Segundo o cônsul honorário, o país tem interesse na importação de
produtos de MS e em criar um mercado consumidor para seus fertilizantes
A relação comercial entre Brasil e Cazaquistão, país da Ásia Central, deve aumentar, com a instalação do Consulado Honorário em Mato Grosso do Sul, isso porque, segundo o cônsul Alípio Oliveira, o país tem interesse em criar parcerias com o agronegócio brasileiro, em especial com o Estado, por meio das commodities e de seus fertilizantes.
“O Cazaquistão nem produzia muito os fertilizantes, até porque tínhamos dois grandes produtores mundiais – Rússia e Ucrânia, que ainda são os maiores, mas estão paralisados por conta da guerra, e são vizinhos do Cazaquistão. Então hoje existe um hiato no mercado e um ponto de interrogação, dizendo como será a safra 2024/2025. Hoje, o Cazaquistão é o único país a curto e médio prazo que pode atender o Brasil, na questão dos fertilizantes”, assegurou.
Hoje, a relação comercial entre o Brasil e o Cazaquistão é pequena, conforme o cônsul. Mas pode ser muito maior pela potencialidade do país asiático, que tem o maior PIB da Ásia Central e é o 9º maior país do mundo, por conta do seu território. “Praticamente não fizemos negócios, ainda. Estamos começando agora, por meio da negociação de alguns navios de fertilizantes para a safrinha e para a safra 2024/2025 e aí vamos começar, realmente, a mostrar para o Brasil que o Cazaquistão é um super parceiro, um novo parceiro comercial e também abrir um mercado que a gente não tem. O Cazaquistão, hoje, corresponde a mais de 60% do PIB da Ásia Central”, explicou.
O Consulado Honorário em Mato Grosso do Sul é o terceiro no Brasil e foi inaugurado no último dia 13. Os outros dois estão localizados em São Paulo e Santa Catarina. “Eles primeiro foram para Santa Catarina, depois São Paulo, que dispensa explicações. E Mato Grosso do Sul é por ser a porta do agronegócio e a gente tem ainda a perspectiva de, daqui dois ou três anos, estar utilizando a Rota Bioceânica, que vai ser o caminho direto para a Ásia e tudo está caminhando para que o Estado seja a ‘bola da vez’ junto com o Cazaquistão”, reiteirou Alípio.
O Estado: Qual é a função de um consulado?
Alípio: A função, antes de mais nada, no primeiro item em ordem de prioridades é dar assistência às pessoas da nacionalidade daquele consulado, documentação, emissão de vistos para turistas. Entretanto, como o Cazaquistão é um país populacionalmente pequeno, com pouco mais de 21 milhões de habitantes, apesar de ser um dos maiores do mundo, em território, eu acredito que essa demanda seja muito pequena, de atender a população cazaque aqui, em Campo Grande, Mato Grosso do Sul. Eu acredito que nosso maior trabalho vai ser fomentar parcerias comerciais entre o Brasil, mais precisamente, o Mato Grosso do Sul, e o Cazaquistão.
O Estado: Como é definida a escolha de cônsul e o que ele tem de fazer?
Alípio: Primeiro, tem que ter a reputação ilibada, alguém que tenha, em tese, vencido na vida, seja algum expoente. Você passa por uma sabatina do Estado, no caso do Cazaquistão, e por outro pente-fino do governo brasileiro. No meu caso, eu fui aprovado pelos dois governos, eu tenho um mandato de quatro anos, que pode ser renovado a critério das três partes, do cônsul, do Cazaquistão e do Estado brasileiro.
O Estado: O senhor, como cônsul, tem de ter raízes do país que irá representar?
Alípio: Não, eu não tenho descendência cazaque, mas tem que ter algum conhecimento da população, do país e isso eu tenho. Há alguns anos, eu conheci pessoas do governo cazaque, embaixador, secretários, e eles estavam procurando alguém para auxiliar no agronegócio, abrir portas, porque o governo do Cazaquistão tem interesse na importação de produtos nossos, commodities, como a proteína animal, e mais ainda em criar um novo mercado consumidor para os fertilizantes que são produzidos lá.
O Estado: Qual a relação que existe atualmente entre o Brasil e o Cazaquistão?
Alípio: Existe uma relação comercial, mas muito pequena, ínfima, quase nada, pelo que se pode ser criado. Pela potencialidade, praticamente não fizemos negócios ainda. Estamos começando agora, por meio da negociação de alguns navios de fertilizantes para a safrinha e para a safra 2024/2025 e aí vamos começar, realmente, a mostrar para o Brasil que o Cazaquistão é um super parceiro, um novo parceiro comercial e também abrir um mercado que não temos, porque hoje, quando se fala em Ásia, lembra-se na hora da China. Então, exportamos muita coisa para a China, mas para o mercado central asiático, a gente não exporta, praticamente não temos negociação e o Cazaquistão, hoje, corresponde a mais de 60% do PIB da Ásia Central.
