Especialistas explicam como a produção comercial encarece os produtos
Com vários “pés” espalhados por Campo Grande, que vão desde mangas, goiabas, jacas, à laranja e limão, a sensação é que o campo-grandense é realmente abençoado por ter esses alimentos quase que de graça, em ruas públicas. Quem é de Mato Grosso do Sul certamente já teve ou conhece alguém que tenha um pé de algum fruto no quintal de casa. Entretanto, o cenário muda quando nos deparamos com os preços excessivos cobrados pelas frutas nos supermercados. Nesta quarta-feira (28), a reportagem do jornal O Estado percorreu alguns estabelecimentos da cidade, e encontrou o quilo da goiaba tipo vermelha custando entre R$ 10,90 e R$ 15,99.
Para alguns consumidores a pergunta que fica é: como um fruto pode ficar tão caro, tendo o mesmo alimento disponível em ruas, praças ou no quintal. A economista e supervisora do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos) no estado, Andreia Ferreira explicou sobre os fatores que interferem nos preços dos frutos.
“A produção comercial e/ou industrial tem padrões de qualidade estabelecidos por órgãos ou entidades de produtores, demandam investimento – insumos, como agrotóxicos [ou defensivos agrícolas como dizem os produtores], mão de obra, transporte e cuidados no processo de colheita. Por exemplo, no caso das goiabas, pera, nêspera, kiwi, uvas, morangos e maçãs, entre outras frutas que demandam transporte refrigerado”, exemplificou a profissional, sobre os custos que os alimentos carregam para chegar em bom estado de consumo nos mercados.
A especialista pontua ainda sobre o volume de produção dessas frutas, pois não se espera aumento recorde de uma produção para a outra, como ocorre nos cultivos dos grãos do trigo, milho e soja. “A questão da produção comercial e/ou industrial de certas culturas ajuda a entender porque, apesar da época de safra, os preços são caros nos mercados”, reforça.
Outra fruta que os preços chamaram a atenção da reportagem foi a manga tipo Tommy custando entre R$ 9,85 e 13,49 já a manga tipo Hadem o quilo chega a R$ 26,49. O economista Stanley Barbosa avaliou outros motivos que levam ao encarecimento das frutas para o consumidor, um deles é a falta de oferta.
“Essa escassez de oferta pode ter algumas causas, como por exemplo: 1) redução do número de produtores; 2) aumento na renda das famílias; 3) Melhora na qualidade da alimentação; 4) problemas de clima e 5) percepção de valor das pessoas e por aí vai, mas tudo se resume a velha máxima, se os preços estão subindo é porque existe mais demanda do que oferta. Se as pessoas estão dispostas a pagar R$ 13 reais pelo quilo da Banana Prata [exemplo], então o preço tende a se normalizar em torno desse valor”, conclui o especialista.
Período da safra – época de plantio e colheita de uma lavoura – também pode influenciar os preços dos produtos agrícolas. Durante a safra, a oferta de mercadoria é maior, o que tende a baixar os preços. Já durante a entressafra, o período entre o fim da colheita da safra e o início da próxima, os preços tendem a aumentar devido à menor oferta.
Padrões de qualidade
O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento fixou padrões visuais de qualidade para 17 tipos de frutas, legumes e verduras. Estes padrões estabelecem os requisitos para que uma fruta, legume ou verdura seja considerada própria para o consumo. Os padrões foram criados em conjunto com a Ceagesp de São Paulo e a Embrapa Hortaliças e cumprem a Instrução Normativa MAPA nº 69/2018.
Os padrões estabelecem que os produtos devem estar: Inteiros, Limpos, Firmes, Sem pragas visíveis a olho nu, Fisiologicamente desenvolvidos ou com maturidade comercial. Não podem: ter odores estranhos, estar excessivamente maduros ou passados, apresentar danos profundos, ter podridões, estar desidratados, murchos ou congelados. Os primeiros produtos com padrão visual definido são: abacate, alface, banana, batata, caqui, laranja, mamão, manga, melão, melancia, maçã, uva, morango, nectarina, pêssego, tangerina e tomate.
As frutas de exportação devem atender os padrões exigidos pela OCDE, dentro do chamado Programa de Frutas e Hortaliças. As normas facilitam o comércio internacional de frutas e hortaliças por meio da harmonização das normas internacionais de comercialização. Adicionalmente, o programa visa facilitar o reconhecimento mútuo das inspeções pelos países participantes, com aceitação internacional dos certificados de qualidade emitidos.
No caso do Brasil, o padrão visual para a certificação de frutas destinadas à exportação se dará de forma voluntária, conforme interesse do exportador ou exigência do país importador. Segundo o Coordenador-Geral de Qualidade Vegetal do Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Vegetal (Dipov), Hugo Caruso, os países importadores são bastante exigentes. “Eles têm pessoal treinado para não deixar ingressar produtos que não atendam aos requisitos mínimos de qualidade estabelecidos pelos padrões visuais”.
Por Suzi Jarde
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