Políticos do ninho tucano afirmam que trata-se de algo isolado
No último 7 de setembro, durante a manifestação do Grito dos Excluídos em Campo Grande, uma confusão entre lideranças do movimento e a Polícia Militar gerou nota de repúdio pelo PT-MS e preocupações quanto à relação política entre o PT e o PSDB, que atualmente são aliados na gestão do governo estadual, sob comando de Eduardo Riedel (PSDB).
A manifestação do Grito dos Excluídos ocorre há 29 anos na Capital e dessa vez foi marcada pelo confronto quando manifestantes, majoritariamente provenientes de movimentos sociais e partidos de esquerda, se depararam com um bloqueio policial no cruzamento das ruas 13 de Maio e avenida Afonso Pena. O grupo se dirigia à Praça Ary Coelho quando se deparou com a barreira policial montada.
O deputado estadual Pedro Kemp, do PT, tentou negociar a liberação da via com os policiais, mas a abordagem resultou em tumulto, empurra-empurra e discussões, culminando com uma mulher derrubada no meio da confusão. O PT-MS emitiu uma nota de repúdio, descrevendo a ação da Polícia Militar como truculenta e alegando que os militares tentaram impedir a passagem pacífica dos manifestantes.
“O PT repudia a ação truculenta de policiais que tentaram conter a manifestação tradicional do Grito dos Excluídos e Excluídas, que acontece todos os anos, após os desfiles de 7 de setembro, em todo o país”, inicia a nota que categoriza a ação como negativa por parte do efetivo policial. “Uma manifestação democrática, pacífica que marca a luta por direitos do povo brasileiro. No ato, realizado nessa manhã (dia 7), em Campo Grande, policiais agiram de maneira violenta com o deputado Pedro Kemp, a militante Adriana Quilombola, entre outros manifestantes. O deputado estava mediando um diálogo com a polícia, argumentando a legitimidade do ato, quando foi empurrado”.
Em contrapartida, a Polícia Militar de Mato Grosso do Sul divulgou uma nota oficial, na qual lamentou o incidente e justificou que o cordão de isolamento foi estabelecido na área do palanque das autoridades, com a promessa de que a via seria liberada após a solenidade, permitindo a passagem do grupo.
“A Polícia Militar de Mato Grosso do Sul lamenta o incidente ocorrido, envolvendo o deputado estadual Pedro Kemp, o qual demonstrou desconhecer os procedimentos que estavam em curso e de maneira equivocada tentou transpor o cordão de isolamento, bem como incitou algumas pessoas a realizar tal ato. Esclarecemos que tão logo ocorrera a solenidade de encerramento do desfile houve a liberação da via.
Relação entre PSDB
Em meio à preocupação de que esse incidente pudesse afetar a aliança entre PT e PSDB na gestão estadual, políticos do PSDB demonstraram confiança de que a relação política permanecerá sólida.
O Professor Juari e o vereador Claudinho Serra, ambos membros do ninho tucano, afirmaram que consideram o episódio um evento isolado e não acreditam que haverá impacto duradouro nas relações entre os partidos.
“Foi um caso isolado. Não acredito que isso possa piorar ou melhorar a relação”, disse o Professor Juari.
“Acredito que não interfere, não, penso que foi um fato isolado que não compromete a relação harmônica com a bancada do PT, o respeito pelos seus deputados. Pela nota da PM, foi explicado que era um procedimento padrão da segurança do desfile e foi cumprida”, disse o vereador Claudinho Serra.
A deputada Lia Nogueira (PSDB) disse que as lideranças saberão conversar futuramente. “Na verdade, não estou acompanhando diretamente os fatos. Estou em missão, em Dourados, no auxílio às famílias que perderam tudo durante o temporal que ocorreu nos últimos dias. Mas, acredito que as lideranças dos dois partidos saberão analisar tudo isso e irão chegar a um bom termo.”
Questionados, o vereador Ademir Santana e o deputado estadual Zé Teixeira, também do PSDB, responderam que não estavam no local e por isso não poderiam emitir opiniões.
PT
Por outro lado, os petistas manifestaram indignação com o impedimento de passagem durante a manifestação. O deputado Pedro Kemp emitiu uma nota de repúdio, alegando que o incidente foi uma afronta, uma vez que nos anos anteriores o movimento sempre percorreu o mesmo trajeto, sem incidentes significativos e que o movimento aguardou o encerramento do desfile para passar pela localidade.
Ele disse, ao jornal O Estado, que reconhece que os policiais estavam cumprindo ordens e que vai se manifestar na Tribuna da Assembleia Legislativa. “Sempre aguardamos o final do desfile e as autoridades já estavam descendo do palanque. Foi injustificada aquela barreira, fiquei surpreso negativamente porque nunca havia acontecido isso. Não vou pedir nada contra os policias, porque estavam cumprindo ordens, mas achei a força, a cavalaria usada completamente desproporcional. Vou pedir que o comando da PM e os organizadores do desfile do ano que vem chamem os lideres do Grito para conversar e respeitem a manifestação.”
Sobre a situação política entre o PT e o PSDB, Kemp diz que o Partido dos Trabalhadores deve ficar em alerta, pois está com o governo, mas, de certa forma, esse episódio mostra uma exclusão
“Não diria que chega a estremecer a relação, mas é um alerta. Vou me manifestar nesse sentido porque uma senhora foi jogada ao chão. Vou fazer esse apelo ao Governo do Estado, para que nos próximos anos seja combinada essa relação de respeito.”
O deputado Zeca do PT salientou, ao jornal O Estado, que reprova totalmente a atitude dos militares. “Sempre é extremamente negativo o cerceamento da liberdade das pessoas de manifestar com truculência e violência por parte da PM. O meu posicionamento é claro em que o governador [Eduardo Riedel] não deu ordem para que aquilo fosse feito”, disse Zeca, que também preza pela boa relação institucional entre os partidos.
“É claro que penso que isso não pode violentar a relação institucional que temos. O PT está no governo e é preciso dialogar, para que haja a livre manifestação nas próximas ocasiões. Não podemos aceitar que haja novamente situações como essa e que causem violência.”
Por Rayani Santa Cruz – Jornal O Estado de Mato Grosso do Sul.
Confira mais notícias na edição impressa do Jornal O Estado do MS.
Acesse as redes sociais do O Estado Online no Facebook e Instagram.