“É um legado de realização e superação dos nossos limites. Só se consegue conquistas por meio de desafios” Pedro Chaves
É quase um senso comum associarmos a Avenida Ceará com a Uniderp (Universidade para o Desenvolvimento do Estado e da Região do Pantanal). Mas, a maioria das pessoas não conhece as origens da universidade, e como ela está intrinsecamente ligada com a criação e desenvolvimento de Mato Grosso do Sul. Agora, o legado está eternizado no livro ‘Uniderp: Sonhos e desafios na construção de um legado educacional na região do Pantanal’, dos professores e fundadores Pedro Chaves dos Santos e Therezinha dos Santos Samways.
A obra conta a história da concepção, construção e trajetória do Cesup (Centro de Ensino Superior Plínio Mendes dos Santos) e da Uniderp (Universidade para o Desenvolvimento do Estado e da Região do Pantanal), que revolucionaram a educação no Estado e em todo país. E tudo começou com a criação do colégio MACE (Moderna Associação campo-grandense de Ensino), fundada em 1969 pelos irmãos e professores.
“Começa eu, Terezinha e Plínio, três irmãos. Nós eramos professores de Campo Grande, de matemática, e eramos chamados de ‘irmãos da matemática’. Nós três vimos que qualidade da educação que tínhamos aqui era muito tradicional e resolvemos criar a MACE, com um ensino moderno, atualizado, onde o aluno era o centro do ensino-aprendizagem, foi uma ideia realmente boa”, relembrou Chaves em conversa com o jornal O Estado.
Até então o colégio funcionava em casas transformadas em salas de aula nas ruas Sete de setembro e Calógeras, mas a demanda foi maior que o esperado: no primeiro ano eram 400 alunos matriculados, no segundo o número subiu para 1.100. Com isso, o trio pensou que a instituição de ensino precisava de uma sede própria. Os recursos para a construção vieram dos próprios apoiadores. “Vendíamos bolsas de estudos, era possível comprar os anos de estudo, do primário ao colegial”, explicou Chaves.
Após a inauguração da sede própria, o número de alunos foi para mais de quatro mil, com aulas nos três períodos do dia. Mas os irmãos, sempre querendo avançar na educação, começaram a visar o ensino superior.
“Fizemos uma análise e vimos que havia uma demanda para a criação de cursos superiores. Fomos ao Ministério da Educação para pedir a autorização para a criação, e foram autorizados a criação dos cursos de tecnologia de aplicações, eletrotécnica e licenciatura. Começamos a arrumar as salas para os cursos a noite, na própria Mace, e assim criamos em 1976 o Cesup (Centro de Ensino Superior Plínio Mendes dos Santos, em homenagem ao irmão Plínio, que havia falecido em 1974 em um acidente automobilístico).
“A escola foi a base que nos permitiu seguir adiante com a ideia de ofertar educação de alta qualidade aos estudantes universitários de Mato Grosso do Sul e do Brasil. Com o forte crescimento econômico e populacional na década de 1960, entendemos a necessidade de ampliar as ofertas de curso de nível superior, pois muitos alunos precisavam sair de Mato Grosso do Sul para estudar no Rio de Janeiro, São Paulo e Paraná”, explica Therezinha Samways.
Visionário
Inicialmente os cursos superiores funcionavam na MACE, mas o grupo entendeu que era preciso aumentar o espaço, para atender a uma demanda crescente da população.
“A criação do Cesup foi muito importante, e com o tempo sentimos a necessidade de criar uma sede própria para ele. Conseguimos a área na rua Ceará, mas no local ainda não havia nada, não tinha linha de ônibus, energia, telefone, mas sismei com a área. Até mesmo Therezinha me chamou de louco”, relembra.
“Em 1977 começamos a criação da sede própria do Cesup [que hoje é a Uniderp] e no mesmo ano foi criado o Estado de Mato Grosso do Sul, pelo presidente Ernesto Geisel. Então, coincidiu com o nascimento da cidade e o da universidade. Eu ficava motivado em saber que com a criação do novo Estado, a população iria aumentar e demanda por cursos superiores também. Em 1978 inauguramos a sede própria, o que levou desenvolvimento para àquela região, com linhas de ônibus novas, energia elétrica”.
Dai para frente a Cesup só cresceu: em 1980 foi inaugurado o curso de Arquitetura, um marco para o grupo e para o Estado, que iniciou uma parceria nos anos seguintes com a faculdade, em busca de auxílio no tombamento do Casario do Porto, em Corumbá.
Os cursos de voltados a agronegócio também foram pensados. O grupo comprou uma área para dedicação exclusiva dos cursos de veterinária, agronomia, biologia, cursos da aérea da saúde. E em 1996 e Cesup se torna Universidade, concedendo assim autonomia para o desenvolvimento de colegiados, pesquisas e extensão.
O livro “Uniderp: Sonhos e desafios na construção de um legado educacional na região do Pantanal” reúne ainda depoimentos de professores e colaboradores que atuaram ao longo de décadas em ambas as instituições.
Pesquisa e Extensão
Um dos pontos destacados pelo professor Pedro Chaves é o desenvolvimento de pesquisa e extensão, para levar o conhecimento da universidade para outros pontos, e desenvolver o que era aprendido.
“Quando criei a universidade pensei em como faríamos pesquisa, já que é uma coisa cara, ainda mais com a mensalidade do aluno. Então, elaboramos o seguinte modelo: 3% da arrecadação será revertido para pesquisa, 2% para extensão, levar o conhecimento da universidade para a comunidade, e 2% para a biblioteca. Com o crescimento, compramos uma area do Pantanal para pesquisas, criei uma pousada para os pesquisadores, que era para todos os pesquisadores, até de fora, recebemos delegações dos Estados Unidos, França, Inglaterra e Alemanha. Havia muita interação, criamos pesquisas em conjunto”, destaca.
“Depois investimos na extensão, levando a comunidade tudo o que produzimos. Um dos projetos interessantes é o ‘Navega Pantanal’, onde escolhemos 10 fazendas dentro do pantanal, e criamos polos onde os fazendeiros e funcionários tinham cursos de práticas de agricultura e pecuária. Essa aula era via satélite, os peões iam para uma sala com televisão e computadores, e aplicavam na fazenda depois, isso era o trabalho de extensão, isso enriquecia muito as fazendas”, completa.
Orgulho
A trajetória de levar educação para o Centro-Oeste, entrelaçada com a criação e desenvolvimento de Mato Grosso do Sul, é motivo de orgulho para Chaves. “É um legado de realização e superação. É isso que devemos ter na vida, superar os nossos limites, sempre temos o potencial de fazer mais do que fazemos. Sempre aceitamos desafios, só se consegue conquistas por meio de desafios. Com grandes desafios vem grandes conquistas. Como dizia Paulo Freire, a educação é transformadora e libertadora, nos liberta da ignorância, da falta de conhecimento. Esse legado que deixamos transforma o aluno, tiramos eles das periferias da cidade, e daqui a alguns anos ele é um advogado, desembargador, juiz”, finaliza.
Por Carolina Rampi
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