O sentimento mais desejado e buscado pela humanidade tem até uma data só sua: dia 20 de março é celebrado o Dia Internacional da Felicidade
Felicidade, substantivo feminino que segundo o dicionário Michaelis significa “Estado de espírito de quem se encontra alegre ou satisfeito; alegria, contentamento, fortúnio, júbilo. Acontecimento ou situação feliz ou alegre; sorte, sucesso, ventura”. Mas o que é a felicidade? O sentimento mais desejado e buscado pela humanidade tem até uma data só sua: dia 20 de março é celebrado o Dia Internacional da Felicidade.
Segundo o Estudo Global da Felicidade, divulgado em 2023 pela rede Ipsos, a população brasileira é a 5ª mais feliz do mundo, atrás apenas de países como China, Arábia Saudita, Holanda e Índia. No Brasil, 83% dos entrevistados consideram-se muito felizes ou felizes.
Entretanto, o transtorno de ansiedade afeta cerca de 18,6 milhões de indivíduos no Brasil, conforme dados da OPAS (Organização Pan-Americana da Saúde). A população brasileira também desponta como a maior prevalência de transtornos de ansiedade do planeta, segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde).
Então, como pode um país com altos índices de ansiedade e de doenças emocionais, ainda configurar um percentual elevado de pessoas felizes? O tema é complexo e exige análise profunda. Para a autora do livro “O Mapa da Felicidade” e especialista em autoconhecimento e inteligência emocional, Heloísa Capelas, a felicidade não pode ser encontrada fora de nós mesmos, em ações de terceiros e em expectativas criadas, seja para outras pessoas quanto para futuras situações. “Esse é o primeiro passo, é preciso trazer isso para consciência e não entrar no automático. Não crie dependência em nada que seja externo”, diz a autora.
A especialista enfatiza que a definição de felicidade, atrelada ao conceito de não sofrer é uma utopia, ou seja, uma situação inexistente. “É uma ilusão. O próprio ato de nascer já é sofrido. Viemos com essa formação psíquica que nos constitui enquanto seres humanos. Se for esperar não passar por nenhuma situação dessa para sermos felizes, o sentimento se tornaria inatingível”, explica Heloísa.
O estado possui o IPPMS (Instituto de Psicologia Positiva de Mato Grosso do Sul), fundado em 2017, que oferece uma abordagem psicológica baseada em evidências científicas que estudam as qualidades das pessoas, como bem-estar, felicidade, virtudes, perdão, gratidão, promovendo e desenvolvendo as potencialidades individuais. Para a psicóloga, especialista em Psicologia Positiva e diretora do IPPMS, Márcia Dreon Cappellari, realizar esse tipo de abordagem nos tempos atuais é “desafiador, porém, extremamente necessário promover uma felicidade real, desmistificando a felicidade construída por uma mídia social onde coloca todos em um padrão por vezes inatingível, levando as pessoas a depressão e ansiedade”, relata.
Segundo ela, a busca pela felicidade deve começar em extrair o melhor de cada um, sem realizar comparações, para buscar o que faz sentido em sua vida. “Cultivar as relações positivas, apreciar o simples, se conectar com a natureza e com as pessoas, através de um tempo de qualidade, se distanciando das redes sociais, na medida do possível. Sei que muitos dependem das redes sociais para trabalhar, porém usar de forma adequada”, explica Márcia.
A especialista ainda cita que a felicidade atualmente, é conhecida como a felicidade imediata, ou seja, uma ‘felicidade hedônica’. “[É a] felicidade do prazer, que nos faz produzir dopamina, porém é altamente visitante e nunca suficiente, dando a sensação de sempre querer mais e nunca estar satisfeito”. Esse tipo de comportamento está ligado ao prazer imediato, da redução dos sofrimentos por meio da obtenção de gratificação externa e rápida, como bens materiais, comida, bebidas. “Não que seja errado, porém, devemos buscar o equilíbrio entre felicidade do ser e do ter”, ressalta Márcia.
Felicidade Interna Bruta
Um dos princípios abordados por Márcia, é o conceito do FIB (Felicidade Interna Bruta). O conceito surgiu no Butão, país do sul da Ásia. Assim como o cálculo do PIB (Produto Interno Bruto) que mede o desenvolvimento de um país, a FIB mede os aspectos qualitativos de uma população.
No FIB há nove pilares que norteiam os indicadores usados pelos questionários de medição: bem-estar psicológico (autoestima, estresse), saúde (políticas de saúde, hábitos), uso do tempo (lazer, família, amigos), vitalidade comunitária (nível de interação com a sociedade), educação (estudo formal e informal, envolvimento na educação dos filhos) cultura (participação em eventos culturais), meio ambiente (percepção do uso dos recursos), governança (analisa a imagem do governo) e padrão de vida (avalia renda, segurança financeira).
