Exposição individual: Grandfanda: Resposta à Realidade está aberta para visitas no Paço Municipal

(Fotos: Ryan Paès/Arquivo pessoal)
(Fotos: Ryan Paès/Arquivo pessoal)

Exposição de pinturas a óleo sobre tela é inspirada na cosmovisão e visa provocar reflexões profundas sobre arte e espiritualidades

Campo Grande recebeu, no último dia dois de julho, uma exposição singular que promete desafiar as fronteiras entre a matéria e o espírito através da arte abstrata. Ryan Paès, artista local, traz ao Paço Municipal uma coleção única de pinturas que mergulham fundo nas cosmovisões humanas, explorando o conceito de Grandfanda e sua resposta ao real.

Na sua primeira exposição individual, intitulada “Grandfanda: Resposta à Realidade”, Ryan convida o público a explorar o transcendental através de suas pinceladas carregadas de significado. Inspirado por um profundo fascínio por religião e espiritualidade desde jovem, Ryan traça um percurso artístico que passa pelo realismo, expressionismo, e explora diversas técnicas da arte visual, chegando até mesmo à performance. No entanto, foi na pintura plástica que encontrou sua verdadeira expressão.

Ryan Paès, nascido em 2001 em Campo Grande, Mato Grosso do Sul, demonstrou talento precoce em artes visuais, iniciando sua formação acadêmica na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul aos 18 anos e concluindo aos 22. Durante esse período, participou ativamente de exposições regionais e nacionais, sendo reconhecido com prêmios como o Prêmio Arara Azul de Artes Visuais em 2020. Sua obra foca na exploração da subjetividade e cosmovisões, investigando a transição entre carne e espírito, temas que permeiam sua pesquisa artística contínua.

“Grandfanda” surge como uma expressão do primeiro mortal ascendente segundo o Livro de Urântia, um manuscrito que Ryan utiliza para ampliar e desconstruir conceitos religiosos, buscando um sentido mais amplo para sua prática artística. Ele rejeita certezas absolutas e se dedica à pesquisa de diferentes áreas e culturas, enriquecendo sua pulsão poética com os ensinamentos deste livro, que, sem vínculos religiosos ou iniciáticos, oferece novas perspectivas sobre a espiritualidade e a arte.

“Na tela, na imagem, na arte, vejo claramente a tela como um corpo. Assim, a tinta é o corpo, é o plástico, é o excesso, é a parte da matéria. Ela começa a se abstrair conforme cria essas imagens, que não são apenas imagens, mas sensações. Torna-se quase um portal de sensações onde todos os quadros vão conversar com todas as pessoas”, afirmou o artista para a reportagem do jornal O Estado.

Cosmovisão

Para explicar sua arte, Ryan detalha o conceito de cosmovisão como a visão integrada do mundo, enfatizando a compreensão pessoal do ser e da existência no universo. Suas obras vão além do físico, explorando o espírito, a mente e a estética em uma integração completa. Ele destaca que essa abordagem não se limita à simples localização geográfica ou ao ego individual, mas transcende para algo cósmico.

“Não é apenas o corpo, mas algo além: pode ser o espírito, a mente, a estética — tudo isso que não existe propriamente em um mundo físico material. O ser integrado é o ser do corpo, da mente, do sentimento e do espírito, tudo junto, tudo unido. Quando se une o material, essencialmente visível, com o imaterial, invisível, tem-se uma integração única”, explicou Ryan.

Ryan prefere explorar pinturas que provocam e geram reflexões pessoais, destacando sua existência consciente no mundo. Em sua fase atual, ele utiliza a arte para indagar sobre sua identidade e trajetória: “Quem sou eu? Como sou eu? Quem fui eu? Sou daqui e vou acabar aqui. Para onde vou?”, reflete o artista.

Antes de se considerar um pintor intuitivo, Ryan valoriza a experimentação. Em suas obras abstratas, ele aprecia a liberdade criativa de não controlar rigidamente o resultado. “Gosto das mudanças. Começo com uma ideia inicial e, com gestos, movimentos e intervalos, volto a trabalhar na imagem, que termina de uma maneira nova e diferente”, revelou.

Religiosidades

Desde jovem, Ryan sempre explorou diversas religiões, passando pelo evangélico, católico e se crismou. Com o passar dos anos, ele amadureceu e aprofundou suas pesquisas, explorando filosofia budista, medicina tradicional chinesa, Reiki e espiritismo kardecista. Inspirado pelo conceito de Grandfanda, Ryan universalizou essa ideia espiritual, atribuindo-lhe um novo significado à religião, ao mesmo tempo, em que desconstruiu e ampliou seu horizonte espiritual.

“Se o mundo se restringisse apenas à matéria física, o que seria então? O que representaria esse impulso eletromagnético que permeia o cérebro? Talvez seja o espírito, algo mais abstrato. Assim, um ser integrado que engloba esses corpos sutis e energéticos vai além do físico, refletindo uma concepção espiritualista” afirmou.

À medida que as imagens se desenvolvem, elas transcendem a mera representação visual, transformando-se em sensações que funcionam como portais para emoções profundas. Cada quadro tem o potencial de estabelecer um diálogo íntimo com o observador, capaz de ressoar profundamente, mesmo após muitos anos.

“Assim como a matéria humana, o quadro é físico, é o tecido da realidade. E, à medida que é trabalhado pelo artista, ele se enriquece não apenas com sensações estéticas, mas também com uma qualidade invisível que habita a obra. Portanto, não se trata apenas de um objeto limitado à sua materialidade, mas de um objeto sensível, carregado de significado além da simples matéria” explicou.

Óleo sobre a tela

A abordagem meticulosa de Ryan para criar seus quadros é evidente em cada etapa do processo artístico. Ele trabalha principalmente sobre tela, utilizando tanto lona preparada com base de água quanto com tinta a óleo, cuidando minuciosamente de cada técnica empregada.

Ele prepara a tinta diretamente do tubo na paleta, com médium, e a aplica na tela, permitindo que as cores se misturem e se transformem conforme interagem entre si. Ryan adota uma abordagem minimalista quanto ao uso de pincéis, utilizando um pincel mestre mediano para a maioria do trabalho, reservando pincéis grandes para áreas extensas e pincéis finos para detalhes específicos, como assinaturas.

Para ele, cada obra é resultado de um processo quase alquímico, onde a mistura cuidadosa da tinta com solventes e óleo é essencial para alcançar o equilíbrio desejado. “Você precisa pegar a tinta, misturá-la com solventes, com óleo, equilibrá-la, deixá-la balanceada; é um processo bem químico mesmo. Manipulando essa cor, gosto de excesso, não só de cores e formas, mas também de impastos”, detalhou o artista.

Dentro das paredes brancas da galeria, Ryan Paès acredita que suas obras têm o poder de provocar, incomodar ou causar estranhamento, o que ele considera minimamente extraordinário. Ele espera e compreende que nem todos os espectadores apenas se interessarão, mas também se deixarão afetar e sentirão uma conexão com suas criações.

“Por mais que, inicialmente as pessoas não se interessem por arte, só de olhar para os quadros, a proposta já tem chance de habitar o seu subconsciente, enriquece o repertório visual dessas pessoas de maneira sensível, mas acima de tudo, provocando e causando um estranhamento que considero transformador” finalizou o artista.

A exposição Grandfanda, será ampliada também para a Galeria de Vidro em Outubro deste ano.

Serviço

A exposição estará aberta de segunda a sexta até o dia 31 de julho, das 7h30 às 16h no Paço Municipal de Campo Grande, localizado na Prefeitura de Campo Grande, Av. Afonso Pena n.° 3297. Para mais informações e para conferir mais informações desse universo artístico, siga @ryanpaes.art e @secturcg nas redes sociais.

 

Por Amanda Ferreira

 

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