Com 8 mil crianças na fila de espera por creche, Campo Grande precisaria de 34 novas escolas

Vereadora Luiza Ribeiro propôs o debate na Câmara para repercutir a falta de vagas - Foto: Divulgação
Vereadora Luiza Ribeiro propôs o debate na Câmara para repercutir a falta de vagas - Foto: Divulgação

Especialistas em educação pedem investimentos emergenciais em crianças de 0 a 3 anos

As rampas do plenário principal da Câmara dos Vereadores de Campo Grande foram preenchidas por mais de 500 folhas da atual lista de espera por vagas em creches, com 8470 nomes de crianças de 0 a 3 anos. O ato fez parte da audiência pública que tratou do tema, na manhã desta segunda-feira (19), que reuniu especialistas em educação, representantes dos movimentos sindicais, da Semed (Secretaria Municipal de Educação) e sociedade civil.

Segundo a vereadora Luiza Ribeiro (PT), presidente da Comissão Permanente de Políticas e Direitos das Mulheres, de Cidadania e Direitos Humanos, o ano começou com pouco mais de 6 mil crianças na espera, mas a lista foi atualizada em 25 de julho e apresentou aumento de 2 mil, chegando às mais de 8 mil.

“Em visita às unidades de educação infantil da nossa cidade, percebo que tem sido melhorada, de uma década para cá, temos um resultado muito melhor do que tínhamos na década passada. Essas folhas simbolizam que: educação infantil é buscada pela família porque acha importante esse período de formação e nós precisamos de urgentes medidas, grandiosas medidas para dar conta de atender essa demanda”, destaca a vereadora.

Outro ponto, levantado pela Comissão, é que para abrigar essas crianças seriam necessárias a construção imediata de 34 escolas, para que não haja o inchaço das turmas existentes. “Nós achamos que devia ir no sentido da construção definitiva de novas escolas de educação infantil, pois já chegou no limite as estratégias de expansão. Nós precisaríamos de pelo menos 34 escolas de educação infantil e para já. Ou seja, não é um desafio que se soluciona sem amplo diálogo e sem compromissos. Começa a surgir os inchaços nas salas, que futuramente podem prejudicar a qualidade do ensino”, detalha.

Durante a audiência, foi lembrado que tem pelo menos dez anos que a educação inicial faz parte da Semed, antes pertencia a Assistência Social, e houve um reconhecimento na melhora do que está sendo oferecido, mas é preciso avançar, já que esse déficit é reflexo do atraso na busca por soluções, como defendeu a professora Mariete Felix, do comitê da Campanha Nacional pelo Direito da Educação.

“Hoje estamos vivendo o reflexo de como foi o andamento da educação infantil na nossa cidade. Esses avanços não podem retroceder, não podemos expandir pelo convencimento, temos uma demanda, mas temos que ter políticas de crescimento por expansão e não com conveniências”, disse.

Já ngela Maria Costa, da Aliança pela Infância, lamentou que o município ainda enfrenta problemas desse tipo, discutidos há uma década, enquanto grandes cidades zeraram a fila, como é o caso de São Paulo.

“Não é possível que vamos ficar a vida inteira atrás disso, de um direito constitucional com mais de 30 anos. Se é direito da criança ter um espaço de educação desde que nasce, não tem conversa! A única coisa que se pode fazer é criar espaços, não têm outra alternativa e acumulamos essa dívida por 36 anos. Essas 8 mil e poucas crianças na fila mostram o nosso descaso, nossa incompetência de resolver um problema simples, onde a educação começa antes dela nascer”.

O secretário municipal de Educação, Lucas Henrique Bittencourt, trouxe a Semed em números. Hoje, a Secretaria conta com: 206 unidades escolares, 268 diretores e diretores adjuntos, 8,7 mil professores, mais de 6 mil servidores, 111,8 mil estudantes, sendo que 31 mil deles estão na educação infantil. Além disso, ele discordou das alternativas usadas nas cidades que conseguiram zerar as filas de espera.

“Algumas dessas cidades fizeram algo que não concordamos e não vamos fazer em Campo Grande, que é privatizar o ensino público. Queremos alternativas com planejamentos, respostas rápidas e sem privatizar o ensino. Quando recebo o Fundeb e compro vagas nas particulares, perco continuidade da rede. Hoje uma escola demora cerca de 2 anos e meio, entre licitação e execução, além de todo o processo, por isso estamos buscando alternativas mais rápidas e viáveis”, defendeu.

Quando o debate foi aberto à sociedade civil, a conselheira tutelar Renata Carla Melo, coordenadora na região do Prosa, usou da oportunidade para pedir urgência na solução do que estava sendo exposto. “Quero pedir urgência, porque tem crianças naquelas listas sendo abusadas sexualmente ou sendo largadas em qualquer lugar porque os pais precisam trabalhar. Essas crianças sem o ceinf entram com 4 anos, levam bagagem de agressividade, mas não é culpa delas, mas é porque estão desassistidas”, terminou.

Por Kamila Alcântara

 

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