Investigação conclui que menino de dois anos foi agredido pela mãe e o padrasto

coletiva depca
Foto: Nilson Figueiredo

Mesmo após a prisão, casal nega suposta autoria e mais uma vez evidencia a vulnerabilidade infantil 

A Polícia Civil confirmou ontem (1º) que as investigações apontam para que o menino de dois anos internado na Santa Casa em estado grave teria sido agredido pelo padrasto de 23 anos e pela mãe de 19 anos. O novo episódio de agressão comprovada contra a criança em Campo Grande mostra que os pequenos estão cada vez mais vulneráveis a adultos agressores. Vale lembrar, que no ano passado, o caso Sofia ganhou repercussão nacional e revoltou a população da Capital.

Conforme a polícia, durante os nove dias de investigação, a DEPCA (Delegacia Especializada de Proteção à Criança e Adolescente) concluiu que o menino sofreu agressão em diversos órgãos vitais, tais como: rim, braço, crânio e pulmão. Desde o dia 23 de janeiro tanto a mãe, quanto o padrasto da criança apresentaram diversas versões sobre o que teria ocorrido e motivado a agressão.

A primeira delas apresentada pela mãe indicou que a criança teria caído do degrau, contudo, a versão caiu por terra após a polícia ter acesso às imagens de câmera de segurança que mostram o padrasto e a genitora correndo pelas ruas do Jardim Colibri com o menor nos braços.

Segundo a delegada Nelly Macedo responsável pelo caso, a família era moradora em situação de rua e vivia invadindo casas abandonadas.

“A agressão aconteceu dentro de uma residência que o casal havia invadido e depois correram para uma rua distante pedir socorro para despistar a polícia. Por diversas vezes a versão foi mudada pela mãe para encobrir o padrasto”, pontuou a delegada.

O homem que já tem passagens por roubo quando menor e violência doméstica após completar os 18 anos, já foi preso por tentativa de homicídio contra o enteado. Na delegacia ele confirmou que é usuário de entorpecente e nega o envolvimento no caso.

A delegada ressaltou ainda que mesmo o casal e as crianças vivendo em situação de rua, não haviam denúncias ao Conselho Tutelar sobre a vulnerabilidade das crianças de dois e quatro anos.

“Por mais que eles não tivessem residência fixa, os menores eram limpos, aparentemente crianças bem cuidadas. Ninguém sabia que o casal havia invadido a casa, achavam que tinham alugado o local”, finalizou Nelly Macedo.

A Polícia Civil pediu a prisão temporária de 30 dias para o casal e aguarda os laudos que devem ficar prontos em até 10 dias, para confirmar como a vítima foi agredida e o que causou essas lesões. Em nota, a Santa Casa informou que a criança se mantém em coma com ausência de reflexos, respirando com ventilação mecânica e aos cuidados e monitoramento intensivo.

Um ano após o caso que chocou o Brasil

A história de agressão contra criança se repete um ano após a morte da pequena Sophia de Jesus, com dois anos na época, espancada e violentada até a morte pelo padrasto Christian Campoçano Leitheim, de 25 anos.

A mãe da menina também era conivente com as agressões contra a própria filha. O tempo passou, mas a mesma história se repete, crianças agredidas dentro do seio familiar.

12 meses se passaram após a morte da menina, que virou assunto nacional e quase nada foi feito. Os acusados estão presos, os advogados dos réus conseguiram adiar o julgamento que aconteceria em março de 2024 e agora segue sem data definida.

Olhar diferenciado para as crianças vítimas de violência

No ano passado, uma sala especial de plantão da Depca (Delegacia Especializada de Proteção à Criança e Adolescente) começou a funcionar nos fins de semana, dias de ponto facultativo e feriado. A unidade foi instalada dentro da Depac/ Cepol (Delegacia de Pronto Atendimento Comunitário) em atendimento às vítimas de violência sexual e maus-tratos.

Outra medida adotada foi o aumento no número de conselheiros tutelares, que atualmente na Capital são de 40 profissionais, no entanto 15 dos empossados seguem sem lugar para trabalhar e estão atuando nos conselhos já existentes, lembrando que Campo Grande passou de cinco para oito Conselhos Tutelares. Uma vez que a legislação vigente prevê que as cidades devem ter um Conselho Tutelar para cada 100 mil habitantes. Campo Grande, com mais de 900 mil moradores, possuía apenas cinco sedes.

Já em relação a 1º Casa de Atendimento à Criança e Adolescente do Estado, o projeto deve sair do papel. No último dia 25 de janeiro o governo recebeu a doação do terreno onde o local será instalado. A área de quase 6 mil m², dividida em 13 lotes, teve a autorização da doação publicada no DOU (Diário Oficial da União) em dezembro do ano passado.

“Este aparelho é muito simbólico para o Estado. Vamos trabalhar para mudar a realidade em relação ao atendimento à criança e ao adolescente. Todos temos responsabilidade com a iniciativa, que é de extrema importância”, destacou o governador Eduardo Riedel no ato de assinatura do contrato de adoção.

Com objetivo estratégico, o terreno fica próximo a Casa da Mulher Brasileira, no Jardim Imá, para que os diversos atendimentos oferecidos sejam mais acessíveis.

A desembargadora e coordenadora da Infância e Juventude do TJMS (Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul), Elizabete Anache, reconheceu a importância da instalação do Centro de Atendimento.

“É justamente a existência de um ponto de referência para que todas aquelas famílias, e situações na qual tivermos crianças e adolescentes vítimas de violência, possam se dirigir e receber atendimento total. Nós encontramos uma facilidade muito grande nesse terreno”.

Por Thays Schneider.

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