 no setor de serviços. No entanto, a renda média mensal recuou para R$ 3,5 mil, abaixo do registrado no mesmo período de 2023.
“A desaceleração econômica impactou o poder de compra das famílias, mesmo com a geração de empregos. Isso é algo que precisamos trabalhar para reverter em 2025, estimulando o consumo e o crescimento de setores essenciais”, comenta a presidente da FCDLMS.
Inflação e perspectivas para 2025
A inflação acumulada nos últimos 12 meses, medida pelo IPCA em Campo Grande, ficou em 5,1%, acima da média nacional de 4,9% e distante da meta de 3,0% estipulada pelo Conselho Monetário Nacional.
Para Inês Santiago, o próximo ano será decisivo para a recuperação econômica do Estado. “É hora de traçar estratégias que enfrentem os desafios climáticos, diversifiquem a economia e estimulem o comércio local. Mato Grosso do Sul tem uma força empreendedora robusta, e isso será fundamental para superar as adversidades de 2024”, conclui.
Djeneffer Cordoba