Com a inflação acumulada em 24,54% de acordo com o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), o arroz agulhinha atingiu a média dovalor de R$ 28,04 nesta semana em Campo Grande. Diante do cenário, o jornal O Estado foi até as marmitarias da capital, para entender como o segmento alimentício tem reagido e como o item base da alimentação brasileira deve impactar no bolso do consumidor nos próximos meses.
Conforme a Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), é estimado para este ano, algo próximo a 10,8 milhões de toneladas na produção, em decorrência do incremento na área e maior produtividade. Essa maior oferta, somada ao período da colheita que se inicia ainda este mês, deve pressionar os preços pagos ao produtor e, consequentemente, os preços nas gôndolas dos supermercados
ôndolas dos supermercados. Um levantamento do DIEESE (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos) revela que o preço médio pago pelo consumidor no período de 2019 a 2023 no pacote de arroz de 1 kg e 5 kg teve alta de 77,98% e 71,11%, respectivamente. Na pesquisa de preço com itens da cesta básica, realizada toda semana pelo jornal O Estado, encontrou na sexta-feira (02) o pacote de 5 kg sendo vendido por R$ 30,29 o valor mais caro, e R$ 26,90 o preço mais em conta para o consumidor.
O economista do Sindicato Rural de Campo Grande, Rochedo e Corguinho, Staney Barbosa Melo, avalia que o quadro de alta nos preços do arroz é um problema que vem se arrastando desde o ano passado. Em 2023, por exemplo, problemas de estiagem na região Sul do país ocasionaram redução de área e consequentemente de produção no Rio Grande do Sul, que responde sozinho, por aproximadamente 70% da produção nacional.
“Tivemos nas últimas safras sucessivas quedas de produção. Para se ter uma ideia, na safra 2020/21 a produção brasileira de arroz foi de 11,8 milhões de toneladas, caindo para 10,8 milhões na safra 2021/22 e para 10 milhões na safra 2022/23. Este ano a expectativa é que a produção comece a se recuperar”, pontua o economista.
A conta não fecha
No Espaço Frango Assado, um marmitex pequeno custa R$ 17, enquanto um marmitex médio é comercializado a R$ 20 e o de tamanho grande é vendido a R$ 25. Conforme o proprietário Anderson da Silva Fernandes, 37, no final do ano, os valores receberam um adicional de R$ 1 a R$ 2 devido a alta nos alimentos. Segundo Fernandes, o estabelecimento utiliza por dia o teto de 20 kg de arroz, em média. Contabilizado, a soma é de quatro pacotes de 5 kg, que hoje, de acordo com a cotação média feita pelo jornal O Estado em quatro supermercados da Capital, é de R$ 28,04, ou seja, por dia, um estabelecimento gasta R$ 112 e por semana, somente com arroz, o montante sobe para R$ 672,96.
Conforme Fernandes, o volume de vendas continua positivo se comparado a dezembro e não tem decaído. Na contrapartida, a alta no preço dos alimentos não ajuda os empresários, já que mesmo com um bom fluxo de compradores, o caixa tem se esvaziado.
“Agora no começo do ano subiu o arroz e nós já tínhamos subido o nosso preço no final do ano passado, se subir novamente, automaticamente caem as nossas vendas. Do mesmo jeito que fica ruim para nós comprarmos, fica ruim para vender. Se você sobe o valor, o pessoal não vem comprar, acha caro”, lamenta o empresário, que explica ainda, que antes das altas na batata e no arroz, por exemplo, gastava menos que 15 a 20 mil reais por semana de compras, agora esse é o custo médio das compras semanais.
O comerciante Ronaldo Ferreira Vidal, 52, que utiliza a marmita como refeição há, pelo menos, oito anos, argumenta que há dois percebeu uma elevação expressiva nos preços. “A tendência é só subir, baixar eu acho que vai ser difícil, já que um pacote de arroz de 5 kg hoje você paga R$ 28 ou R$ 30. A batata subiu, o feijão, tudo subiu”, lamenta.
Em busca de estratégia
O supervisor do Ponto do Frango, Willian Romário, 24, argumenta que o arroz e a batata foram os itens que mais aumentaram em 2024 em sua observação na dinâmica do estabelecimento. No comércio, por enquanto não houve reajuste e não há previsão para que haja. Mas, conforme pontua, isso só é possível porque a carne e o óleo abaixaram o valor, o que traz um certo equilíbrio para que o segmento consiga sobreviver.
“A gente consegue dar uma equilibrada, porque se tivesse aumentado todos os alimentos em si, aí não teria como manter, teria que fazer um reajuste. Como aumentou batata e arroz, mas óleo e a carne baixaram, é possível dar uma equilibrada, até porque não é todo dia que utilizamos a batata, mas em compensação o arroz é todo dia”, esclarece.
“Já tinha subido o nosso preço no final do ano, se subir novamente, vão cair as vendas” – Anderson da Silva, empresário
No estabelecimento Ponto do Frango, o marmitex PP é comercializado a R$ 10. Já os tamanhos convencionais, como P, é vendido a R$ 15, o M a R$ 18 e o G a R$ 22. Conforme explica Romário, o aumento de qualquer valor nas marmitas gera queda no movimento do estabelecimento.
Por isso, foi necessário traçar uma estratégia para não perder a clientela. “Teve uma galera que não queria pagar a de R$ 15 porque é muita comida, então colocamos a de R$ 10 e diminuímos a comida em si e aí que surgiu a mini, número sete, que é a de R$ 10, que vem com um assado, frango ou linguiça. Então, nós acabamos compensando, por exemplo, se ia usar com batata, troca pela mandioca”, destaca Romário.
Por Julisandy Ferreira
Confira mais notícias na edição impressa do Jornal O Estado do MS.
Acesse as redes sociais do O Estado Online no Facebook e Instagram
Leia mais:
Mesmo com queda, consumidor ainda encontra dificuldade para consumir carne bovina todo dia