Mato Grosso do Sul volta a se destacar no cenário do cinema nacional com a 18ª edição da CineBH – Mostra Internacional de Cinema de Belo Horizonte, que começou ontem (24) e irá até o dia 29 de setembro na capital mineira. Dentre os 110 filmes selecionados para a mostra, destaca-se “Na Minha Época”, da diretora Brisa Azevedo de Almeida, representando a produção sul-mato-grossense. A mostra contará com a presença da atriz e diretora Dira Paes, com o filme “Pasárgada”.
A mostra de filmes homenageará a cineasta Anna Muylaert, uma das personalidades mais influentes do cinema brasileiro contemporâneo. A diretora marcará presença na pré-estreia de seu novo filme, “O Clube das Mulheres de Negócios”, que acontecerá no Cine Theatro Brasil no dia 24 de setembro. A obra de Muylaert explora as tensões entre homens e mulheres no ambiente de trabalho, apresentando personagens complexos e bem desenvolvidos que refletem as dinâmicas sociais contemporâneas.
Durante a mostra, serão exibidos alguns filmes dirigidos pela cineasta, incluindo “Que Horas Ela Volta?” (2015), “Durval Discos” (2002), “Alvorada” (2022) e “Mãe Só Há Uma” (2016). Estes e todos os outros títulos dirigidos por Anna Muylaert, incluindo curtas e longas-metragens, poderão ser vistos na plataforma online da CineBH, gratuitamente, durante o período do festival.
A 18ª edição do CineBH traz como tema “Estados do Cinema Latino-Americano”, apresentando 20 filmes selecionados para exibições específicas voltadas para a seção latino-americana. As obras serão divididas em duas mostras: Território, de caráter competitivo, voltada para realizadores em início de carreira no longa-metragem, e Continente, que não é competitiva. Os países representados na seleção incluem Brasil, República Dominicana, Uruguai, Argentina, Colômbia, Chile, Panamá, Costa Rica e México. A maioria dos títulos é inédita no país e se destaca por suas abordagens inovadoras, fugindo dos padrões frequentemente impostos por eventos europeus.
Representação sul-mato-grossense
Do Mato Grosso do Sul, destaca-se o filme “Na Minha Época”, da cineasta Brisa Azevedo de Almeida, formada em Audiovisual pela (UFMS) Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. O curta foi desenvolvido como Trabalho de Conclusão de Curso durante a faculdade. A proposta surgiu em colaboração com os outros dois integrantes da equipe, a partir de uma inquietação em explorar a cidade como um personagem, destacando diferenças geracionais. A animação 2D foi escolhida como a principal técnica utilizada na produção do filme.
O curta se passa em Campo Grande, sobre um menino que se recusa a ir à escola, preferindo se perder em um jogo no celular. Sua avó, então, compartilha histórias de sua infância, revelando que ir à escola também era um desafio e, surpreendentemente, uma aventura. Essa nova perspectiva transforma a visão do garoto, que passa a enxergar os espaços da cidade como cenários de exploração, ligando o passado ao seu presente de maneira lúdica e imaginativa.
A oportunidade de participar do CineBH surgiu por meio de um convite da organização do evento, após a exibição do curta no Cine Ouro Preto. O filme integrará a Mostra Cine-Escola, uma seção voltada para alunos e educadores da rede de ensino de Belo Horizonte e região.
Em entrevista ao Jornal O Estado, Brisa Azevedo destaca que as reflexões do curta estão intimamente ligadas à temática de “pensar o tempo na cidade”. Ela analisa como o passado se entrelaça com o presente, gerando diversas questões, oportunidades e memórias distintas.
“Os personagens foram trabalhados de forma a evidenciar uma composição familiar tipicamente brasileira. Com a avó Ruth e o menino Miguel, construímos um cenário lúdico, evidenciando a figura da avó como anciã dessa família, que cumpre ali o seu papel de instruir o neto e reforçar a imaginação de uma criança, que torna tudo possível”, destacou a cineasta.
