Lojistas dizem que a reforma na 14 de julho interfere no desenvolvimento do varejo na região
Um levantamento inédito da CDL (Câmara dos Dirigentes Lojistas) de Campo Grande mostra que, após a pandemia, 690 comércios fecharam nas ruas que compõem o quadrilátero central, o que representa 42% dos 1675 abertos. O quadrilátero abrange as 17 ruas entre as ruas Calógeras até a Bahia e da Avenida Fernando Corrêa da Costa até a Mato Grosso.
Segundo Adelaido Vila, presidente da CDL, a pesquisa mostra o impacto da digitalização das compras e transações bancárias, que ganharam força na pandemia e permaneceram na rotina da população. Antes, a área central recebia consumidores que se deslocavam para pagar boletos ou resolver questões na agência física do banco, mas, agora, tudo é feito por aplicativo.
“O último público que o Centro perdeu é o bancarizado, com a questão da pandemia, foi intensificado toda essa coisa do Pix, foi intensificado também toda e qualquer transação sendo feita de forma on-line. Isso impactou diretamente no fechamento de agências, que eram imóveis grandes. Com isso, parte desses imóveis que você está vendo aí nessa relação, muitos deles são espaços que eram utilizados por bancos e esses são espaços grandiosos que são até um pouco mais difíceis de serem locados”, disse Adelaido ao Jornal O Estado.
Um exemplo é o antigo prédio da Caixa Econômica Federal, icônico de vidros espelhados, na Rua Barão do Rio Branco. A agência recebia filas de usuários, mas o movimento caiu e o local foi disponibilizado para aluguel, onde o famoso aplicativo de compras Shopee chegou a negociar um espaço físico aqui na Capital, mas antes mesmo da obra terminar, criminosos invadiram a estrutura e roubaram toda a fiação, desistindo da locação.
Locutor há 30 anos em frente ao prédio, Luiz Bento, 60, enfatiza que a rua virou espaço para “pedintes” e a falta de segurança pública contribui para a insegurança na região. “Aqui virou rua de pedinte; eles vêm aos montes. Passa um, passa outro, e, em algum momento, um deles acaba levando algo. Acredito que a movimentação seja pela rodoviária”, afirmou o profissional.
Ele acrescenta à reportagem que se não fossem os furtos de fios, já teriam inaugurado o espaço físico do aplicativo de compras e colaborado na movimentação de clientes na região. “Estavam reformando aqui, era para ser uma loja da Shopee, mas durante a reforma furtaram todo o material e os donos desistiram. Enquanto tínhamos o banco aqui, era fiscalização passando direto. Agora estamos
Revitalização na 14 afeta o varejo
Para o proprietário da loja infantil Buá Kids, Gilmar Oliveira, 49, a tendência do varejo virtual contribuiu para a redução do fluxo de clientes, além do aumento no aluguel do espaço, que, inclusive, provocou a mudança da loja infantil para um espaço menor. Contudo, para o proprietário, a reforma realizada na 14 de julho foi o maior empecilho.
“O consumidor não tem mais o interesse de vir dentro da loja, andar e tal, se ele pode tudo, ele faz tudo pelo celular. Mas foi logo após a reforma da 14 que o impacto foi maior. Para nós, comerciantes, a reforma foi negativa, principalmente pela falta de estacionamento, que já quase não tinha e agora não tem nenhum, então foi um dos principais motivos que eu acho que está fazendo as vendas caírem dia a dia”, pondera o proprietário.
Segundo o presidente do Conselho Regional da Região Urbana do Centro, Campo Grande conta com aproximadamente 4.000 imóveis abandonados. Apenas na Fernando Correia da Costa, na Avenida Mato Grosso, são em torno de 15 a 18 estabelecimentos fechados, destaca o profissional, e acrescenta que a revitalização tem interferência direta na evasão de lojas no centro.
“Está sendo discutida uma pauta em que a prefeitura possa baixar o IPTU, para isso, é necessário que se faça uma real avaliação dos imóveis sediados na 14 de julho. A discussão é que a reforma, a revitalização teve impacto direto na majoração do aluguel e IPTU, as lojas estão migrando para onde aluguel mais barato ou fechando de vez ”, afirma o presidente.
Por Ana Cavalcante e Kamila Alcântara