“A felicidade é uma busca diária”
A felicidade é, na opinião da jornalista Carla Andréa, uma busca constante. Por volta dos 16 anos, a jovem iniciou com sintomas de um quadro que mais tarde foi diagnosticado como depressão, chegando até a se mutilar. Ela conta que com a chegada da pandemia, os sintomas pioraram. “Teve um momento que achei que estava bem, mas voltou na pandemia, quando eu estava mais sozinha, com a ansiedade, e fui diagnosticada pela minha atual psicologa com os dois. É um processo bem difícil, que muitas vezes você passa sozinho, eu passei sozinha aqui, fazendo faculdade, sem poder ver ninguém, sem sair; às vezes chorava sem motivo”.
Com o quadro de depressão, Carla relata que a terapia foi essencial para se reerguer. “É um período bem complicado, você tem que tirar forças, não sabe da onde, mas comecei a fazer terapia e descobri os motivos, fui me recuperando, com os remédios. E com terapia, que sempre é a solução, e com a terapia eu saí desse mundo meio escuro, porque querendo ou não nessa fase de depressão fica tudo escuro, por mais que você esteja com 300 luzes, tudo está escuro, como uma nuvem negra”.
O estudante Gabriel Issagawa, apresentou um quadro depressivo grave em 2021, e com terapia e tratamento, houve uma melhora em seu estado de saúde mental, mas o jovem passou por momentos difíceis até encontrar algo que o reestruturava. “Em 2017 sentia uma tristeza profunda, achava que era normal, sempre tive rede de apoio, então pensava ‘para de reclamar de barriga cheia, pare de ficar triste’, me sentia ingrato. Em 2019 decidi buscar ajuda e desde lá venho fazendo tratamento […], tive que mudar de psiquiatra, em 2021, descobri que tinha tratamento de graça no CAPS, faz três anos que faço tratamento gratuito”, relata.
Carla ainda reitera o conceito que a especialista Heloísa Capelas menciona, do que entendemos que é felicidade, e que pode ser uma ilusão.”Eu sempre soube o que me fazia feliz: assistir esportes, meu irmão, fazer as coisas que gosto, assistir algo, sair. E quando a gente tem depressão e ansiedade vai perdendo isso, e muitas vezes acaba aceitando coisas de outras pessoas, em relacionamentos gerais. Então quando começou a terapia, fui tomando os remédios, vi o que realmente me fazia feliz e o que eu só estava na ilusão de me fazer feliz, porque quando você esta na depressão, você aceita as mínimas coisas, porque aquilo é uma ilusão, e a terapia mostra aquilo que você é de verdade, aprende a cortar pessoas da sua vida que mais te levavam para a depressão do que te tiravam dela. Eu descobri que sozinha é melhor do que mal acompanhada, ao se descobrir de novo você descobre a felicidade. É claro que a felicidade são dias e dias, mas a felicidade é uma busca diária, você não é feliz todo dia, tem que buscar sempre”, finaliza.
Heloísa explica que à medida que buscamos o prazer dentro de nós, com tudo que a vida nos oferece, com consciência, aceitando, perdoando, renovando nossas emoções e deixando cada coisa no seu lugar, passado no passado, presente no presente e futuro no futuro, começamos a percorrer a estrada correta que leva à felicidade.
“O caminho não é fácil e esbarra em diversos desafios, mas são atitudes do dia a dia, o autoconhecimento e a inteligência emocional o ferramental necessário para tomar a vida para si, construindo-a na direção não da felicidade efêmera ou irreal, mas no bem-estar e na maturidade intrinsecamente relacionadas à felicidade real”, conta Heloísa.
Reflexões e orientações
– Reconhecer a inteligência espiritual em busca da sabedoria interior; o real entendimento da raiva, inclusive compreender para que serve esse sentimento; acolhê-lo, aceitá-lo e seguir adiante;
– Praticar a compaixão para transformar a relação consigo e com o entorno;
– Praticar uma reciclagem de sentimentos, ou seja, transformar o negativo em positivo e entender que paciência, persistência e prática são peças-chave nessa jornada;
– Perdoar e não se aprisionar ao passado e nem antecipar o futuro;
– Não depositar sua felicidade a absolutamente nada que esteja fora de você: coisas, pessoas ou comportamentos;
– Enxergar situações desafiadoras com positividade e com a perspectiva de aprendizado e de mudança;
– Entender e aceitar que condições ideias quase nunca existem, portanto, faça o melhor, viva o melhor como é possível hoje;
– Busque o prazer do caminho trilhado e não só o da chegada; e busque o que te faça bem sempre.
Serviço
A autora do livro “O Mapa da Felicidade” e especialista em autoconhecimento e inteligência emocional, Heloísa Capelas realizará uma masterclass online e interativa no dia 20 de março, e responderá perguntas ao final. O tema é “Ser Feliz é Decisão” e a aula é gratuita, mediante inscrição por meio do link: https://conteudo.centrohoffman.com.br/masterclass-felicidade-inscricao.
Por Carolina Rampi
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