A produção do filme de 12 minutos, conta com um time talentoso, sob a liderança de Adilton Cassimiro de Oliveira. O roteiro é assinado por Brisa Azevedo de Almeida, que também atua na trilha sonora. A montagem, a fotografia e a direção de arte ficam a cargo de Giovane Alencar de Moraes. O elenco é composto por Brenda Mayer, Helen Helene, Helena Fruet, Gabriel Duarte e Simone Kliass, que trazem vida aos personagens com suas atuações marcantes.
Fazer Cinema em MS
O curso de Audiovisual da UFMS se destaca como um componente vital para o mercado regional, com professores e alunos altamente engajados em dinamizar o setor por meio de diversos projetos. As iniciativas incluem sessões de cineclube gratuitas e acessíveis ao público, que oferecem qualidade excepcional, além de oficinas destinadas a apresentar as várias áreas do cinema para os aspirantes da profissão. O panorama atual do setor é promissor, mostrando crescimento contínuo e atraindo apoio e um público específico para essa área em expansão.
Apesar da influência de quatro estados em seu currículo, Mato Grosso do Sul foi o que mais se aproximou da cineasta em relação ao cinema. Ela acredita que é inevitável absorver influências de outras regiões ao desenvolver um projeto, especialmente no Audiovisual, uma área coletiva onde cada membro da equipe contribui com suas próprias visões de mundo e inquietações para a construção do filme.
“Eu percebo um cinema muito passional e regional, que traz questões da nossa cultura rica de forma sensível e pontual. Sinto que o estado fala de si mesmo e deseja ser ouvido, algo que se concretiza no grande número de produções documentais que reforçam essa ideia de registrar e contar histórias. Afinal, o cinema é essa inquietação que se transforma em expressão, colocando-se no mundo para ser ouvida e sentida”, detalhou Brisa.
O cinema do Estado enfrenta diversos desafios para alcançar reconhecimento e visibilidade. A distribuição de obras para um público mais amplo, além do círculo pessoal e profissional dos envolvidos na produção, é uma das principais dificuldades. “A concentração de grandes produções em cidades como São Paulo e Rio de Janeiro dificulta o acesso, a divulgação e a valorização de produções oriundas de outras regiões”, relatou um cineasta local, destacando a necessidade de superar essas barreiras para promover o cinema regional.
No entanto, Brisa ficou surpresa ao receber o convite para participar do CineBH. A universidade, reconhecida como um espaço essencial para o desenvolvimento do mercado audiovisual na região, tem revelado diversos talentos sul-mato-grossenses. A exibição do filme no festival representa uma conquista significativa e é motivo de grande alegria para todos os envolvidos no projeto.
“Nosso propósito ao construir o filme foi levar uma produção do Centro-Oeste e representar o estado no Brasil. Como parte da primeira turma do curso de Audiovisual, sinto que ter o filme no CineBH consolida ainda mais a importância da universidade e de toda a sua comunidade para o mercado na região. Sempre recebi muito apoio e incentivo desse lugar”, finalizou Brisa.
Dinâmica do Festival
Durante o evento, serão exibidos 59 longas, 2 médias e 49 curtas-metragens de 15 países, incluindo Alemanha, Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, Costa Rica, Cuba, Espanha, França, México, Panamá, República Dominicana e Uruguai. Além disso, 13 estados brasileiros estarão representados, entre eles Alagoas, Amazonas, Bahia, Espírito Santo, Goiás, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Pará, Paraíba, Pernambuco, Paraná, Rio de Janeiro e São Paulo. As 75 sessões, todas com entrada franca, serão organizadas em 10 mostras temáticas: Continente, Território, Homenagem, Diálogos Históricos, A Cidade em Movimento, Vertentes, Praça, Curtas-metragens, CineMundi, Mostrinha, Cine-Escola e IC Play.
Mostras
A CineBH apresenta uma programação diversificada, com mais de cinco sessões de mostras de cinema que incluem filmes inéditos. Dentre as mostras estão a Mostra Mundi, a Mostrinha, a Cine-Escola, além de continentes, vertentes e homenagens, cada uma com temas personalizados. Para conferir a programação completa, bem como informações sobre ficha técnica, horários e locais, acesse o site oficial do festival em cinebh.com.br.
Por Amanda Ferreira
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