Para se ter uma ideia, Kuwait é um país rico, em questão de petróleo e gás, muito rico, o Cazaquistão corresponde a cinco Kuwaits, que é um dos principais, nessa produção de petróleo e gás no mundo, hoje, mas além da matriz energética estar mudando, o petróleo e o gás são finitos. Por exemplo, os Emirados Árabes Unidos, já vendo isso, de umas décadas para cá, já começaram a fomentar o turismo, porque quando eles não tiverem mais petróleo e gás, eles terão o turismo para sobreviver. Então, como o Cazaquistão está muito próximo aos Emirados Árabes, a Índia, a Rússia e a China, vai ser difícil se tornarem grandes operadores de turismo, mundialmente falando, mas como eles têm uma vasta territorialidade, hoje, o Cazaquistão tem, por exemplo, 330 milhões de hectares agricultáveis. Dentro desse total, fica boa parte do solo mais fértil do mundo.
O que eles visualizaram é que eles não precisam se tornar turísticos, mas podem se tornar grandes operadores do agronegócio. Eles têm interesse um entreposto comercial, um regulador de mercado. Capital para isso eles têm e querem também levar o brasileiro para lá e usar toda sua expertise na agricultura, de modo que não temos que tratar o Cazaquistão como um concorrente, a China é o nosso concorrente, os Estados Unidos, mas o Cazaquistão, não. Eles tem interesse que o Brasil produza muito, que melhore suas expertises e que a gente aumente essa parceria, trabalhe em conjunto com eles, porque eles não têm condições de fazer isso sozinhos. Eles têm terra, dinheiro, fertilizantes, mas não tem expertise. A expertise, hoje, do agronegócio é do brasileiro.
Estado: O Cazaquistão tem agora, com MS, seu terceiro consulado, os outros são em SP e Santa Catarina. Por que em Mato Grosso do Sul?
Alípio: Eles primeiro foram para Santa Catarina, depois São Paulo, que dispensa explicações. Mato Grosso do Sul é por ser a porta do agronegócio e a gente tem ainda a perspectiva de, daqui dois ou três anos, estar utilizando a Rota Bioceânica, que vai ser o caminho direto para a Ásia e tudo está caminhando para que o Estado seja a ‘bola da vez’ junto com o Cazaquistão.
O Estado: Economicamente, pode haver uma aproximação entre MS e o Cazaquistão?
Alípio: Sim. Inclusive, o Cazaquistão nem produzia muitos fertilizantes, até porque tínhamos dois grandes produtores mundiais – a Rússia e a Ucrânia, que ainda são os maiores, mas estão paralisados por conta da guerra, e são vizinhos do Cazaquistão. Hoje, existe um hiato no mercado e um ponto de interrogação, dizendo como será a safra 2024/ 2025, porque ainda não se tem ideia de como vamos conseguir fertilizantes no Brasil, porque além do preço alto, será que vamos conseguir comprar esses fertilizantes?
O Brasil pode entrar em uma ciranda complicada, como aquela história do cachorro correr atrás do rabo e não sair do lugar. Hoje, o Cazaquistão é o único país a curto e médio prazo que pode atender o Brasil, na questão dos fertilizantes. Foi justamente neste hiato que o Cazaquistão procurou alguém que pudesse colocá-lo no mercado do agronegócio.
O Estado: Qual o principal fator econômico do Cazaquistão?
Alípio: O Cazaquistão é um dos principais produtores de trigo do mundo, produz algodão, mas não chega a ser um dos maiores do mundo, tem o petróleo e gás, também. Agora, o que eles querem, é levar novas culturas, além do trigo e algodão, principalmente a soja.
O Estado: O intercâmbio econômico entre MS e o Cazaquistão pode ser estreitado, com o agronegócio?
Alípio: A China, mesmo, as empresas chinesas entraram no Mato Grosso, há aproximadamente três anos, e na última safra, 42% dos produtos plantados naquele Estado já tinham venda certa para a China. Isso está próximo dos 50%, do que é produzido no Mato Grosso do Sul que vai para a China. O que a gente quer é exatamente que o Cazaquistão vire a China do Mato Grosso do Sul, seja o grande parceiro comercial e mais, sem sufocar o produtor rural, porque se não ele morre. Precisa-se ser parceiro, abrir uma nova frente comercial de captação dos produtos, fazer a troca de produtos, ter financiamentos mais baratos do que está conseguindo aqui, dentro do país. Acredito que temos um mercado extremamente promissor e bilionário nas nossas mãos.
O Estado: Existe a possibilidade de empresas brasileiras e aqui, do Estado, se estabelecerem no país?
Alípio: Total. Inclusive, é isso que estamos tentando e é até por isso que o primeiro consulado foi instalado em Santa Catarina, pois existe uma multinacional brasileira, a Weg, e ela está produzindo no Cazaquistão, para atender o mercado asiático. A maior empresa de pivô central do mundo está produzindo no Cazaquistão, porque lá é o celeiro mundial e eles estão abrindo uma nova frente de trabalho para os brasileiros e não é para subempregos, é para técnicos, agrônomos, engenheiros mecânicos, tratoristas e operadores de máquinas.
Por Rafaela Alves.
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