São Paulo e Flamengo chegam ao jogo derradeiro da Copa do Brasil à imagem e semelhança de seus treinadores.
O time tricolor, dirigido pelo sereno Dorival Júnior, tem a vantagem do placar construído no jogo de ida, no Maracanã, 1 a 0. Em casa, na tarde de domingo (24), só precisa manter a tranquilidade na execução de seu plano para confirmar o título.
A formação rubro-negra, comandada pelo irritadiço Jorge Sampaoli, vive momento estendido de caos. A equipe parece gestar uma crise por dia e, de alguma forma, terá de esquecer seus problemas na tentativa de virar o confronto decisivo no Morumbi.
Perto da glória inédita no torneio, o São Paulo tenta se manter alheio à barafunda do rival. No centro de treinamento da Barra Funda, Dorival procurou manter calmos os jogadores, ansiosos com a possibilidade de levantar o troféu mais relevante do clube em 15 anos.
“A ansiedade é um fato natural, temos que conviver com tudo isso”, afirmou o técnico. “As pessoas estão dando a vida para que tudo aconteça. O São Paulo está prestes a ser recompensado por ter um trabalho sério e com dedicação.”
Um trabalho do qual o Flamengo abriu mão. Dorival conduziu o clube ao título da própria Copa do Brasil, no ano passado, e triunfou também na Copa Libertadores. A diretoria, porém, enxergou problemas e preferiu trocar o profissional pelo português Vítor Pereira.
A agremiação da Gávea, então, começou uma temporada extremamente turbulenta. Pereira perdeu tudo o que disputou e foi substituído pelo argentino Sampaoli, que, com sua maneira agitada, não construiu com o grupo a relação que tinha Júnior em 2022.
Os últimos meses tiveram três casos registrados de agressão envolvendo, jogadores, comissão técnica e dirigentes. O preparador físico Pablo Fernández deu um soco no atacante Pedro e foi demitido. Depois, foi a vez do volante Gerson quebrar o nariz do lateral Varela.
Nesta semana, o vice-presidente de futebol do clube, Marcos Braz, envolveu-se em briga com um torcedor em um shopping center do Rio de Janeiro. Cobrado pela má fase do time, apareceu em vídeo chutando esse torcedor no chão disse ter apenas reagido.
A versão do torcedor é diferente e inclui o surreal relato de uma suposta mordida levada na virilha. Mas, independentemente do duelo de versões, virou mais um problema às vésperas de um confronto decisivo.
“São fatos isolados, não tenho como controlar. O diagnóstico que faço do que está acontecendo tem a ver com o fato de o Flamengo ter ganhado muita coisa nos últimos tempos, e agora está vivendo um ano complicado”, disse Sampaoli.
“Já estava complicado antes da minha chegada. A pressão é muito grande. Então, há nervosismo. Esse nervosismo passa para o jogo, passa para a maneira de resolver uma jogada, há muita tensão. Acho que isso não ajuda”, acrescentou.
O São Paulo também passou por uma mudança de comando, mas o processo foi bem menos acidentado. Dorival chegou em abril uma semana após o anúncio de Sampaoli no Flamengo e conseguiu o que não se viu na Gávea: estabilidade.
Essa diferença foi transferida para o campo, o que ficou evidente na primeira partida da decisão. A equipe tricolor executou um plano de jogo claro e se impôs sobre um adversário desorganizado, sem um padrão claro, fruto de mudanças constantes na escalação.
É bem provável que Júnior mantenha a escalação que cumpriu seu papel no Maracanã. Já Sampaoli conta com a imprevisibilidade de seu Flamengo para virar uma final que pende para o outro lado. É quase impossível prever a escalação. Que pode ter a volta do frequentemente lesionado Arrascaeta.
Por Marcos Guedes, Folhapress.