Especialistas afirmam que secas podem gerar queda na produção e deixar as abelhas sem alimentos
A apicultura é uma das atividades agrícolas mais sustentáveis e que contribuem para a preservação do ecossistema do Brasil, e enfrentam muitos desafios quando o assunto é o período de estiagem que afetam diversas regiões do país. Com a falta de chuvas no Estado, as abelhas e a produção de mel são impactadas, acarretando em uma queda nas vendas dos produtos advindo das abelhas e um prejuízo econômico para os apicultores. A longa estiagem também contribui para o aumento do estresse nas colônias de abelhas, tornando-as mais vulneráveis a doenças e a ataques de pragas.
A seca impacta diretamente a quantidade de flores, que representam a principal fonte de néctar para as abelhas. Com uma diminuição no número de flores, há uma queda acentuada na oferta de néctar, o que faz com que as abelhas produzam menos mel. A falta de água e o aumento das temperaturas tornam o habitat ainda mais hostil para esses insetos, que precisam percorrer distâncias maiores em busca de alimento, o que os desgasta e compromete sua eficiência na produção.
Para o engenheiro agrônomo e proprietário da empresa Apiários Pôr do Sol, Matheus Comiran Dallasta, explica que no estado de Mato Grosso do Sul a produção se inicia no meio do inverno e se estende até a primavera.“É preciso um pouco de frio e seca para as folhas das árvores caírem e as gemas das plantas se diferenciarem para as flores crescerem. Temos duas floradas importantes nesse tempo, aroeira e cipó-uva, e as duas precisam de julho e agosto secos”. Entretanto, Matheus Comiran afirma que nesse ano foi mais seco do que o normal, e por mais que períodos de estiagem sejam fundamentais para a produção do mel, também se tornam prejudiciais. “A seca favorece as queimadas e as queimadas não só atingem e matam as plantas, diminuindo as floradas para as abelhas, mas também atingem as colmeias, matando todo o enxame. A estiagem no inverno é comum, o que reduz flores e néctar são os desmatamentos e queimadas, e não a estiagem”.
Segundo o proprietário do Apiário Pôr do Sol, o consumo abaixou de 2022 até este ano, e com a volta dos juros altos diminuem o poder aquisitivo da população para as compras dos produtos. A expectativa para produção deste ano é que tenha um clima favorável à produção de mel, mas abaixo da última safra. “A safra passada foi bem seca e deu muito mel. A alta oferta de mel levou a uma redução dos preços bem abaixo do esperado. E agora, no final da entressafra, os preços deram uma leve reagida ao mercado”.
As consequências da seca para a apicultura vão além da produção de mel. A polinização, é crucial para inúmeras culturas agrícolas, também sofre alterações. Plantios de café, frutas e hortaliças, que necessitam da polinização das abelhas para assegurar uma boa colheita, podendo ter suas safras prejudicadas, e impactando toda a cadeia produtiva.
O apicultor Guilherme Vieira Rocha Júnior é proprietário do Apiário Favos do Cerrado, e trabalha desde 2019 no ramo da apicultura. A produção de mel da empresa é concentrada em Campo Grande, mas já houve envios para abastecimento em outros estados e até para os Estados Unidos. O produtor explica que as vendas de mel na capital tem sido produtivas para quem trabalha com apiários. “As vendas e as demandas em Campo Grande têm sido boas, devido as apreensões de mel falsificado que tenham gerado desconfiança no público, e com isso muitas pessoas preferem comprar mel diretamente do produtor”.
Guilherme Vieira afirma que o período de seca é essencial as árvores florescerem e produzirem o néctar para as abelhas. “A qualidade do mel produzido na seca é excelente, pois o nível de umidade no mel é bem baixo, o que é muito favorável. Apicultores mais experientes mencionam que uma chuva leve antes da florada pode ajudar as árvores a produzir mais néctar, mas chuva durante a florada é prejudicial. Atrapalhando o trabalho das abelhas, fazendo as flores caírem e levarem o néctar”.
Durante a entressafra, com a falta de alimentos para as abelhas devido ao período mais úmido, os produtores devem fornecer outros meios para sustentar os insetos e manter as produções. “Quando há escassez de alimento na natureza, o apicultor deve fornecer alimentação artificial ao enxame. São oferecidos alimentos líquidos que substituem o mel e secos que substituem o pólen”. Guilherme ainda ressalta que as queimadas que tem ocorrido recentemente no estado, não só podem afetar na produção do mel, como também matar os enxames nativos.
Por João Buchara
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