Vítimas são na maioria homens e jovens
Mato Grosso do Sul começou o ano de 2024 com o registro de 14 vítimas de homicídio, com casos até de execuções em praças e grande emprego de poder armamentício. Para quem investiga os casos, ainda é cedo para análises se há crescimento ou diminuição dessas ocorrências e faltam estudos mais aprofundados sobre questões sociais que envolvem as vítimas.
Para o delegado-adjunto da DHPP (Delegacia Especializada de Homicídios e Proteção à Pessoa), José Roberto de Oliveira, os registros de assassinatos seguem um padrão, com pouca variação e que não há estudos locais que expliquem o comportamento ou contexto social dos envolvidos.
“Uma coisa que notoriamente tem acontecido são execuções com vários tiros, que dizem estar associado a facção criminosa. Em anos anteriores teve, mas não tinham o poder bélico que têm hoje, talvez as organizações criminosas estão levantando dinheiro, mas não podemos ter certeza por não possuirmos análises aprofundados”, pontua o José Roberto.
Outra questão levantada pelo delegado é o processo investigatório aplicado aqui, que acaba impedindo possíveis avaliações mais detalhadas. “Existe a investigação inicial e a de seguimento, que é o nosso caso. O ideal seria que a unidade permanecesse com o caso desde a ciência, para não haver descontinuidade, para refletir o aspecto policial e dizer se a percepção penal da polícia civil gera efeitos ou não”, conclui.
Um exemplo de homicídios de uso impressionante do poder bélico, como citado pelo delegado, foi registrado no município de Sidrolândia esta semana. Dois jovens de 26 e 25 anos foram executados a tiros em uma praça da cidade. Uma terceira vítima, um rapaz de 22 anos, foi baleado também, socorrido e levado ao hospital. Para a polícia, o jovem contou que um homem parou de moto no local e começou a efetuar vários disparos, eles tentaram fugir, mas apenas ele conseguiu sobreviver.
Este caso comprova uma preocupante estatística: a maior parte dos registros de assassinato tem como vítimas pessoas do sexo masculino e jovens. Conforme o painel de estatísticas do Sigo (Sistema Integrado de Gestão) da Sejusp (Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública), das 14 vítimas de homicídio doloso no Estado, onze eram homens e seis deles com menos de 25 anos.
Segundo feminicídio
Desde 2015, a Lei do Feminicídio separa os casos de homicídio doloso das mortes de mulheres cometidas em situações de violência doméstica. Na noite de sexta- -feira (12), Maria Rodrigues da Silva, de 66 anos, moradora de São Gabriel do Oeste, foi a segunda vítima de Mato Grosso do Sul neste ano e o autor é o seu ex-companheiro.
Casos de feminicídios são mais assustadores, uma vez que a vítima passa por várias agressões antes da fatalidade. Em 2023, 31 mulheres perderam suas vidas nas mãos de seus companheiros e ex-companheiros, oito foram apenas em Campo Grande. Já em 2022, 42 foram vítimas de feminicidio, ou seja, 11 a mais em relação a 2023, houve uma queda significante, de acordo com a delegada da DEAM (Delegacia Especializada em Crimes contra Mulher), Eliane Benicasa, de um ano para o outro.
“Houve uma diminuição considerada, de 12 feminicídios consumado para Campo Grande em 2022, para 8 no ano passado, e no Estado também houve uma diminuição de 23%. Eu tenho certeza que isso é resultado de todo o trabalho desenvolvido, onde as ações são intensificadas por todos os componentes da rede, por todos aqueles que protagonizam esse sistema de proteção. É com os trabalhos constantes, concomitantes e intensos durante todo o ano, e não apenas nos meses alusivos ao enfrentamento da violência contra a mulher” pontua.
O primeiro caso aconteceu no terceiro dia do ano. Luciene Braga Morale, de 50 anos, morreu após dar entrada no hospital de Sidrolândia, com sinais de espancamento e rigidez cadavérica, causadas pelo marido. Contudo, conforme a delegada, a tendência é diminuir o número de casos fatais e aumentar o registro de denúncias.
“A tendência é sempre manter a queda, porém nós vemos que durante oito anos, desde a criação da casa da mulher brasileira, em 2015, há sempre uma variação da quantidade de feminicídio socorridos, há uma variação crescente, depois decrescente, não há um gráfico, vamos dizer assim, padrão, como há no aumento de registro de boletim de ocorrência, que há um crescimento contínuo desde 2015 e isso é bom, ao revés a estatística do feminicídio, ela oscila entre os anos, mas a intenção, a finalidade de todo o trabalho é, com certeza, a diminuição cada vez mais, ano a ano”, revela.
Por Inez Nazira e Kamila Alcântara
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