Treinos solitários, reza forte e sonhos ninja

Beto Noval/COB
Beto Noval/COB

Promessa sul-mato-grossense batalha pelo sucesso no taekwondo

A paixão à primeira vista de Kaiky Gabriel Caetano pelo taekwondo, em 2013, foi um estalo. Para um menino de sete anos, criado na pequena Anaurilândia, município de 7.653 habitantes no Mato Grosso do Sul, aquela arte marcial que reunia rápidos e intensos golpes de ataque e defesa com pés e mãos era a chave para a realização de um sonho de criança: se tornar um ninja.

O garoto, hoje com 17 anos, relembra com orgulho da persistência de não abandonar o esporte em meio aos desafios que enfrentou até chegar aos Jogos da Juventude Ribeirão Preto 2023. No último domingo (3), ele conquistou a medalha de bronze na categoria até 73 kg da modalidade, no ginásio Estação Cidadania, e comemorou a oportunidade de competir contra os melhores do país em sua idade.

“Eu só queria ser um ninja. Chegar lá, chutar e lutar. Mas entendi que taekwondo não é assim. É preciso ter calma e trabalhar passo a passo. Treinei sozinho, me dediquei e até pensei em desistir, mas meus pais não deixaram. Ainda bem! Eu teria deixado de viver coisas incríveis como estar aqui, hoje”, disse Kaiky, com um bonito sorriso no rosto, carregado de gratidão pela virada que teve em sua vida, este ano.

Em janeiro, o jovem se mudou para Campo Grande na tentativa de se redescobrir no esporte. A frustração era inevitável depois de uma série de resultados negativos. A sensação de que faltava algo para alcançar o sucesso o incomodava, e a gota d’água foi uma derrota na Copa Brasil do ano passado.

 

Rumo à Capital

Foi quando Fábio Costa, técnico da delegação do Mato Grosso do Sul nos Jogos da Juventude Ribeirão Preto 2023 e que já conhecia o atleta das competições estaduais, o aconselhou a deixar o interior rumo à cidade grande. A ideia era treinar intensamente em busca de um salto que há muito tempo o jovem desejava. Seria preciso largar o emprego de garçom, a família, os amigos e trocar de escola, além de arranjar uma moradia.

Determinado, Kaiky mandou mensagem para Luiz Felipe de Almeida Aquino, atleta da categoria até 58 kg que já integra a seleção brasileira e com quem já havia treinado, para saber se poderia ir morar na capital sul-mato-grossense. O colega avisou que só daria uma resposta após a virada de ano. Mas Kaiky teve uma surpresa antes disso.

“Teve uma missa muito importante de Natal lá na igreja, e eu ajudava a fazer lives durante as rezas. Enquanto filmava a cerimônia, rezei e pedi muito a Deus que eu conseguisse ir para Campo Grande realizar o meu sonho. Logo que saí de lá, abri as mensagens do WhatsApp e tinha um áudio do Luiz. Ele falou ‘irmão, deu certo. Pode vir que a gente vai te acolher’. Fiquei muito emocionado”, conta Kaiky, sem esconder as dificuldades de adaptação à cidade grande.

“Tive que aprender a ter controle, calma, postura e a falar como atleta. Minha rotina na cidade pequena era outra. Mas estou muito feliz. Todo dia, aprendo algo novo”, garante o lutador.

 

Cansaço e despesas quase o fazem desistir

O atleta conheceu o esporte na infância, graças à apresentação de uma escolinha recémchegada à Anaurilândia, na época. Era 2013 e a modalidade ainda dava passos para se tornar conhecida pelo Brasil. Curiosamente, ele também acabara de sair de uma missa quando se deparou, pela primeira vez, com a arte marcial. Os pais logo o matricularam e a paixão se intensificou.

O problema é que, quando completou 14 anos, Kaiky começou a ver os amigos deixaram a rotina de treinos, alguns para se dedicar a outros esportes. 

O treinador Rafael, um de seus grandes incentivadores, também precisou interromper as atividades, já que foi eleito vereador em Anaurilândia. A solução passou a ser encarar uma viagem de 2h de carro para treinar em Três Lagoas, onde havia uma associação para a prática do esporte. Ali, Kaiky se empenhou, mas o cansaço e as despesas quase puseram fim ao sonho do garoto.

“Os meus amigos foram saindo do esporte, um atrás do outro. Eu mesmo cheguei a fazer escolinha de futebol, karatê e muay thai, mas não me adaptei.

Então, continuei, mesmo sem eles. Chegou um momento que só tinha eu e uma amiga treinando, mas não tínhamos bons resultados. Até o momento em que ela também saiu e fiquei treinando sozinho”, contou o atleta, grato por cada conquista que o esporte vem proporcionando

“Aprendo a cada derrota. Já dei aulas de taekwondo para crianças pequenas e hoje ajudo a introduzir alunos e alunas, a partir de quatro anos. Se eu puder me formar um dia, treinar e incentivar ainda mais outros talentos, estarei realizado”, afirma Kaiky

 

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