Cantora campo-grandense grava canção tema de filme e recebe elogios de Ney Matogrosso
Mesmo com 13 anos de carreira, todos os elogios são bem-vindos, ainda mais se saírem de grandes nomes. Esse foi o caso da cantora campo-grandense Erica Espíndola, elogiada por Ney Matogrosso pela canção-tema do filme nacional ‘Nunca te Prometi um Mar de Rosas’, em parceria com Aaron Salles Torres, também diretor do filme e Marcelo d’Ávila.
A música acompanha a densidade emocional do próprio longa, especialmente conectada à depressão vivida pela personagem Layla, interpretada por Leona Cavalli. O filme mostra que, devido à depressão da personagem, ela abandona a família por nove meses, e quando retorna não é bem aceita pela filha, que pertence ao espectro autista, e não entende a partida da mãe.
Para o jornal O Estado, Erica Espíndola relembrou como o convite para a gravação da música veio de forma inesperada, e do próprio Aaron Torres.
“Ele disse que já tinha me visto cantar algumas vezes. Lembro que ele me mandou mensagem, há uns três meses, mas naquele atropelo do dia-a-dia não consegui dar atenção para ele. Mas ele insistiu e mandou de novo, e quando parei para ler, entender o que ele estava pedindo, fizemos uma reunião por videochamada, para explicar todo o contexto da música, do filme e até da personagem”, disse.
Erica a confessou que não conhecia o trabalho de Aaron, mas agora rasga elogios para o diretor. “Depois que a gente começou a trabalhar junto, fui ver que ele é alguém de muito prestígio, que tem uma bagagem incrível profissionalmente falando, foi meio que um encontro de almas, fiquei muito feliz”.
O diretor Aaron Salles Torres compartilhou detalhes do processo criativo. Segundo ele, a letra surgiu de uma inspiração pessoal, retratando vivências emocionais que dialogam diretamente com o estado psicológico de Layla. “A música tem essa desaceleração característica do movimento downtempo, uma escolha intencional que remete à introspecção e à melancolia, similar ao trabalho de Lana Del Rey”, comenta o diretor.
Trabalho em conjunto
Após escrever a letra, Aaron gravou trechos iniciais pelo celular, algo que serviu como ponto de partida para Marcelo d’Ávila estruturar a melodia. Posteriormente, com a ajuda da fotógrafa Nivi, foi possível gravar a música em duas partes. O toque final veio com a chegada de Erica Espíndola, que não apenas interpretou a canção com maestria, mas também recuperou nuances emocionais perdidas ao longo do processo.
Para a cantora, foi preciso fazer um mergulho emocional para a interpretação da música, algo que ressoou pessoalmente em sua jornada pela saúde mental.
“Não tenho vergonha de dizer que também sou uma paciente, que tenho um histórico de depressão e ansiedade. Para mergulhar na personagem e na temática do filme, para interpretar a música, acessei sentimentos que já existem em mim, que às vezes estão mais pulsantes, outras menos”.
Ney Matogrosso ouviu a música
A canção se destaca não apenas como um elemento-chave do filme, mas também como uma ponte para a mensagem do final impactante, segundo o diretor, “capaz de carregar o público para fora das salas de cinema com a mensagem que queremos transmitir”. Aaron também revelou que Ney Matogrosso já ouviu a música e aprovou o resultado, um reconhecimento que reforça a força da obra.
“Gostei muito de tudo, a voz dela, essa música estranha, esse clima soturno. Tudo muito interessante mesmo”, contou Ney. Segundo Érica, o elogio a pegou de surpresa.
“Já estava quase dormindo, e me deu a louca para conferir o celular. O Aaron tinha me marcado em um post que falava sobre o Ney Matogrosso, e disse que mostrou a música para ele, que rendeu o elogio. Na hora que entendi tudo, falei ‘caramba!’. Foi maravilhoso”.
O próximo passo do projeto é o convite a um cantor de renome nacional para dividir os vocais com Erica. “Esperamos que essa parceria projete nossa cantora sul-mato-grossense para o reconhecimento nacional”, afirmou o diretor.
“Espero que as pessoas sintam com a música exatamente a mensagem que o filme quer passar, que é a consciência de termos as nossas próprias sombras, e tentei transmitir isso na minha voz e interpretação. A música irá compor uma experiência sensorial bem profunda, alinhada com as intenções do filme. A arte é para isso, para emocionar, impactar e mexer com as nossas estruturas”.
Caminhos e impactos
Para a cantora, o projeto veio em um bom momento, e ainda ofereceu a experiência de trabalhar com um diretor de cinema.
“Quando o Aaron veio falar comigo, foi em um momento completamente alinhado, ressoou com o que eu estava vivendo, e foi um exercício maravilhoso. Ter essa experiencia com ele, que é um cara do cinema e que também tem conhecimento música, mediando as intenções e sutilizas de cada nota e sílaba da música, foi uma experiência especial e enriquecedora. E isso vai acumulando, colocando uns tijolinhos na nossa autoconfiança. A minha participação nessa trilha sonora já teve um impacto direto na minha carreira musical e nos meus caminhos da música”, finaliza.
Por Carolina Rampi