Atletismo põe Estado na rota nacional

Daniel Sena (ao centro, de boné) com equipe em Meeting Paralímpico,em SP. Foto Arquivo pessoal
Daniel Sena (ao centro, de boné) com equipe em Meeting Paralímpico,em SP. Foto Arquivo pessoal

Modalidade se consolida seja em pista de escola, do parque, ou em aldeia

O atletismo sul-mato-grossense tem se consolidado como uma das principais portas de entrada para jovens que buscam o esporte de alto rendimento. Mesmo diante de limitações estruturais, atletas da região têm alcançado relevância no país todo, impulsionados por projetos locais que conectam o esporte à transformação social.
Das pistas simples às competições internacionais , o Estado revelou nomes que deixaram marcas nas principais competições do país. Muitos desses atletas foram formados em polos como o da Escola Estadual Manoel Bonifácio, em Campo Grande, que já teve campeões brasileiros e paratletas de destaque.

No Jardim Tarumã, a pista de 260 metros da Manoel Bonifácio serve como ponto de formação para aproximadamente 100 atletas e paratletas, a maioria estudantes. Por meio do projeto chamado Sprint Social, o espaço já produziu nomes como Wolf Willy, recordista no salto em distância e salto triplo, e Evelyn de Oliveira, tricampeã brasileira no salto em distância.
Além deles, dois paratletas de renome nacional, Yeltsin Jacques e Gabriela Mendonça, também começaram seus treinos na pista da escola.

Daniel Sena, responsável pelo projeto, explicou sobre as dificuldades com a estrutura: “A escola não tem muitos recursos, ou quando tem, é muito pouco. Então precisamos sempre sensibilizar os empresários para nos apoiar. O pó de pedra, por exemplo, é útil para compactar a pista e manter nivelada.”

O Sprint Social nasceu em 2005 com um nome mais modesto: “Seninha Atletismo”. Era o sonho do professor de Educação Física, de criar uma oportunidade para crianças e adolescentes da periferia. Com o tempo, o projeto cresceu, atraiu patrocinadores e passou a transformar jovens promessas em campeões.

Hoje, Sena mantém a essência do projeto: inclusão e transformação social através do esporte.
“Por aqui já passaram atletas que alcançaram essa visibilidade nacional. Fico realmente muito feliz. Parte disso é por acreditar no processo, não pular etapas com crianças e adolescentes. MS é um celeiro de talentos, mas também muitos talentos são desperdiçados justamente por não considerarem um desenvolvimento gradual e cuidadoso no esporte”.

Gabriela durante treinamento junto com o Sprint social em vinda durante setembro de 2023. Foto: Arqu00

Gabriela Mendonça, de 26 anos, iniciou sua carreira no atletismo aos 13 anos, sob a orientação de Daniel Sena. Até o ano de 2021, a paratleta treinava em Campo Grande. Depois, passou a integrar o Sesi, de São Paulo, quando se mudou para a capital paulista. Em 2024, participou das Paralimpíadas de Paris, onde competiu na prova dos 100 metros da classe T13.

“Eu acompanhei todo o processo de desenvolvimento do projeto que o Daniel Sena criou. Muita coisa cresceu e evoluiu, os atletas agora têm uniforme, estrutura, equipamentos e aparelhos que ajudam no desempenho”, disse Gabriela.

– Para Yeltsin, melhor estrutura permite seguir por aqui

Entre os principais nomes revelados pelo esporte sul-mato-grossense está Yeltsin Jacques, uma das maiores referências no paratletismo nacional.
Já reconhecido nas ruas de Campo Grande, o campo-grandense destacou a importância de ser essa referência para a população sul-mato-grossense.
“Acredito que seja uma felicidade para o pessoal daqui saber que eu vivo, treino, faço tudo em Campo Grande. Me vejo como uma referência para essa gurizada e sinto que mudamos o cenário do atletismo em MS, em questão de visibilidade e estrutura”.
O medalhista reforça que as conquistas trouxeram uma maior estrutura e hoje consegue permanecer na Capital.
“Devido às conquistas, principalmente depois de Tóquio, eu consegui uma estrutura em Campo Grande que me permitiu ficar aqui em MS. Tenho tenda de simulação de altitude, a pista do Ayrton Senna que tem um emborrachamento de ponta também. Tudo isso ajuda.
Sobre a pista de atletismo do Parque Ayrton Senna, Yeltsin comentou “Hoje temos essa pista de alto rendimento em Campo Grande. Ela foi crucial para que eu conseguisse me superar e alcançar outros recordes pós Tóquio 2020. A melhora na performance está associada a essa tecnologia da pista também”.
Com 6.300 metros de lona emborrachada, importada da Alemanha, distribuídas em 126 rolos de 50 metros, com oito arraias, a pista também é utilizada pelo projeto Sprint Social e outros atletas de Mato Grosso do Sul.

Foto: Yuri foi ouro no Sul-Americano Sub-20, em Bogotá. Foto: Arquivo

Yuri Moreira Benites, de 18 anos, é mais uma das promessas do atletismo sul-mato-grossense. Estudante da Escola Municipal Polo Indígena Mbo’eroy Guarani Kaiowá, na cidade de Amambai, Yuri compete no lançamento de dardo e conquistou a medalha de bronze no Campeonato Sul-Americano de Atletismo Sub-20, realizado em Bogotá, Colômbia, em 2023.
Yuri começou a praticar o esporte na aldeia, onde treinava com um dardo improvisado, feito de bambu: “Às vezes existe uma improvisação nos treinos, mas hoje em dia minha estrutura melhorou. Faz muita diferença quando você treina com o dardo oficial e o de bambu, que é mais leve. O oficial é mais pesado, é melhor”
Apesar da falta de equipamentos adequados, Yuri não desanima: “O esporte mudou a minha vida. Meu objetivo é chegar numa Olimpíadas, trazer orgulho para a minha cidade, meu estado, pra minha comunidade indígena. Ser um exemplo para todas as molecadas aqui”, afirmou o jovem atleta.

Por Carlos Eduardo Ribeiro

Confira mais notícias na edição impressa do Jornal O Estado do MS.

Acesse as redes sociais do O Estado Online no Facebook Instagram.

 

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *