Preços de matéria-prima para fabricar bolos e doces está cada vez mais caro

Bolos recheados
expostos para a venda
em vitrine de doceria (Foto: Nilson Figueiredo)
Bolos recheados expostos para a venda em vitrine de doceria (Foto: Nilson Figueiredo)

Derivados também tiveram alta, tornando os quitutes aida mais onerosos

Fabricar bolos e doces está ficando cada vez mais caro. O aumento dos custos é atribuído às mudanças climáticas que afetaram o mundo no último ano, desafiando a produção a se adaptar às novas condições e atender à crescente demanda. Ingredientes essenciais como farinha, chocolate e leite condensado viram seus preços disparar como resultado.

Mayla dos Santos, advogada e confeiteira, busca complementar a renda familiar vendendo doces. Ela relata que a atividade empreendedora já foi mais vantajosa, mas o aumento dos preços dos insumos tem dificultado o negócio. “Os tempos eram melhores. Agora, com os aumentos, precisamos reduzir nossa margem de lucro para evitar repassar os custos elevados aos clientes”, afirma Mayla.

A confeiteira relata que, no início do ano, conseguiu comprar leite condensado por um preço médio de R$ 4,89. Hoje, esse mesmo produto chega a custar R$ 6,00 nas prateleiras do supermercado, um aumento de 23,46%. O preço do leite captado em abril registrou um aumento de 5,1% em relação ao mês anterior, atingindo R$ 2,45 por litro na “Média Brasil” do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da USP (Universidade de São Paulo). Trata-se da sexta alta mensal consecutiva. Com o aumento do preço da matéria-prima, os derivados também ficam mais caros, tornando os doces cada vez mais onerosos para os consumidores.

Michelle Pinho, proprietária de uma padaria no centro de Campo Grande, acompanha de perto os preços dos insumos. Nos últimos 30 dias, ela já sentiu um aumento de 15% no preço da muçarela. A empresária explica que a padaria consegue absorver esses custos por um período, mas com a alta constante, inevitavelmente terá de repassar os aumentos ao consumidor. “No início, tentamos segurar os preços, mas se continuar aumentando, terei que repassar para o cliente. Não podemos mudar a fórmula ou usar outra marca porque o cliente percebe a diferença no sabor e arriscamos perdê-los”, afirma a empresária.

No IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), medido pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o leite longa vida acumulou uma queda anual de 7,9% até fevereiro, enquanto o queijo teve um recuo de apenas 0,82% no mesmo período.

Entre janeiro do ano passado e o mesmo mês deste ano, o preço médio por quilo dos queijos em geral subiu 9,7%, e o da manteiga aumentou 12,3%. A muçarela, o tipo de queijo mais consumido no país, que representa mais de 60% do volume de mercado, ficou 3,7% mais cara no período. A alta de preços foi ainda maior para o queijo minas frescal (19,7%) e os queijos especiais (20%), como brie, cheddar, colonial, cottage e gorgonzola.

Mudanças Climáticas

Um relatório divulgado neste mês pelo NBER (National Bureau of Economic Research), com sede nos Estados Unidos, revelou que os danos econômicos causados pela mudança climática são seis vezes maiores do que o esperado. De acordo com o estudo, a produção não está conseguindo se adaptar para suprir as demandas resultantes das mudanças climáticas. Segundo o economista Eduardo Matos, o mundo está vivenciando um período caracterizado por altos custos de produção, o que resulta em produtos mais caros.“Todos os fatores estão caminhando para a mesma direção e a direção escolhida vai contra o sucesso econômico.”

Ainda segundo o especialista, o setor de produção de grãos foi o primeiro a sinalizar uma expectativa negativa, com produtores prevendo safras menores em comparação aos anos anteriores de recordes consecutivos. Embora o leite ainda não tenha sofrido choques de preços significativos, é um setor sensível à inflação e pode ser o próximo a sentir os efeitos econômicos negativos. A cadeia produtiva da farinha, já em alerta devido à crise na Argentina e à guerra na Ucrânia, mostrou resiliência, mas enfrenta novos desafios devido aos impactos na economia global. A expectativa é de um novo ciclo recessivo com efeitos em outros setores.

O preço do cacau commodity, utilizado principalmente pela grande indústria, registrou um aumento surpreendente há pouco mais de um mês. A tonelada, negociada a US$4.000 até o ano passado, alcançou US$12.000 em abril. Desde então, o preço tem variado, mas permanece significativamente acima da média histórica.

Conhecer o mercado

Samuel Paim, gerente de uma doceira na capital, destaca a importância de compreender o mercado ao longo do ano. “Nesta época, enfrentamos a estiagem, o que sabemos que aumentará os preços de produtos como leite condensado e farinha. Por isso, nos preparamos com antecedência”, explica. Ele menciona que aproveita promoções para estocar ingredientes como farinha, cacau em pó e leite condensado, mas ressalta que essa estratégia não se aplica a insumos mais perecíveis como leite e queijos.

 

Por Ana Krasnievicz

 

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